quinta-feira, 18 de abril de 2024

Professor Garcia (Trovas do meu cantar) 2


À cruz do amor, eu me entrego,
é a força que me conduz!...
O amor à cruz que carrego,
retira o peso da cruz!
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Amargurada, partiste,
e eu, na minha desventura,
nem sei se o peito resiste
ao pranto dessa amargura!
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As aves, com seus arranjos,
cantam canções tão singelas,
que eu penso que são os anjos
que, às vezes, cantam com elas!
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Chega a velhice e me alcança,
de uma forma tão singela...
Plantando paz e esperança
na vida, que é minha e dela!
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Como quem consola o pranto,
cego e preso na gaiola,
o sabiá solta um canto
e o canto triste o consola!
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Desfeitas as nossas metas,
a vida me faz supor...
Que fomos falsos profetas,
em nossas metas de amor!
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Disse-me, antigo eremita,
no altar de uma velha ermida:
Busco a verdade infinita
que há no silêncio da vida!
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Em seu traje, uma andorinha,
meditando, até parece;
A humilde e pobre freirinha,
pedindo paz numa prece!
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Esta aliança, que um dia,
já guardou nossos segredos...
Hoje guarda a nostalgia
das digitais de outros dedos!
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É tarde... E, na velha praça,
há um vulto que, na verdade,
é uma saudade que passa,
nos braços de outra saudade!
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Eu te esperei tanto, amor,
e de tanto meditar...
A vida me fez supor,
que vale a pena esperar!
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Eu vejo ó, linda criança,
neste teu gesto tão lindo...
a mais feliz esperança,
das esperanças dormindo!
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Há uma voz triste e sonora,
nela, suspiros, lamentos!..,
E a cachoeira que chora
seu pranto, na voz dos ventos!
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Mastro erguido, vela içada,
na noite da cor de breu...
Avança a velha jangada,
num mar que nunca foi seu!
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Mesmo sem terço entre os dedos,
nem cruzes, no peito, expostas,
Deus escuta os teus segredos
e aceita as justas respostas!
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Não faças do amor desfeito,
o teu orgulho e o teu canto...
Pois, o amor, sempre acha um jeito
de transformar riso em pranto!
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Na vida, a gente descobre,
seguindo o que a Bíblia diz...
Que não há pobre tão pobre
que não possa ser feliz!
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Num pesadelo medonho,
alguém me pede, apressado,
que eu jogue a cinza do sonho
nas cinzas do meu passado!
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O antigo sorriso franco,
na vida, só se refaz...
Quando, em seu cabelo branco,
Deus pinta o branco da paz!
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O cego que aceita a cruz
das trevas dos olhos seus,
será estrela de luz
à luz dos olhos de Deus!
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O sol, quando dobra a esquina,
deixa o ocaso tão bonito,
que a esperança é mais divina,
no entardecer do infinito!
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O tempo atrevido, ingrato,
sem perguntar se eu aceito,
rasgou o nosso contrato
e agasalhou-se em meu peito!
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O velho trem, fiquei vendo,
quando partiste... Aos apitos...
Meu sonho aos poucos morrendo,
na distância dos teus gritos!
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Quando um sonho me seduz,
ao fim do ocaso, suponho...
Que o sol, quando apaga a luz,
vai acender outro sonho!
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Sempre sozinha!... Aos farrapos,
mas de rosário na mão!
A fé, tecida entre os trapos,
remendava a solidão!
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Fonte: Francisco Garcia de Araújo. Cantigas do meu cantar. Natal/RN: CJA Edições, 2017.
Enviado pelo autor.

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