Vede a nave que vai. É a vida que navega,
às vezes calmaria, às vezes sol bonito.
Pelos mares boreais agora nos carrega,
por oceano feliz, estival e bendito.
Esta nau é latina, esta outra é vela grega,
qual vem de Gibraltar, qual vem do velho Egito.
Hoje o Mediterrâneo em torno a si as congrega,
amanhã já não sei em que quadrante as fito...
E quem sabe, Senhor o rumo dessas naves,
ora ao Norte, ora ao Sul, tempestades, bonanças,
furor de vendavais, quiçá rotas suaves!
O que vejo, porém, em toda a nau que avança,
vencendo furacões, à voz de roucas aves,
é a bandeira do Sonho e o mastro da Esperança.
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ANTES QUE AS ESTRELAS BRILHEM
Antes que brilhem as estrelas no alto,
num estranho chegar do lusco-fusco;
antes que a noite com seu negro assalto
me tire a santa luz que tanto busco;
antes que as trevas - esse horrendo asfalto
do céu - onde de dor a alma chamusco,
os meus ideais a poetar ressalto,
vejo perto um crepúsculo velhusco.
O sol já não quer ver-me com carinho,
sem águas vou, aos passos, no caminho,
vão as flores e as aves debandadas.
Restam somente as rimas por conforto,
eu já alcancei o derradeiro porto,
brilhem pois as estrelas namoradas.
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LUZES DO OCASO
Quando o céu se colore e como um pálio
se desdobram luzores no horizonte,
dou por findo o meu rústico trabalho,
do versejar selou-se a minha fonte.
É preciso parar ânsias do atalho,
é preciso deter o afã do monte.
É preciso secar o doce orvalho
antes que o sol, no céu, fulvo tramonte.
Toda a vida me foi um belo acaso,
quanto pude galguei o meu Parnaso
dispersando poesia estremecida.
Tudo finda na vida, tudo finda,
mesmo assim vejo sempre muito linda
a aventura enigmática da vida,
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POESIA MODERNA
Minha cara Poesia alegre e modernista,
inestética, irreal, síntese, paradoxo.
Desrimada, a mancar qual manca altivo coxo
mas sincera, jovial, enigmática, artista.
Protestante, genial, lírica arte golpista,
bela como o Brasil, ou feia como um mocho,
ora clara manhã, ora poente roxo,
revolução feliz, a se perder de vista.
Sem métrica, sem rima, e sem qualquer estrofe
és. Poesia moderna, um grande regabofe,
artística, revolta, amada e sem vergonha.
Assim mesmo sem rima ou métrica que a cantem,
não importa porém que os outros mais se espantem,
enquanto teu cantor divinamente sonha.
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"PORTAL DOS SONHOS"
(Ao seu autor Esio Pezato)
Poeta peregrino, após tantas andanças
à procura do Belo, em busca de um tesouro
erguendo o olhar ao céu das doces esperanças.
feitas de imenso azul, feitas de estrelas de ouro;
poeta caminheiro, afinal, quando alcanças
do teu longo viajar feliz ancoradouro?
Quando te acolherâo aquelas terras mansas
do encantado país, dos sonhos sorvedouro?
Responda-me, poeta, até quando essa busca,
E esse louco viver que a incompreensão ofusca,
muitas vezes sem sol, muitos dias tristonhos!?
Eis a tua resposta, aloucado poeta:
ter a glória imortal do um telúrico esteta
e a pérola nos dar desse “PORTAL DE SONHOS".
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TERRA NATAL
(Santanense com orgulho)
Nesse chão, onde guarda a santa natureza
as minhas ancestrais, genéticas raízes,
vi florir-me da vida os sonhos de beleza,
desfrutei do viver, os dias mais felizes.
Deram-me as fontes a água pura posta à mesa,
da sede refrescando as fundas cicatrizes.
O céu - cúpula azul - de enorme azul-turquesa,
se enfeitava de sol e de nuvens atrizes.
Pássaros musicais, saudando a manhã nobre,
a escola, as plantações, as estrelas em penca,
as estradas que vão, de um sino o triste dobre...
Uma terra não há como a minha Santana:
Tem o terno verdor de um vasinho de avenca,
e o gosto sazonal de um cacho de banana.
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Fonte> Lino Vitti. Antes que as estrelas brilhem. Piracicaba, 2001.
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