quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Thereza Myrthes Mazza Masiero (Jardim de Trovas)


A caridade é um dom
cantando dentro de nós;
na vida, só quem é bom
consegue ouvir sua voz!

A esperança é luz tão cálida,
razão de nosso viver;
recém-nascida crisálida,
enche-nos de alvorecer!...

A juventude é um culto
á beleza e á esperança;
é ser a metade adulto,
outra metade, criança!

Amar é luz, sinfonia,
madrugada a alvorecer;
jatos de sol de alegria,
nossa razão de viver!

Amar... emoção sublime!
Amam-se cristãos e ateus;
quem ama e o amor exprime
fica mais perto de Deus!…

Amizade é sol que aquece,
aonde quer que se vá;
nem sempre o sol aparece,
mas se sabe que está lá!

Aos teus rogos não me rendo;
dizes mentiras aos quilos...
Fingindo, vives vertendo
lágrimas de crocodilos!

A paz é sonho dourado
nas asas do pensamento,
levando de cada lado
fé e amor em voo lento!

Aprendi no dia a dia
que as trovas são obras-primas;
são a essência da poesia
latejando em quatro rimas!

A propensão à violência
assanha o ódio na Terra;
espanta do amor, a essência
e acende o pavio da guerra!

Araras azuis, voando,
vão singrando a imensidão;
parecem fugir em bando
da ameaça da extinção!…

As trovas têm tanta luz
que já são o suficiente;
acendem o que traduz
toda a luz que está na gente!

A trova é real presente
quando se gosta de alguém;
a gente sente o que sente
e a trova vai muito além…

A trova é Santo Remédio,
cura-nos de tantas dores...
Livra-nos do insosso tédio,
cria laços de mil cores!

Carrego em minha bagagem
bela herança de meus pais:
fé, esperança e coragem
e a ânsia de saber mais!

Chegada, rósea alvorada,
fímbria orgia de emoções!
É um grito da madrugada
que arrebata os corações!

Depois de uma tempestade
e a paz volta a florescer,
eu sinto a felicidade
de um cego que volta a ver.

Descobri no dia a dia
que as trovas são obras primas;
são a essência da poesia
latejando em quatro rimas.

Descobriu que foi traído,
não surtou, nem rangeu dente;
mas, vingou-se do atrevido:
-deu-lhe a mulher de presente!...

Deus, com mágico pincel,
fez o mundo tão bonito;
pôs o arco-íris no céu,
a paz e a luz no infinito!...

Dor na “cacunda”, eu escuto,
nas “juntas”, não tem saída...
o velho é mesmo um produto
com validade vencida!

Ela enche a minha bola
e depois me apaga a chama:
se, em vez de uma camisola,
vem pra cama de pijama!

Escrevo trovas porque
não sei dizer cara a cara,
que quando vejo você
o meu coração dispara!

Eu me arrasto a passos lentos...
indo atrás desta paixão;
monto nas asas dos ventos,
sem dar ouvido à razão!

Eu sempre fiz ”macaquice”,
mas “mico” não pago não.
Existe coisa mais triste
que dar “topada” no chão?

Franqueza, um belo costume,
de quem é franco e leal,
é faca que tem dois gumes,
pode, às vezes, ser fatal!

Fresca e rósea madrugada
canta na minha janela...
e a banda da passarada
vem fazer coro com ela!

Mãos que sustentam o mundo,
que plantam paz, fé e amor...
que espalham saber fecundo,
são as mãos do professor!

Mesmo que não sejas meu,
vives guardado em meu sonho;
meu coração te escondeu
nos versos que hoje componho!

Meu lar está sempre em pé,
resiste ao tempo e ao vento;
nele, a fogueira da fé
é acesa a todo o momento!

Meu querido e bom amigo,
entender ninguém consegue,
nosso amor é tão antigo
até que o Diabo o carregue!...

Meus irmãos, os trovadores,
irão erguer mil troféus,
formando um buquê de flores
a LUIZ OTÁVIO nos céus!

Minha MÃE era uma santa,
a mais bela estrela guia;
eu sinto um nó na garganta
por tê-la perdido um dia!

Minha paixão malograda,
sufocada entre segredos,
é como nau destroçada
batendo contra os rochedos!

Muita gente desvalida,
que labuta como mouro,
vive a escutar na vida
que o trabalho vale ouro.

Muito tímido e baixinho,
confessa o marido ao Padre:
-Eu me casei com bom vinho
que “agora” virou vinagre!

