Esse rei tinha um belíssimo cavalo branco. E o prezava mais que a todas as riquezas que possuía. Gostava tanto do animal, que anunciou, que seria capaz de mandar para a forca o homem que lhe trouxesse a notícia mais triste do mundo. E quando lhe perguntaram que notícia seria essa, o rei respondeu sem hesitação:
— A morte do meu cavalo, oras. O que mais poderia ser?
Algum tempo depois, um soldado andaluz estava cuidando do cavalo, como fazia todas as manhãs. De repente, o animal se assustou. Relinchando, deu um coice no ar com tanta força, que escorregou e quebrou uma pata. Sem outra alternativa, o soldado teve de sacrificá-lo ali mesmo. Depois, começou a tremer de medo, pois conhecia muito bem a ameaça do rei. E não duvidava que ele fosse capaz de mandar enforcá-lo.
Apavorado, o soldado chegou a molhar a camisa, de tanto que transpirava e tremia. O galego, que naquele momento entrava na cocheira, deparou-se com um triste quadro: o cavalo sem vida e o soldado pálido como um fantasma, a ponto de sofrer um ataque e cair ali mesmo, ao lado do animal.
— O que aconteceu? — perguntou o galego.
O soldado contou, mas sua voz soava tão trêmula, que o galego o interrompeu:
– Espere um. pouco enquanto vou buscar um copo de água. Você precisa se acalmar, homem.
O galego voltou rapidamente;
– Pronto, aqui está. Trate de beber a água em pequenos goles e tome cuidado para não se afogar.
O soldado obedeceu, E com um olhar de gratidão, devolveu o copo ao galego:
— Obrigado, amigo.
— Sente-se melhor?
_ Não muito... Pois minha vida está por um fio.
– Calma — o galego recomendou. — Conte-me o que aconteceu.
O soldado assim o fez. No final, disse:
– Você estava presente quando o rei deu aquela declaração?
– Sim. Ele jurou que mandaria enforcar... O homem que lhe levasse a notícia da morte de seu cavalo — o soldado completou, voltando a tremer como uma vara verde no meio da ventania.
— Sabe de uma coisa? — disse o galego. Acho que vou livrá-lo dessa encrenca.
— Mas como?
– Encarregando-me de levar a notícia ao rei.
– Agradeço, mas isso não é justo. Não quero que você seja morto em meu lugar.
– Acontece, meu amigo, que não pretendo morrer tão cedo.
— E o que você tenciona fazer?
– Isso é comigo. Agora, trate de levar o cavalo para o pasto.
E o galego se afastou, muito tranquilo e confiante. Com um suspiro de alívio, o soldado andaluz apressou-se a cumprir a ordem do galego. Pediu a outros criados que o ajudassem, colocou o cavalo numa carroça e deixou-o no pasto.
O galego entrou no palácio do rei e disse aos guardas que tinha uma notícia importante. O rei, que tratava com deferência os empregados responsáveis por seu belo cavalo, não tardou a recebê-lo.
— E então? — perguntou. — O que há?
Saiba Vossa Majestade que o cavalo branco está jogado lá no pasto, com moscas entrando-lhe pela boca e saindo-lhe pelo rabo.
O rei, assustado, exclamou:
– Mas, homem, isso quer dizer que ele morreu!
— Ah, eu não sei, majestade, pois não sou veterinário.
Assim, o galego escapou da forca, pois não tinha sido ele, e sim o rei, quem havia dito que o cavalo estava morto.
Fonte> Yara Maria Camillo (seleção). Contos populares espanhóis. SP: Landy, 2005.
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