Como muitos textos de Luís Fernando Veríssimo, O Analista de Bagé fez sua estreia em periódicos (revistas e jornais impressos em papel para quem não lembrar). Devido ao sucesso, virou livro pela L&PM, mas este primeiro volume não trazia só as histórias do analista, trazia outras crônicas de temáticas variadas e cotidianas do autor. Um pouco mais tarde, o Analista também viraria peça de teatro de grande sucesso.
O Analista de Bagé é uma sátira bem embasada e estudada da psicanálise. Ele se diz Freudiano mais ortodoxo que rótulo de Maizena, mas possui técnicas polêmicas como o joelhaço, trocou o divã pelo pelego e o vivente é obrigado a deitar por estar incluído no preço.
Apesar da fama, o Analista dividiu espaço com outras histórias do Luís Fernando Veríssimo; protagonizando dois livros – O Analista de Bagé e Outras do Analista de Bagé – e sendo um convidado ilustre em A Velhinha de Taubaté. Depois d´A Velhinha de Taubaté, o Analista não teve mais novas histórias (em prosa) contadas pelo Veríssimo.
Os demais contos de Veríssimo tratam de cotidiano, costumes, fatos engraçados da vida e da política da época. Sim, há política nessa mistura, e até nas histórias e declarações do analista. Sobretudo em A Velhinha de Taubaté, Luis Fernando Veríssimo se mostra um afiado crítico do poder e da ditadura militar.
O próprio Analista de Bagé critica a psicanálise. Afinal, nem todos os problemas são internos e pessoais. Muita coisa deve ser resolvida aqui fora, no social. Quando a psicanálise diz que tudo é interno, ela culpabiliza a todos e se torna cúmplice, afinal, gengiva não morde, mas segura os dentes.
A obra é uma coletânea de crônicas, mas a maioria das histórias é protagonizada pelo analista de Bagé, um psicanalista irreverente, que criou uma terapia revolucionária e inovadora: a Terapia do Joelhaço. Seu divã e sua sala de atendimento, assim como sua relação com a secretária, são abordados constantemente no livro.
O psicanalista fica tão famoso e requisitado que resolve criar um método de triagem, aceitando apenas casos graves ou difíceis. Sempre oferece chimarrão a seus pacientes e os convida a se deitarem em seu pelego (tapete gaúcho, feito de pele de carneiro ou ovelha, usado em arreios), que substitui o divã tradicional.
Alguns personagens são estereotipados, o que causa certo desconforto nos(as) leitores(as). Além disso, o protagonista faz muitas piadas machistas e apresenta um tom homofóbico. Não se sabe, contudo, se a obra tinha como objetivo provocar uma reflexão crítica sobre esses assuntos ou se realmente era a opinião do autor.
De qualquer forma, trata-se de uma leitura fluida, trazendo elementos do sul do país que são pouco conhecidos. O personagem se autointitula ortodoxo, mas tem uma maneira bem própria de aplicar os fundamentos da psicanálise.
Quando o paciente é homem, ele o recebe com um joelhaço, método que consiste em atingir as partes íntimas do analisado em questão. Assim, o leitor se diverte e se espanta com as histórias exageradas e as relações amorosas deste psicanalista.
Análise do estilo das histórias na obra
O Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo, destaca-se por retratar a relação analista/paciente de forma jocosa, fazendo alusões ao regionalismo, à intelectualidade e à política nacional. A obra apresenta a identidade do homem gaúcho estereotipado, desde os costumes aos preconceitos, e, ao mesmo tempo, aborda temas de relevância mundial, como é o caso da psicanálise.
O protagonista da obra é o maior representante disso, pois se trata de um psicanalista que se pretende freudiano ortodoxo, mas com hábitos e intervenções marcadas por sua origem, Bagé. Curiosamente, Bagé é um município brasileiro do pampa gaúcho que faz fronteira com o Uruguai, o que, de certa forma, indica a linha tênue entre “regional” e “mundial” apresentada na obra.
Os contrastes tornam a narrativa intrigante, por exemplo, a imagem que se faz de um psicanalista, supostamente sério e intelectual, é quebrada ao encontrar um profissional que usa como técnica o “joelhaço” e como divã, o pelego. Nesse sentido, Veríssimo não só desmistifica a psicanálise como também aproxima o(a) leitor(a) de sua obra.
Ao usar uma linguagem acessível e acontecimentos do cotidiano mesclados ao humor, estrutura característica da crônica, o autor sentencia o próprio sucesso. O Analista de Bagé foi reeditado inúmeras vezes, transformado em quadrinhos e encenado no teatro.
Fontes>
– Texto de Rodrigo Rosas Campos para o blog Literakaos!
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