Mulher e mãe... Que mistura!
Cuidados mil pelos seus;
zelo, amor, força, ternura,
obra perfeita de Deus!

Na família é que se aprende
o amor, honradez, verdade;
e desse tripé depende
toda a paz da humanidade!

Nas labutas costumeiras
deste mundo sem poesia,
as trovas são companheiras,
nosso pão de cada dia!

Na voz do povo , em geral,
algo tem de verdadeiro;
se o feitiço é para o mal,
"vira contra o feiticeiro!"

Nesta vida, a mocidade
tal qual roseiras viçosas,
dá botões na flor da idade
antes de encher-se de rosas!

No banheiro do boteco,
o cartaz era um “revanche”:
-Quem desentope esse “treco”
é o mesmo que faz seu lanche!

Nos invernos desta vida
viramos todos “mendigos”;
sem atenção, sem guarida,
órfãos de parente e amigos!...

Nossas mais belas cantigas
girando em rodas cantadas,
são lembranças tão antigas,
que nos enchem de alvoradas!

Nossa vida é um carnaval!
Somos todos foliões
dos blocos do bem, do mal,
perdidos nas multidões!

O clarinete assoprou
com tal força e envergadura,
que para longe pulou
saltitante- a dentadura!...

O sábio é um degustador,
degusta a sabedoria,
“carpe diem” com fervor,
bebe a luz que ele irradia.

O valor de uma amizade
é maior do que supomos;
um amigo de verdade
nos faz melhor do que somos!

Poeta não é aquele
que sabe escandir um verso;
poeta traz dentro dele
mil vibrações do universo!

Quando a cabrocha aparece
descendo o morro sambando,
o povaréu enlouquece,
cai no samba rebolando!

Quando assisto à Escolinha
do bom Professor Raimundo,
volto a ser professorinha
querendo salvar o mundo!

Que haverá de mais valor
num mundo de corre, corre?
Amigo é o único amor
que na vida nunca morre!...

Quem ensinou o passarinho
tecer, com arte e primor,
o ninho do filhotinho
com mil raminhos de amor?

Quem impede com carinho
que se parta um coração,
planta flores no caminho,
não terá vivido em vão!...

Quem na vida tem um sonho
só se veste de alvoradas...
Mesmo entre brumas, tristonho,
vê rútilas madrugadas!

Quem quiser ser bem lembrado,
guarde bem esta verdade:
-tem que andar sempre calçado
com sandálias da humildade!

Quem semeia entendimento,
jamais colhe tempestade,
esparrama aos quatro ventos
flores de fraternidade.

Que surrealismo completo
vender "sorte" em loteria,
quem não tem pão, não tem teto...
Que dolorosa ironia!

Saudade é como cebola
que se descasca a chorar.
Mas toda mulher que é tola,
vive a cebola a cortar.

Se a vida nos fecha as portas,
Deus nos abre ao menos uma;
e as esperanças já mortas
ressurgem por entre as brumas!

Se após longa tempestade
a paz volta a florescer,
eu sinto a felicidade
de um cego que volta a ver!

Seja bem-aventurado
o mágico agricultor;
água a esperança e o arado
é arma que espalha o amor!

Senhor, que quadro mais lindo
o arco-íris sobre o mar...;
parece que é Deus sorrindo
querendo o mundo abraçar!

Toda a noite quando saio,
vendo o céu luminescente
sinto a paz, que é como um raio
de luar, dentro da gente!

Toda emoção sufocada
que se vive a camuflar,
é tal qual bomba já armada,
prontinha para estourar!

Todo o progresso, hoje em dia,
entra por todas as frestas...
Destrói a paz, a poesia,
mata o canto das florestas!

Todos sabem que a mentira
pode enganar muita gente;
vira e mexe, mexe e vira,
ela mesma se desmente!

Um dia paguei um “mico”,
escorreguei no salão.
Não sei se encolho ou se fico
estatelada no chão.

Vendo este mundo violento,
irmão a matar o irmão,
pergunto: - Será que há tempo
de Deus nos dar seu perdão?...
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Fontes:
José Feldman (org.) Florilégio de Trovas. Maringá/PR, agosto de 2017.

José Feldman (org.) O Encanto das Trovas. Seção UBT São José dos Campos. Tomo IX. Vol.1. Marijngá/PR, 2017.

União Brasileira de Trovadores Porto Alegre - RS. Trovas de Myrthes Mazza Masiero e Lilinha Fernandes. Coleção Terra e Céu vol. LXXII. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2016.

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