O enredo em si é o mais trivial possível, igual a seu protagonista: um alfinete foi comprado por uma mucama, por acaso, é ele quem prende uma rosa no vestido de uma moça e, quando está com o futuro noivo, ele é descartado. Mas os artifícios encontrados por Machado para singularizar essa história são de vária ordem.
Inicialmente deve-se observar o modo da sequência narrativa. A primeira frase do conto é a última, dando um tom cíclico, ou seja, o final já é conhecido logo no início (Algo parecido acontece nos inícios de “A cartomante” e de “A causa secreta”). E na sequência, no método machadiano da digressão e conversa com o leitor, o alfinete pede perdão pela sua tentativa de escrita épica e, agora que tem a atenção do leitor, irá contar sua história.
É pela perspectiva do narrador-protagonista que o enredo segue. E o fato de ser um alfinete (tão comum), mas ter ares grandiosos, faz com que se construa as peripécias todas. Começa com um suspiro por ser o alfinete de uma mucama (“Que destino!”), embora reconheça sua sorte de poder ouvir as conversas das moças da casa (“não era um destino principesco, mas também não era um destino ignóbil”). Dessa monotonia inicial, eis que se anuncia a sua aventura, que aos poucos o narrador vai tecendo – apesar de alfinetes não tecerem…
O foco em Clarinha, ao mesmo tempo que tem a função de criar o conflito do conto vai mostrando as trivialidades de uma família da época e dos bailes da corte dos finais do século XIX. Além disso, a relação das moças com Felicidade (com a pontada de ironia que há no nome da mucama) também traça um breve instantâneo da estrutura familiar durante o Império.
E então as duas histórias se unem, quando Felicidade dá o alfinete para prender a rosa. “Um era eu”. Comparando-se a Napoleão Bonaparte, mostra-se como ele se sente subir na vida, indo de um “lenço pobre de uma pobre mucama” até o baile, com todo seu luxo e esplendor, e que ele considerava o “seu lugar”.
Mas a roda da fortuna atinge todos os seres, mesmo os alfinetes, de modo que no clímax do conto, no encontro e promessa de noivado que o Dr. Florêncio dá a Clarinha (interessante o fato do nome da moça encontrar-se no diminutivo, para retratar a familiaridade, ao passo que o noivo possui o status de um título de doutor), com as batidas do coração tão fortes, ocorre a quebra de expectativas e o alfinete é jogado fora e cai no chapéu de um homem qualquer que passava.
Surge então, como encerramento, um segundo sentido para essa “História comum”. Não apenas por tratar-se de um objeto comum, mas também por ser a mesma história que tantas vezes se repete, em tantos contextos diferentes: quem se vê, de repente, cercado de luxo e riquezas, pode perder a tudo de maneira igualmente rápida. E tanto a subida quanto a queda não ocorrem, necessariamente por mérito ou erro próprio. Às vezes são só joguetes que outras mãos levam, põem e atiram fora…
E pronto!
Fonte:
http://www.umprofessorle.com.br/2018/12/20/historia-comum/
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