terça-feira, 26 de maio de 2020

Nilton da Costa Teixeira (Os Sacis)


Os trilhos das estradas onde ainda hoje correm remanescentes dos trens de ferro das Cias. Mojiana e São Paulo e Minas estão sendo retirados e transferência de todo o acervo dessas cias. passando as suas estações a funcionarem no bairro do Tanquinho, local onde já se inicia o movimento de trens na nova estação ferroviária. Ambas as estações do centro estão praticamente desertas e os leitos das mesmas que se localizam na parte central, acham-se abandonados e as partes mais longínquas despovoadas e tristes... Algumas taperas já se desmantelando moldam o correr do caminho e dão ao cenário um aspecto lúgubre... Várias cruzes lúgubres plantadas aqui e ali testemunham vinganças que existiam em épocas já perdidas no tempo. Os caminhos íngremes, sinuosos e cobertos de matos, são agora, segundo a crendice popular, palcos de habitações de assombrações e sacis de risos convulsos e escaninhos e de assobios estridentes e profundos. Nesse local também existem almas penadas de choros e lamentos dolentes que causam estranhas sensações assustando o caminhante despreocupado que passa em horas tardias e mortas...

No caminho sinuoso e em triste escuridão,
Há sombras que sutis se emergem e amedrontam,
E o caminhante, indo em tristonha solidão,
Vê perspectivas más que sempre lhe despontam...

Esses caminhos trens de ferro transitam,
E agora o caminhante aí, noites escuras,
Vê sempre esgueirar- entre os vagões que ficaram
Um negrinho a saltar e fazer diabruras.

As cambalhotas, sobre uma perna, fugaz,
Assusta o caminhante e segue em disparada,
Pulando a gargalhar satânico e mordaz,
Deixando quem o vê estático na estrada...

Assobios toda a noite se sucedem,
E, ruidosamente, há alguém que sempre ri,
Enquanto vozes já exaltadas perseguem
quem á noite tiver que transitar aí.

Em grande vozerio e aos gritos de terror,
As chusmas de sacis, em um vaivém constante,
Produzem algazarra e fazem tal clamor
Que acabam por prostrar o pobre viandante.

Fonte:
Nilton da Costa Teixeira. Versos a Ribeirão Preto, 1970.
Enviado por Nilton Manoel Teixeira

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