Sempre se sacrificara para dar presentes, que parentes e amigos desdenhavam. Fez diferente: cantou um "Parabéns pra você" para o aniversariante e usou a grana para renovar o próprio guarda-roupa.
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Levou o filhinho ao circo. Enquanto isso, a esposa acamada ria das gracinhas, e fazia mil acrobacias com o palhaço do vizinho.
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Era ótima cozinheira. Em transe, perfurava o pernil profundamente com a enorme faca. Foi sacudida pela patroa; o porco era o patrão abusador.
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Não sabia descansar. Não podia perder qualquer oportunidade. Driblava o cansaço e a idade com novas empresas. Foi interditado pelos herdeiros, que se cansaram de esperar o tempo de gastar!
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Só redigia textos de grande violência. Um dia foi encontrado morto: as letras agressivas o asfixiaram.
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Cismava. Olhos baixos nos pés rachados, e o filho do patrão a fazer dele o alvo de intermináveis chacotas... Quando o fazendeiro aflito perguntou pela mimada cria, respondeu:
—"Sei não," com olhar distante no turbulento rio.
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Chorava na cobertura. Via aviões passarem e queria voar. Um dia, o salto, o sorriso e o baque. Hoje voa, leve, em outra dimensão.
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Não queria engordar. Muitas fórmulas e drogas depois come, hoje, feliz, grama pela raiz!
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Sua solidão tinha a halitose por companhia. Quando o último dente se perdeu viu-se obrigado a encarar o dentista. O sorriso voltou, e com ele, amigos e amores.
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Sabia que o pitbull era temperamental, mas insistia em manter o animal. Um dia, o ataque e a desfiguração do rosto: o sacrifício do cão e um novo relacionamento, com o cirurgião plástico.
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Habituado a projetar arranha-céus, construiu castelos nas nuvens. Por falta de alicerce, todos os sonhos ruíram.
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Estava apaixonada. A futura sogra exigiu o fim do noivado: "filho meu não se casa com doméstica". Foi à luta! Fez faculdade de moda e tomou-se renomada estilista. Rica, famosa e feliz, inverteu as letras e trocou o amor por Roma!
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Era muito rica. Criava um filhote de leão apenas para ser exótica. Anos depois, o animal foi encontrado ao lado da jaula arrebentada, tendo ainda na boca um osso do qual pendia valioso solitário.
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Parabenizava-se! Olhava as mãos bem feitas: parara de roer as unhas; o cinzeiro limpo: parara de fumar; o barzinho transformado em biblioteca; parara de beber; o calo no dedo: finalmente acabara de escrever seu primeiro "best seller"!
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Era Natal, e cadê dinheiro para presentes? Cortou cartões em cartolina verde, marcou-os com beijos em batom vermelho e escreveu uma trova para cada presenteado. Foi o ano que proporcionou as maiores alegrias aos amados!
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Ano Novo chegando. Queria novidades, mudança de panorama. Encheu-se de coragem e virou a cama para a janela!
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Separou-se do noivo marginal. O que vertia não era choro por amor despedaçado, mas chorume do lixo emocional acumulado.
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Encontrou lagarta na salada. Rodou a baiana! Chega! Vegetariana nunca mais!!!
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Depois de trinta chopes, um bom mergulho para desaguar na piscina do cunhado esnobe. A mulher, afogando-se na cama, acordou-o aos berros!
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Fonte> Maria Eliana Palma. Momentos em prosa e verso. Maringá, 2016. Entregue pela autora.
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