quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Tiago (Poemas Escolhidos)


SE UM DIA…

Se um dia...
a nuvem que chora
ficasse, não fosse embora,
e chorasse sempre assim,
eu bebia as suas águas
pra lavar todas as mágoas
que trago dentro de mim.

Se um dia…
a estrela cadente
que risca o céu, num repente,
caísse, do seu destroço
eu formaria fiadas
dessas contas prateadas,
pra te enfeitar o pescoço.

Se um dia...
beber licor
ao beijar, com muito amor,
os teus lábios sensuais,
serei mais que viciado,
um eterno embriagado
lutando sempre por mais.

Se um dia...
ao nascer do sol,
não ouvir o rouxinol
nos seus gorjeios de tenor,
rogo à brisa, peço ao mar,
que vão, junto a ti, cantar
meus versos feitos de amor.

Se um dia...
num ar vaidoso,
quiseres o corpo formoso
vestido pra me agradar,
pedirei à natureza
só tecidos de beleza
com fiapos de luar.

Se um dia...
já não puder
dizer tudo o que souber
deste grande amor por ti,
sentirás meu coração
a pulsar na tua mão,
estou vivo, mas já morri.

Se um dia...
a brisa viesse
dizer-me que, se eu quisesse
morrer, bastava um desejo,
num gesto desesperado,
morreria de bom grado
pelo sabor dum teu beijo.

Se um dia...
a morte chegasse
e, pra sempre, te levasse,
meu amor, não choraria.
Por te amar como a ninguém,
eu morreria também
pra te fazer companhia.

UM INSTANTE DE AMOR

Foi apenas num momento, num instante,
que o amor surgiu entre nós dois,
tu me olhaste com desvelo,
e eu depois,
senti-me tão feliz, tão radiante,
que acariciei o teu cabelo.
Quando, por fim,
te aninhaste no meu peito,
bem juntinha de mim,
senti-me comovido e satisfeito
por sentir todo o teu calor.
E os teus olhos, tão embaciados,
estavam, de tal forma, enamorados,
que só me falavam de amor,
com a suave luz duma sinceridade pura.
Eu sei que tu me queres como eu te quero,
que me olhas sempre confiante,
sem cansaço, sem fadiga,
com o mesmo carinho e com ternura
que me mostraste naquele instante,
minha doce cadela! Minha amiga!

LUAR

O sol já lá vai, chega o luar,
Dá boa noite, ajeita os prateados,
Promete cobertura aos namorados
Com sombras oportunas p’ra os tapar

De olhos profanos que andem a espreitar
Esses incautos pares, tão enlaçados,
Que, sem pudor, se beijam, descansados,
Confiantes na proteção lunar.

E a lua vai rodando em toda a terra,
Corre pelos vales, trepa à serra.
Na sua eterna ronda de vigia.

E, enquanto vai sorrindo, de prazer,
Ela aguarda, com calma, o amanhecer,
Para entregar, ao sol, a poesia.

DOCE VISÃO

Vejo o mar, ao longe, calmo e tão lindo
Como azul de arco-íris na tempestade,
Mar que é tão grande, um oceano infindo
Que leva e traz mensagens de saudade.

Beija as praias que as águas vão cobrindo
De ondas mansas a espumar vaidade,
Deste meu país onde o sol vai sorrindo
Em todas as manhãs de claridade.

As areias coloridas de dourados
Ocultam, de olhares, os namorados
Que ali se refugiam de quem passa,

Por isso, não me canso da cambraia
Das ondas que este mar rola na praia,
Este mar, este mar que nos abraça.

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