terça-feira, 10 de setembro de 2019

Lairton Trovão de Andrade (Panaceia de Trovas) 5


A minha infância se foi…
Eu tinha sob meu jugo
um mi carro-de-boi
com sete bois de sabugo.

Da mulher, ele é idólatra
com copo cheio na mão;
do coração do alcoólatra,
verte álcool com paixão.

Ele não dançou com ela
na boa festa da uva,
dançou com o magricela
e surrado guarda-chuva.

Era o mais perfeito mundo,
feito só de regalia;
alicerce não profundo
tinha o Reino da Utopia.

Futebol, coisa fanática!
– É cabeça quente em fogo:
Deixa a gente em vida apática,
quando o time perde o jogo.

Há muita gente sem juízo
e com vida estabanada;
em tudo, colhe prejuízo
numa “canoa furada”.

Há político matreiro,
malabarista, eu percebo,
co’a mãozinha, sorrateiro,
sobe até em pau-de-sebo.

Há um tal político aí
que diz: “vocês são fregueses!”
E mente mais que o saci.
pois, já mentiu cem mil vezes!

Namorando estava o gago…
pra ela, dizia assim:
“– Vo-você…nun…nun-ca go…
nun-ca go… gos-tou de mim!”

No bar de Dona Dolores,
com sorrisos amistosos,
brindavam os pescadores
e mais outros mentirosos.

O devoto frei Gonçalo,
por entre vales e morros,
dá atenção para cavalos
e “bom-dia pra cachorros.”

O ovo nasce da galinha,
a galinha nasce do ovo;
círculo sem fim se alinha
se eu disser isso de novo.

O político venal
será senhor cidadão
quando o gato, com “miau-miau”,
duplar com “au-au” do cão.

O que todo mundo vê
geralmente, não vê o corno;
exibe sempre em fuzuê,
na cabeça, seu adorno.

O verde lembra a esperança,
o roxo, a dor – destempero,
o branco, o puro – a criança…
“Que cor terá o desespero?!”

– “Portuga de Santarém,
teu filho morre queimado
e tua esposa também”!
– “Mas raios!… Nem sou casado!?”

– Procuro urgente o Leitão.
Diz o Porquinho ligeiro;
– Ele não veio à reunião,
procure-o noutro “chiqueiro”!

Quando a Lucimira passa,
com todo aquele corpão,
sacode, ao mundo, a carcaça
e o morto sai do caixão.

– Quero falar com “Porquinho”
Nervoso disse o Davi.
– “Ele está no seu Martinho,
somente a “porca” está aqui!”

Santo Anjo do Senhor,
anjo amigo que me vem,
proteja-me, com humor,
nesta minha vida. Amém!

Saqueou-se a Cruz do escultor
Aleijadinho – pô, meu! -
– E o que me diz, chefe-mor?!
– Aleijadinho… sou eu!

Se a metade desta vida
eu perdi pra ter meu bem,
pois, que vá, minha querida,
outra metade também.

Sei que lhe devo cinquenta,
não o porei em apuro;
quero mais cento e noventa
pra que sonhe com bom juro.

Vem o leiteiro atrevido:
– “Maricota, quer um beijo?”
– “O que diz?” Grita o marido.
– “Perguntei…se quer… um queijo…”

Virou cinzas a floresta,
vejo aqui só geringonça…
dos animais, pouco resta,
além do amigo-da-onça.

Você não é jararaca,
mas apenas um safado;
– é político baitaca,
cara-de-pau… descarado.

Fonte:
Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. 2016.

Nenhum comentário: