Diz que foi um dia, havia no mato uma fruta que todos os bichos tinham vontade de comer, mas era proibido comer a tal fruta sem primeiro saber o nome dela. Todos os animais iam à casa de uma mulher que morava nas paragens onde estava o pé de fruta, perguntavam a ela o nome, e voltavam para comer, mas quando chegavam lá não se lembravam mais do nome. Assim aconteceu com todos os bichos que iam e voltavam, e nada de acertar com o nome. Faltava somente o amigo cágado. Os outros foram chama-lo para ir por sua vez. Alguns caçoavam muito, dizendo:
— Quando os outros não acertaram, quanto mais ele!
O amigo cágado partiu munido de uma violinha, e quando chegou na casa da mulher perguntou o nome da fruta. Ela disse:
— Boyoyô-boyoyôquizamaquizu, boyoyô-boyoyôquizamaquizu.
Mas a mulher, depois que cada bicho ia-se retirando já em alguma distância, punha-se de lá a bradar:
— Ó amigo tal, o nome não é esse, não!
E dizia outros nomes; o bicho se atrapalhava, e quando chegava ao pé de fruta não sabia mais o nome.
Com o cágado não foi assim, porque ele deu de mão à sua violinha, e pôs-se a cantar o nome até ao lugar da árvore, e venceu a todos. Mas a amiga onça, que já lá estava à sua espera, disse-lhe:
— Amigo cágado, você como não pode trepar, deixe que eu trepe para tirar as frutas, e você em paga me dá algumas.
O cágado consentiu, ela encheu o seu saco e largou-se sem lhe dar nenhuma. O cágado, muito zangado, largou-se atrás. Chegando os dois a um rio, ele disse à onça:
— Amiga onça, aqui você me dê o saco para eu passar, que sou melhor nadador, e você passa depois.
A onça concordou, mas o sabido, quando se viu no outro lado, sumiu, ficando a onça lograda.
Esta formou um plano de o matar. Ele soube e meteu-se debaixo de uma raiz grande de árvore onde ela costumava descansar. Aí chegada, pôs-se ela a gritar:
— Amigo cágado, amigo cágado!
O sabido respondia ali de pertinho:
— Oi.
A onça olhava de um lado e de outro e não via ninguém. Ficou muito espantada, e pensou que era o seu traseiro que respondia. Pôs-se de novo a gritar, e sempre o cágado respondendo:
— Oi!
E ela:
— Cala a boca, traseiro! — e sempre a coisa ia para diante.
O amigo macaco veio passando, e a onça lhe contou o caso da desobediência de seu traseiro e lhe pediu que o açoitasse.
O macaco tanto executou a obra que a matou. Deu-se então o cágado por satisfeito.
Fonte> Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Publicado em 1883. Disponível em Domínio Público
Nenhum comentário:
Postar um comentário