Havia numa terra de Minas dois músicos, afamados clarinetistas. Ninguém podia com eles. Por isso mesmo, eram rivais e andavam sempre de rusgas. Pertenciam a bandas diferentes e seus admiradores constituíam-se em partidos.
Certa vez encontraram-se na rua e puseram-se a conversar. É que de mal, de mal mesmo, nunca chegaram a ficar. Sustentavam sempre boa política.
Um deles gabou-se:
— Há poucos dias, toquei numa festa do Senhor dos Passos em certa cidade e quando saiu a procissão a banda tocava um dobrado tão lindo que meti a clarineta na boca, seu compadre, com um gosto... Todo mundo me admirava e já nenhum outro instrumento sobressaía. Dali a pouco, viu-se o Senhor dos Passos mover-se no andor e como quis subir ao céu, embalado pelo sons que saiam da minha clarineta. Os padres, as irmandades, o povo, tudo estava voltado para mim e de boca aberta, diante daquele milagre. Foi preciso parar o dobrado para que a procissão continuasse a marcha e o Senhor dos Passos ficasse quieto no andor!
O outro músico ouviu com toda paciência a maranha do rival. Depois, pegando a palavra, saiu-se com esta:
— Isso é nada, compadre, em comparação com o que se deu comigo na mesma cidade de que você falou. Fui tocar no enterro de um graúdo. Gente que não acabava mais. Começamos uma marcha fúnebre. Minha clarineta estava mesmo manhosa; chorava que dava gosto. O povo ficou apatetado, olhando para mim, como se a minha música fosse coisa nunca ouvida, vinda lá do céu. Dali a pouco, não havia quem não chorasse, gabando a minha clarineta, dizendo que não havia coisa igual em toda a redondeza. Eu continuei, modestamente e, quando ia no melhor da festa, o caixão começou a mover-se, a tampa abriu-se e, ao som do instrumento, o defunto foi-se levantando até que ficou de pé. E, voltando-se para mim, gritou entusiasmado:
- Vá tocar clarineta... nos quintos dos infernos!
Fonte:
Anísio Mello (org.). Estórias e Lendas de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. São Paulo. Ed. Iracema.
Certa vez encontraram-se na rua e puseram-se a conversar. É que de mal, de mal mesmo, nunca chegaram a ficar. Sustentavam sempre boa política.
Um deles gabou-se:
— Há poucos dias, toquei numa festa do Senhor dos Passos em certa cidade e quando saiu a procissão a banda tocava um dobrado tão lindo que meti a clarineta na boca, seu compadre, com um gosto... Todo mundo me admirava e já nenhum outro instrumento sobressaía. Dali a pouco, viu-se o Senhor dos Passos mover-se no andor e como quis subir ao céu, embalado pelo sons que saiam da minha clarineta. Os padres, as irmandades, o povo, tudo estava voltado para mim e de boca aberta, diante daquele milagre. Foi preciso parar o dobrado para que a procissão continuasse a marcha e o Senhor dos Passos ficasse quieto no andor!
O outro músico ouviu com toda paciência a maranha do rival. Depois, pegando a palavra, saiu-se com esta:
— Isso é nada, compadre, em comparação com o que se deu comigo na mesma cidade de que você falou. Fui tocar no enterro de um graúdo. Gente que não acabava mais. Começamos uma marcha fúnebre. Minha clarineta estava mesmo manhosa; chorava que dava gosto. O povo ficou apatetado, olhando para mim, como se a minha música fosse coisa nunca ouvida, vinda lá do céu. Dali a pouco, não havia quem não chorasse, gabando a minha clarineta, dizendo que não havia coisa igual em toda a redondeza. Eu continuei, modestamente e, quando ia no melhor da festa, o caixão começou a mover-se, a tampa abriu-se e, ao som do instrumento, o defunto foi-se levantando até que ficou de pé. E, voltando-se para mim, gritou entusiasmado:
- Vá tocar clarineta... nos quintos dos infernos!
Fonte:
Anísio Mello (org.). Estórias e Lendas de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. São Paulo. Ed. Iracema.
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