domingo, 3 de maio de 2020

Rita Mourão (Poemas Escolhidos)


CONCEITOS

Bem-aventurado o homem
que  caminha amealhando  sonhos
e bendizendo amanheceres.
Benditos são  aqueles que promovem a paz
e reconhecem a igualdade de todos os SERES!
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CULTIVO


No meu caminho tinha uma pedra,
no  meu caminho tinha um sonho.
Do meu caminho quebrei a pedra,
no  meu caminho fiz um jardim.
Dei corda ao sonho e plantei rosas, plantei jasmins.
Hoje o perfume de cada dia atrai insetos e passarinhos
que  na zoeira dos seus  deveres
tecem  seus  ninhos, cumprem seus lemas.
Do meu caminho quebrei a pedra,
do meu caminho fiz um poema.
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O POETA E A POESIA


Mais nua do que Eva lancei-me à vida.
Vesti-me de palavras, da leitura do  mundo
e  me fiz poeta.
A poesia não pode ser derrotada.
Foi ela quem cantou  a mitologia Grega,
as  liturgias, os salmos e o culto maior a Deus.
É através dela que o poeta  abre  a cancela dos sentimentos,
toca  suas feridas, macera suas dores
e transforma suas lágrimas em versos.
Foi o encanto da poesia que deu ritmo ao universo.
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POR QUE ESCREVO


Escrevo porque a arte define o amor,
escrevo   porque  a poesia me completa.
Poetar é minha oração diária,
se  não escrevo minha alma dói
e  a dor da alma  asfixia.
Na  poesia exercito os meus sentimentos
e faço de cada momento o registro das minhas metas
sem  que eu me sinta exposta.
A vida me consome, quero me  definir
em  palavras, as palavras me editam.
Em meus poemas, me desnudo, me  desbravo
e sem medo deixo fluir meus segredos,
desvarios  de um poeta.
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VERSOS (DI) VERSOS


Foi a ti, que entreguei os meus desertos,
 despi   minha alma  e deixei  que me   habitasses.
Foi para ti que desfiei palavras, teci  sonhos
e me fiz poeta.
Quero beber da tua fonte e me aportar em tuas margens.
Nos teus céus me recolherei como um poente
que  se entrega  aos braços do universo.
Foi para ti que aprendi a fazer versos!
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ARIDEZ


Emprenhada de ilusão vaguei pelo imenso
descampado  das  promessas.
Não houve parto, houve partida.
Caminho e em meu corpo se enrosca
um cheiro de folhas maceradas.
Ou de um vinho, que já deixou de ser generosa oferta.
Desiludida, não busco mais amor,
apenas  me alimento de metáforas.
Sou a anáfora dos meus desertos íntimos,
um  cacto à espera do milagre da chuva.
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CONFISSÃO


Meu corpo se propôs a ser barco
para  navegar  os teus oceanos,
dominar  tuas  enseadas e com  os fios dos meus sonhos,
tecer  uma  rede para  te prender a  mim.
No sem fim dos teus segredos,
sem   medo  quero  ancorar  o meu barco, farto de emoções.
Na concha das tuas curvas saciarei minha sede,
secura  de esperas seculares.
E depois de ti não navegarei outros mares.
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METAMORFOSE

Antes eu sofria de árvore
e cantava o canto delas.
Acompanhava suas floradas,
subia  em seus troncos,
comia  cajus,  pitangas vermelhas
e  me via no espelho do rio.
O rio ladeava, eu ladeava com  ele
pisando  musgos, barrancas encharcadas,
buscando  atalhos.
Hoje sou pedra em lapidação
e sofro de cascalho.

Fonte:
Versos (Di) Versos. Disponível no site de Rita Mourão.
https://versosderita.weebly.com/versos-diversos.html

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