quarta-feira, 24 de abril de 2024

Estante de Livros (“O sonho de um homem ridículo”, de Dostoiévski)


texto enviado por Jaqueline Machado (Cachoeira do Sul/RS)

E... Assim começa a narrativa em primeira pessoa: 

“Eu sou um homem ridículo.”

Estou me referindo a uma pequena história escrita por Fiódor Dostoiévski.

Pequena no físico, mas grande em sua alma. Essa é uma das obras mais lindas que já tive o prazer de ler. 

Conta a triste e ao mesmo tempo feliz história de um personagem sem nome, solitário, que residia numa pensão. Ele era desgarrado da família e do mundo. E tinha uma visão gélida sobre o mundo. 

“Eu senti, de repente que, para mim, dava na mesma se o mundo existisse ou se não houvesse nada em lugar nenhum. Comecei a perceber e a sentir, com todo o meu ser, que não havia nada ao meu redor.”

Ele sempre foi indiferente à vida. E decidiu se matar. Mas numa certa noite nervosa, em suas andanças pela cidade de Petersburgo, encontrou uma menina de mais ou menos oito anos, maltrapilha, chorando, desesperada. Ela pediu ajuda ao Homem Ridículo, porque sua mãe estava morrendo. E ele, amargurado e indiferente ao caso, enxotou a criança. Mas ao retornar para casa, com a arma do seu lado, se vê acometido por lembranças do encontro com a menina. Apesar da atitude cruel, sim, ele estava incomodado com o sofrimento da pobre criança desesperada em busca de ajuda para socorrer sua mãe. E esse sentimento inusitado, milagre noturno pareceu libertá-lo da fria inércia provocada pela ausência de sensações que o desumanizava. Com isso, decidiu deixar o suicídio para depois. Se deixa levar por novas reflexões. E caiu num sono profundo. 

Ele se viu morto, enterrado. E depois sendo levado a um outro mundo, por um ser desconhecido. Um mundo de sol igual ao nosso, de homens belos. Era um mundo sem pecados.       

Lá, as árvores conversavam com os homens, ninguém brigava por suas supostas diferenças, toda a natureza era tratada de igual para igual de forma genuína.  Viviam de maneira abundante, simples e amável.  Os filhos dos outros, eram também seus filhos. Suas atividades se concentravam em como amar mais uns aos outros. 

Ao acordar, estava transformado, entusiasmado, amando tudo e a todos. Decidido a dividir com o mundo inteiro as mensagens vistas e vividas no sonho. Mas os seres humanos o consideraram um perfeito ridículo. 

“Os homens podem se tornar belos e felizes sem que para isso tenham que deixar de viver na Terra. Eu não quero, e não posso crer que a maldade seja o estado normal do homem. Mas todos riem da minha crença.” Disse ele, lamentando a desatenção das pessoas para com o mundo e seus irmãos. Pois sabia que, bastava um instante de boa vontade da humanidade para converter a Terra manchada por pecados, num Paraíso. 

Fonte: Texto enviado pela autora 

Nenhum comentário: