terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ivan Carlo (Manual de Redação Jornalística) Parte 5


CAPÍTULO 4
O JORNALISMO É ESSENCIALMENTE REFERENCIAL

Você já deve ter estudado em língua portuguesa as funções da linguagem. Elas estão intimamente ligas ao processo de comunicação. Então vamos lembrar um pouco de como funciona o processo de comunicação.

Vamos imaginar uma conversa. Temos duas pessoas conversando. Como ocorre o processo de comunicação nesse caso?

Para que o processo comece é necessário haver um emissor. É ele que vai transmitir a mensagem. A mensagem será transformada em um código (língua portuguesa) a ser transmitido através de um canal (ondas sonoras).

A mensagem deve fazer referência a algo exterior a ela. Se eu digo “Olhe a cor desta mesa”, os referencias são a mesa e sua cor. Se um namorado declara seu amor à namorada, o referente é o amor do qual ele está falando.

A mensagem será recebida por receptor, que decodificará a mensagem e reagirá a ela, através de um feed-back. Feed-back é a resposta à mensagem. Ele pode vir tanto pelo mesmo canal e pelo mesmo código, quanto por canal e código diferentes. Se o namorado diz que ama a garota e recebe um beijo, o feed-back é o beijo. O processo de comunicação, portanto, ficaria mais ou menos assim:

EMISSOR RECEPTOR
REFERENTE
MENSAGEM
CÓDIGO
CANAL

A cada elemento do processo de comunicação ( com exceção do feeed-back) corresponde uma função da linguagem. Quando a mensagem é centrada no emissor, temos a função emotiva. É quando o texto fala de quem o está escrevendo. É um tipo de texto usado, por exemplo, em declarações de amor. Notem o pronome na frase “Eu te amo”.

Quando a mensagem é centrada no receptor, temos a função apelativa, ou conativa. Função normalmente usada na publicidade:
“Compre isso!”, “Beba Coca-cola!”.

A comunicação centrada no código é metalinguística. É o caso, por exemplo, de um filme sobre o cinema.

A função fática é usada quando queremos testar o canal. É a função que usamos quando queremos Ter certeza de que o receptor está captando a mensagem. Alguns exemplos de frases fáticas: “Alô”, “Você está me ouvindo?”. Nesse caso, a carga de informação da mensagem é quase nula.

A função poética é quando a comunicação é centrada na mensagem.

Finalmente, a função referencial ocorre quando a comunicação é centrada no referente: “Esta cadeira é azul”. O referente da frase são a cadeira e sua cor.

O jornalismo trabalha, essencialmente, com a linguagem referencial. Ou seja, o que realmente interessa são os fatos e seus personagens.

Para cumprir sua função referencial, o jornalismo deve recorrer às seis perguntas (o que, quando, onde, como, quem, por que). Mas a busca da função referencial leva a um cuidado ainda maior. O jornalismo deve procurar informar o momento exato em que o evento ocorreu, o local exato, as pessoas que realmente participaram, etc.

O jornalismo evita o achismo (função emotiva – eu acho) e o parecismo (parece que fulano estava bêbado, parece que o presidente vai falar à nação).

O texto deve ser referencial. Se o jornalista quiser dizer que determinado motorista estava bêbado, ele deve procurar fatos que comprovem isso (teste de bafômetro, depoimento de testemunhas, declarações do policial rodoviário).

FEED.BACK
Também se evita frases ou expressões que tenham sentido vago ou impreciso. Deve-se, sempre que possível, trocá-los por informações concretas.

Veja alguns exemplos:

Comerciante próspero - o correto seria lista os bens do comerciante.

Bela mulher – o ideal seria um fato dela ou opinião de pessoa abalizada, como um descobridor de talentos.

Grande salário - dizer o salário.

Grande distância - distância correta.

Edifício alto - número de andares.

Episódio chocante - contar o episódio e deixar ao leitor a interpretação.

General anunciou a abertura de inquérito rigoroso - pela lógica, não deveria haver inquérito não rigoroso.

Ligeiramente desafinado - ou está desafinado ou não.

Aparentemente grávida – ou estava grávida ou não.

Na calada da noite – horário exato em que ocorreu o fato.

Fora do prazo estipulado – um dia atrasado.

Fazia um calor de rachar – 40 graus à sombra.

Parlamentar – deputado federal

continua… CAPÍTULO 5 – O JORNAL NÃO PRODUZ INFORMAÇÃO, ELE A DIVULGA

Fonte:
Virtualbooks

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