Ao conter minha ousadia
deu-me o destino, severo,
em vez do amor que eu queria,
a saudade... que eu não quero.
Ao disfarçar a paixão,
quando na rua se olharam
bem à luz do lampião,
suas sombras... se abraçaram!
Ao reler: - "Amor... coragem...
é a vida... são contingências"...
eu descobri na mensagem,
teu adeus... nas reticências!
Ao romper os nossos laços
chego à estranha conclusão:
- A saudade não tem braços,
mas aperta o coração!
A tua língua refreia,
porque a calúnia é um defeito
de quem pela vida alheia
não tem o menor respeito!
A vida, má roteirista,
dá-me um papel... não me ensaia
e, se eu tento ser artista,
nega-me o aplauso... e me vaia!
A vida, por brincadeira
ou distração, faz da gente,
velha ponte de madeira
sempre à mercê de uma enchente!
Comparo a um pano rasgado
este amor, ao qual me rendo.
Quando parece acabado,
um de nós… faz um remendo!
Com teus disfarces fracassas
nas juras que eu sei de cor...
e entre nós, quando me abraças,
fica a distância maior!
Deus cria a lua e as estrelas
e uma pergunta o inquieta:
- Quem poderá descrevê-las?
Então, Deus... cria o poeta!
Estuda, criança, aprende,
que um livro sempre faz bem...
e a vida, às vezes, depende
da cultura que se tem.
Eu acendo a vela benta
e, com fé beijo a medalha
mas, quando você me tenta
meu anjo da guarda... falha!
Eu lutei quando quis ter
teu amor... e o consegui...
Depois, eu quis te esquecer
e esse combate... eu perdi.
Foi o segredo a guarida
que o nosso amor protegeu...
e a inconfidência da vida
nos fez Marília e Dirceu!
Hoje eu volto à antiga praça
e a saudade tem tal ânsia
que, em cada estranho que passa,
procuro o amigo de infância.
Meu tempo é o da serenata...
do flerte... da matinê...
da valsa... terno e gravata...
do primeiro amor... você!
Não me zango se ele tarda
ou se o espero e ele não vem.
É que o meu anjo da guarda
deve estar velho... também!
Nesta vida alucinante
e de ilusões passageiras,
às vezes, um breve instante
vale mais que horas inteiras!
"Ontem passou"... ele disse
pedindo, outra vez, perdão.
Eu não sei se fiz tolice
mas, desta vez, disse: - Não!
O seu olhar tem tal brilho
que chega à sublimidade...
Toda mãe, que espera um filho,
tem um "quê" de majestade!
Passam sorrindo ao meu lado
avó e neto... amor puro!
Nela, revivo o passado...
Nele, adivinho o futuro.
Por mais que o mundo me agrida,
minha fé não arrefece...
Mesmo no inverno da vida,
Deus manda o sol que me aquece!
Quando desfazes a trança,
jogando longe teus grampos,
tu me recordas a dança
do trigo dourando os campos!
Quase ao fim da caminhada,
meu coração não tem jeito!...
Sempre um toque de alvorada
acorda o sonho… em meu peito!
Que eu não me esqueça, jamais,
que a moral é a diretriz
e ter ética é bem mais
do que a gente pensa e diz!
Se a cruz é leve ou pesada,
para quem crê, não importa!...
Deus nos dá, para a jornada
o peso que a fé suporta.
Se de amor o velho fala,
corre o seu pranto… e, de manso,
a saudade, calma, embala
a cadeira de balanço.
Sei que este amor é veneno
do qual bebo... e o que é pior:
- Desejo, quanto mais peno,
sempre uma dose maior!
Se, um dia, o amor acabar
e as juras você esquecer,
basta um recado no olhar
e eu saberei entender.
Sorrindo, tento esconder
toda a mágoa que me inspiras.
Finges me amar... finjo crer...
Nós somos duas mentiras!
Tanto amor na despedida!!!
Voltas... E eu não sinto nada...
Pior que o adeus, na partida,
foi nosso adeus, na chegada!
"Um doutor", o pai almeja...
e a mãe, a sorrir, lhe diz
que amor e paz lhe deseja...
Só quer que seja... feliz!
Fonte:
Livro cedido pela trovadora
Therezinha Dieguez Brisolla. A procura de estrelas. Porto Alegre/RS: Odisseia, 2014.
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