A abelha sugando a flor,
tem por fiel compromisso,
por mais delícia de amor
na doçura do cortiço!
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A cor rubra, enfraquecida,
que ao por do sol transparece,
tem a dor da despedida
e a ternura de uma prece!
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A dor da ausência, em verdade,
é uma rica companheira...
Quem beija e abraça a saudade,
tem fortuna a vida inteira!
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A mãe e o bebê sofrendo,
eu vi com desconfiança...
Uma esperança morrendo
nos braços de outra esperança!
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A vela triste, enxugando
do velho nauta, os seus ais...
É uma saudade chorando
sem saber se volta ao cais!
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Carrilhão - por que chorais?
vosso gemer, diz quem sois!
E. essa dor de vossos ais
é a mesma dor de nós dois!
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Criança de vida dura,
pobre, faminta e sem lar...
Quantas lições de ternura
na luz tosca deste olhar!!!
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Das bravuras do meu chão,
herdei por tudo que fiz…
Esse velho corpo são
coberto de cicatriz!
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Desafio do meu sonho
desde do tempo de criança,
é não ver num lar tristonho
faltar o pão da esperança!
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Em tudo que a gente faz,
há uma pitada de amor;
desse amor que a gente traz
no coração trovador!
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Fiz quase tudo na vida,
só lamento o que não fiz.
Deus vendo a missão cumprida
me fez muito mais feliz!
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Lágrima, orvalho que cai
dos olhos, da noite calma,
que aos poucos, regando vai,
a solidão de minha alma!
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Mãe!... É o mais lindo estribilho
da canção que Deus modela,
e o que ela faz pelo filho,
filho nenhum faz por ela!
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Não sei se faltou decoro
na voz do meu acalanto...
Só quis consolar teu choro,
mas fiz foi dobrar teu pranto!
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No entardecer já sem vida,
Deus deixa no entardecer,
um verso de despedida
antes do sol se esconder!
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No outono triste da idade,
o velho andarilho chora
e anda abraçado á saudade
do filho que foi embora!
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Nós somos dois passarinhos,
sem agasalhos, sem teto,
mas o chão de nossos ninhos
é atapetado de afeto!
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O mar gemendo se alteia,
e aos poucos, por entre as brumas...
derrama espumas na areia
e adormece entre as espumas!
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Penso que a gota de orvalho
é uma lágrima de amor,
dos olhos de cada galho
que vê brotar uma flor!
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Perdoar, deixar de lado,
é tudo que me convém;
que o perdão, lava o pecado
de alma que perdoa alguém!
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São tantas as consequências
ante o amor que se desfaz...
Que há medos temendo ausências
e há gritos pedindo paz!
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Se alguém, ingrato e cruel,
me der amargo licor,
eu lhe dou favos de mel
cristalizados de amor!
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Se Deus fez um diadema
do sol, e essa luz nos deu...
Da lua, fez o poema
mais lindo que Ele escreveu!
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Se o amor tem sabor de mel,
prove da ausência o sabor,
que a ausência transforma em fel
os cristais doces do amor!
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Sou tão pequeno, meu Deus,
mas cresço um pouco, ó Senhor...
ante o amor dos olhos teus
e os teus exemplos de amor!
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Um lenço, entre os lenços seus,
no cais, me acena tristonho!...
Lembra um sonho dando adeus
ao silêncio de outro sonho!
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Um vento brando, mansinho,
toda tarde, ao fim do dia,
discreto, oscula o meu ninho,
com beijos de nostalgia!
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Vai-se o sol! E a tarde, é aquela,
instante em que mais medito,
tentando pintar a tela
da solidão do infinito!
Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018.
Livro gentilmente enviado pelo autor.
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