sexta-feira, 26 de julho de 2019

Mardilê Friedrich Fabre (Contos Minimalistas)


CASTO AMOR

Inquirida sobre até onde ele avançara, veio a conformada resposta:

- Ele não entende a linguagem do corpo.
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FUGA

Corria sem direção. Parou ofegante. Dúvida. Que caminho tomar? Dobrou a esquina. Uma dor aguda no peito. Escuridão...

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 NOITE DE CHUVA

Chovia. Na rua, poucos ruídos. Na sala, a jovem ouvia distraída o barulho da chuva. Um grito ressoou no ar. Ela correu até a janela. Iluminado pela luz do poste, um corpo numa poça de sangue. Rasgando a noite, sirenes.
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 SUCESSO

Aos 38 anos, levava uma vida de sucesso. Professora. Excelente profissional. Casada. Dois filhos inteligentes. A vida sorria-lhe magnânima. Até o dia em que descobriu estar com um câncer incurável.
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VIAGEM FATAL

Vaticinaram que morreria carbonizado. Por isso, não viajava de avião.
Ia pela estrada, ar condicionado ligado, vidros fechados...
Não ouviu o estrondo do choque do caminhão de combustível desgovernado contra seu carro.
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 RECOMEÇAR

De frente para o mar, sente o vento bater-lhe forte no rosto. Não sabe se o frio é a maresia ou são as lágrimas que escorrem livres.

Sem ninguém vendo-a, é mais fácil deixar a dor fluir.

Tem vontade de gritar. Mas falta-lhe coragem.

Quisera tanto ficar sozinha! Por que não era feliz?

Estivera presa tantos anos! Agora poderia  fazer o que quisesse, como quisesse, quando quisesse. Por que, então, esta inércia? Seria o costume de ter um carcereiro, conduzindo-a como uma marionete?

Precisa retomar a sua vida. Mas como? Não consegue mexer-se. É uma estátua.

De repente, uma mãozinha pega a sua, e ela ouve:

-Vozinha, vem pa drento, tá fio aí foia.

E ela entende por onde e por que haverá de recomeçar.

Fonte:
Recanto das Letras da autora

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