entre os trapos do meu teto!...
E uma esteira remendada,
com mil fiapos de afeto!
- - - - - –
A cigarra destemida,
o seu disfarce me encanta,
por não ter nada na vida
e ser feliz quando canta!
- - - - - –
A dor que se intensifica
e amedronta os dias meus,
é pensar na dor que fica
depois da palavra adeus!
- - - - - –
À espreita de um novo encanto,
o orvalho que a noite chora...
E lágrima de acalanto,
que beija a face da aurora!
- - - - - –
Amai-vos!... Disse o Senhor,
Deus, no amor, tudo permite.,.
Por que limitar o amor,
se a regra não tem limite?
- - - - - –
A natureza resiste,
mas a tristeza do monte,
é enxugar o pranto triste
dos olhos tristes da fonte!
- - - - - –
Antes que a vida se acabe,
viva! Da vida eu sou fã.
Nem eu sei, nem você sabe,
se haverá outro amanhã!
- - - - - –
As cordas desafinadas
e esta voz chegando ao fim!...
São mimos das madrugadas,
guardados dentro de mim!
- - - - - –
A virtude que mais rego,
vive em mim, nunca passou;
E a fé que sempre carrego
de ser feliz como sou!
- - - - - –
Cadeira velha!... Esquecida,
sem dono e sem mais ninguém...
Só a saudade atrevida
reclama a ausência de alguém!
- - - - - –
Cantar em noites de lua,
vagando pelas calçadas,
é o que faço pela rua,
na insônia das madrugadas!
- - - - - –
Cascata, teu pranto triste,
parece que não tem fim!...
Comparo ao pranto que existe
doendo dentro de mim!
- - - - - –
Eu me curvo ante os conselhos
que recebo todo dia,
quando dobro os meus joelhos,
aos pés da Virgem Maria!
- - - - - –
Há, na visão de uma flor,
e no olhar de uma criança,
mil semelhanças de amor,
de inocência e de esperança!
- - - - - –
Mãe preta! Teu negro seio
deu-me o mais puro sabor;
nele eu bebi, sem receio,
a eternidade do amor!
- - - - - –
Mar aberto!... O sol se esquiva,
e a jangadinha, a vagar,
lembra uma lágrima viva
nos olhos verdes do mar!
- - - - - –
Não me esqueço!... E ao descrevê-la,
praça de minha ilusão!
Seu chão forrado de estrela
era a esteira do meu chão!
- - - - - –
Não se fere uma criança
nem se machuca uma flor!
Se uma é fonte de esperança,
outra é esperança de amor!
- - - - - –
Na primavera partiste,
e o monstro do tempo, ingrato,
deixou teu rosto mais triste
no velho porta-retrato!
- - - - - –
Nesta longa caminhada
que fazemos sempre a sós...
Nem o silêncio da estrada
quebra o silêncio entre nós!
- - - - - –
Pelas manhãs, vou buscando,
minha esperança perdida...
Há sempre um sonho vagando,
nas alvoradas da vida!
- - - - - –
Prazer é sentir os dedos
de nossas mãos artesãs,
pintando os lindos segredos
das auroras das manhãs!
- - - - - –
Primavera é foto linda,
de uma infância toda em flor!…
Parece que nunca finda
a primavera do amor!
- - - - - -
Quando a minha fé se esmera,
penso que tudo se alcança.
Por longa que seja a espera,
não perco nunca a esperança!
- - - - - –
Quando a tarde veste o manto,
torna escura a luz do dia...
Saudade dói outro tanto
do tanto que já doía!
- - - - - –
Fonte:
Francisco Garcia de Araújo. Cantigas do meu cantar. Natal/RN: CJA Edições, 2017.
Enviado pelo autor.
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