domingo, 7 de abril de 2024

Carolina Ramos (Ramalhete de Versos) – 2


AOS QUE TANTO AMAMOS

Se, um dia, a chama deste sentimento
crescer tanto que seja refletida
em nosso olhar e a luz do encantamento
na alma não possa mais ser escondida,

que nos perdoem! - Tanto é o sofrimento
que o coração transporta, morto em vida,
que, se é vida ou se é morte, este tormento,
nem nós sabemos - dor não tem medida!

Não nos acusem, não, só porque amamos!
Lembrem das lágrimas que já choramos,
juntos e ao longe, de saudade loucos!

A estrangular no peito esta amargura
de conhecer do amor toda a ternura,
e, por vocês, tentar mata-la aos poucos!
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MEDO

Antes de ti, amor, havia o medo.
Um medo sem propósito, impreciso,
da vida... do futuro e seu segredo,
da mágoa que se esconde num sorriso!

E, agora, quem sorri é a própria vida
dissipando ansiedades e receios.
O amor, a surpreender, tudo elucida,
dosa emoções, afere devaneios.

Contudo, se mais cresce esta bonança,
inevitável sinto que germina
- tal fora do destino cruel vingança -
um medo diferente, que fascina!

Treme a alma! E meu ser sofre, assustado,
ante essa angústia que desconhecia:
- o medo... o maior medo e o mais odiado,
o medo de perder-te... enfim, um dia!
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NINHO DE AMOR

O mar, cantante, a se estender lá embaixo...
O sol brincando de dourar o mundo...
À noite, a lua, a erguer o níveo facho,
prateia as folhas com palor profundo...

Contemplo, do alto, o farto e louro cacho
da palmeira que alcanço, num segundo...
basta estender a mão… verde penacho,
lembra a esperança de que enfim, me inundo!

Ah! deste quinto andar, vejo (tão linda!)
a paisagem lá fora! Mas, ainda,
me falta alguma coisa... um terno quê:

- Mais perto das estrelas, sinto, embora,
que para o ninho, onde a saudade mora,
ser céu, está faltando só… você!
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PAI

Pai! - que múltiplas faces tem a vida!
Quanta perfídia! Quanta voz sedosa,
ocultando a sutil arremetida
da serpente traiçoeira e venenosa!

Ah! Meu Pai, não me deixes desvalida!
Temo a peçonha da ralé maldosa,
que se faz doce e é quase fratricida;
- o vento, aos beijos, também mata a rosa!

É tanta a angústia deste cruel momento,
que chego a repetir em desalento,
as palavras amargas de Jesus,

Pai, oh! Meu Pai, por que me abandonaste?!
És o Amor! - Por amar me castigaste?!
- A cruz é enorme! E o Amor, maior que a cruz!
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TEU OLHAR

No teu olhar, bem ao fundo,
olhar cor de mel, profundo,
há um menino sonhador.
Tristonho e meigo menino,
buscando ver no destino,
carinho, ternura e amor.

Esse menino é que eu amo!
E quando por ele chamo
e ele me fita sereno,
tudo mais desaparece...
- o tempo de andar se esquece!
- o mundo fica pequeno!

Só nós dois... nós dois, somente,
existimos, de repente...
tudo o mais não tem valia!
A marcha do tempo cessa...
pois é quando o amor começa,
que a vida, enfim, principia!

Há tanto enlevo no instante
em que teu olhar cantante
no meu repousa de leve,
que nossos olhos se beijam
e nossas almas almejam
repetir o beijo, em breve!

Como a vida fica bela!
Corais cantam à capela,
em suavidade sem par!
Tudo é sempre vez primeira,
não há sombra derradeira
na ternura deste olhar!

Teu olhar traduz afago,
igual à brisa num lago,
que é carícia em arrepio...
É doçura... é sonho à espera.
- do outono faz primavera
e aquece quando faz frio!...

Se eu pudesse... (e o verso é prece)
ser réstia de sol... pudesse
ser um raio de luar,
eu juro que, noite e dia,
dia e noite eu guardaria
meu olhar... no teu olhar!
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Fonte> Carolina Ramos. Destino: poesias. São Paulo: EditorAção, 2011.  
Livro enviado pela poetisa.

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