sábado, 20 de abril de 2024

Francisca Clotilde (Livro de Sonetos) = 3 =


HORA FESTIVA

Brilha o sol no infinito! A natureza em festa
Mostra um raro primor, por toda parte exulta
A flor, a estremecer no galho em que se oculta,
E o pássaro, a cantar, doce prazer atesta.

Nem um traço sombrio no horizonte resta,
Tudo azul a sorrir... pela leveza inculta,
Brinca a luz, que entre as ramas trêmulas se esfresta,
Enquanto cresce o dia, enquanto o dia avulta.

Perfumes no ambiente... aves pipilam... cantam
A linfa de cristal cujo murmúrio encanta
O espírito do poeta aureolado em dor.

Bendita seja tu, oh! Grande natureza,
Fonte eterna de paz, de graça, de beleza,
Que infiltras dentro em nós o bem, a luz, o amor!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

NO SOSSEGO DO CAMPO

Eis-me longe da praça! Em plena alacridade
Do campo aberto em flor, a sentir a poesia,
Como é lindo este azul e que beleza irradia
A luz que vem do céu, que vem da imensidade

Aqui ouço da linfa, a grata suavidade,
Num murmúrio de leve, ouço ali a melodia
Da mimosa avezinha a cantar que anuncia
O doce rosicler... A vida... A claridade...

Não me vem à lembrança a ventura falaz,
À atração da cidade eu prefiro esta paz
Que me inspira, conforta e reanima na luta;

No sossego do campo é mais doce a ventura,
Mais nitente o luar, sopra a brisa mais pura,
Deus parece mais perto e melhor nos escuta!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

O ALVORECER

Vai pouco a pouco o sol iluminando
A terra que se cobre de verdores,
Cantam as aves pelo azul voando
Seus inocentes, cândidos amores.

Por toda a parte luzes e primores
Sente-se o aroma delicado e brando
Da fresca rosa, as pétalas soltando
A natureza ostenta-se em fulgores.

Oh! Como é belo o despontar do dia!
Que coração não pulsa de alegria,
Ao ver a luz avassalar a terra?

Ergue-se a Deus o olhar agradecido
E o homem forte sente-se vencido
Pelas belezas que a manhã encerra!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

O CAMINHO DA GLÓRIA

Sempre a olhar a bandeira erguida e tremulante,
Visão sublime e pura, imagem consagrada,
E sentindo o amor, a chama acrisolada,
Esquece a noiva o lar e a família distante.

Que lhe importa morrer? Num ardor incessante
Quer ver enaltecida a flâmula sagrada
E o sangue a referver, vigoroso, estuante,
Que corra vivo e rubro, em prol da terra amada,

Ouve o som do canhão e inda mais se avigora;
Parece circundando em fulgores de aurora,
Na luz de um novo sol que anuncia vitória;

E, ao cair sobre a arena ainda fita a bandeira
Essa estrela que brilha, a mostrar altaneira,
Sobre as ruínas da Pátria, o caminho da glória!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

REMINISCÊNCIA

Era sempre ao sol pôr... Milhares de boninas
E rosas em botão, cravina multicores,
Junquilhos delicados e outras muitas flores
Eu reunia feliz para as aras divididas.

E que aroma sutil; nas horas vespertinas.
A linda primavera – a quadra dos amores –
Espalhava a sorrir, enquanto as pequeninas
Nuvens d’ouro, no azul, refletiam fulgores.

Como eu relembro agora aqueles belos dias!
O sino a bimbalhar... As doces litanias,
O trono envolto em luz, o incenso, a Mãe bendita...

Hoje o que se seduz? O mesmo céu é triste
E dentro de minha alma apenas subiste
Da aventura fugaz a saudade infinita.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Nenhum comentário: