terça-feira, 9 de abril de 2024

Livro D’Ouro da Poesia Portuguesa – 13 –


Alberto da Fonseca
(Sacavém)

ESQUECENDO O MUNDO

Dia de sol, passeio na areia e admiro o oceano.
De tempos em tempos uma vaga chega até mim
Molha-me os pés me provocando, fica a espuma
Espuma, que fez ficar triste pensando ao nosso amor.

Assim, os meus pensamentos voltaram ao passado
Um passado que tantas saudades deixou em mim
Desses momentos de loucura, de amor em liberdade
Das noites em que os nossos corpos se entrelaçavam.

As nossas lágrimas corriam de prazer, também salgadas
Como esta água do mar que teima em me provocar
Como tu o fazias com o teu sorriso de felicidade
E eu me perdia nos teus braços, esquecendo o Mundo.

Hoje as lágrimas também correm mas não de prazer
Correm para o mar o tornando assim mais salgado
As vagas que vão chegando pouco a pouco até mim,
Não são que a espuma de um amor jamais esquecido.
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Alice Vaz de Barros
(Aveiro)

EXISTEM…

As palavras não valem nada
Quando já não se tem voz
E o conselho da almofada
Nos faz navegar numa casca de noz.

Com o risco de naufragar
Na aventura que é a vida
Onde ninguém nos pode ajudar
A encontrar uma saída.

Mas com um pouco de esperança
A luz aparecerá no horizonte,
Quente e cheia de confiança
Para que no abismo, surja uma ponte…
= = = = = = = = = 

Felisbela Baião
(Vidigueira)

OLHOS IMPERFEITOS

Nestes olhos imperfeitos
de íris iridescente
palpo nuvens, faço escolhas
e solto sóis
Deixo que a cor se propague
por entre o ver-te
insinuante
Acaricio o cio de tocar-te
em cristalinos de ternura
E o meu destino
é lembrar-te
nestes olhos que te procuram
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Jorge Humberto
(Lisboa)

PEÇO-TE: VOLTA PARA MIM

Ainda é por ti, que meu coração chora.
Passam-se anos, mas não a memória;
ânsias tantas, um pedido, que implora:
nova poesia, e sua ‘dedicatória’.

Não percebo se estás só se acompanhada;
se a saúde débil já se foi embora;
como estão meus meninos, a cunhada
desconfiada, se o marido tem de ir pra fora?

Sinto, que este amor ainda não acabou:
do teu irmão por ti, e do teu por ele:
menos ainda aquele, que mil versos jorrou?

Vivemos mundos, grandes segredos,
Musa, que tudo planejavas, e era nele
que de beijo em beijo, iludias teus medos.
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José Carlos Moutinho
(Maia)

OS TEUS MEDOS

Solta os medos que te inibem
e te amarram ao desassossego
e grita com garra a liberdade que anseias,
abre o teu peito e deixa-te invadir de sol,
que teus abraços permaneçam abertos
e receptivos aos afetos que te rodeiam
e tu tens ignorado...

e se as tardes se acinzentarem
sorri-lhes e verás
como se modificarão generosamente,
só para ti...

e quando o dia na sua despedida
abraçar a noite que chega,
pede-lhe que volte no dia seguinte
trazendo a alvorada iluminada
de sonhos teus...

e que jamais as amarras
prendam os teus sentimentos
enchendo-te a alma
de irritante inquietude
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

José Coimbra
(Trás-os-Montes)

PONTE

As palavras não valem nada
Quando já não se tem voz
E o conselho da almofada
Nos faz navegar numa casca de noz.

Com o risco de naufragar
Na aventura que é a vida
Onde ninguém nos pode ajudar
A encontrar uma saída.

Mas com um pouco de esperança
A luz aparecerá no horizonte,
Quente e cheia de confiança
Para que no abismo, surja uma ponte…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Natália Nuno
(Lapas/ Torres Novas)

ESTE BASTANTE É JÁ DEMAIS…

memórias são o lugar onde me encontro
onde flutuo na claridade sem cansaço
aí não há tempo nem idade
e a realidade tingida de medo, não existe
as minhas asas vão mais além
à madrugada onde moram as amoras
as borboletas e ainda mais além
o caminho para o rio, parto sem demoras
não esqueço ninguém
calo a sede de coisas simples, esqueço o vazio,
com alegria sinto-me em casa,
no meu chão,
ouço o ruído da porta, encho-me de comoção
respiro os cheiros da aurora
abraço todos os que foram embora,
ainda a candeia nos alumia
e está morno o arroz doce que a mãe fazia
a roupa de cor desfraldada ao vento
e a branca na relva a corar
é inverno no meu pensamento
mas eu hei de sempre aqui voltar.

as memórias são ruídos antigos
são folhas de chá cujo aroma chega longe
são vozes de amigos doces como medronhos
são olhares perdidos, que só se encontram
nos sonhos...
este bastante já é demais para minha alegria
lembro o meu tempo em que a vida corria
deixei por aqui a vida era então verão
agora cheia de rugas no rosto
volto em sonho, ocultando a solidão.

despeço-me das flores
e dos pássaros que no meu rosto faziam sentido,
é tempo perdido, é apenas réstia de felicidade
lembrar as flores do meu vestido
de nylon... é agora já só SAUDADE.
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Sisnando André Cunha Pinto
(Guimarães)

E LÁ

E lá
Lá longe
Existe um lugar
Que eu não conheço
Somente ouvi falar

Sei que fica lá
E que se encontra
Lá longe
Para longe do olhar

Mas esse lá
Esse lá longe
É o que me faz sonhar
Sonho um dia visitar

Sabes, ajuda-me a respirar
Porque cá
Não encontro ar
É tudo tão feio
Que só penso em escapar!!!

Não sou nada
Nem ninguém
Mas tento ser
Humildemente eu!!!
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Fonte> Luso Poemas https://www.luso-poemas.net/

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