quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Emilio de Menezes (Poemas Esparsos)


ELA
" Amar, amar, eternamente amar."

É bela e sedutora! Seus olhares
Muito meigos, serenos, — um portento, —
Representam-me fúlgidos altares,
Onde vou suavizar os meus pesares,
Na muda invocação do pensamento...

Seus lábios de carmim, sempre sorrindo,
E dos dentes mostrando a fina alvura,
Exornam mais e mais seu rosto lindo,
Esse rosto sem par, de encanto infindo,

O Sacrário sublime da ternura.
Seu corpo donairoso de princesa,
D'uma graça indizível modelado,

É a imagem perfeita da beleza,
Ante a qual, com respeito e singeleza,
Eu me curvo e confesso apaixonado...

NATAL

Não há talvez no Calendário, um dia
Como este vinte e cinco de Dezembro,
Em que a própria velhice se avigora
Da lembrança à dulcíssima caudal!

Moço, nele, a esperança me fulgia,
Velho, nele, ainda exclamo: bem me lembro!
Sinto que vivo numa eterna aurora
Neste glorioso dia de Natal.

Passam-se as horas todas, dentro, apenas,
De um pequenino e colossal minuto,
De um minuto que encerra, hora por hora,
O Tempo imperecível e imortal.

Nem ouço a voz de minhas próprias penas
Só do supremo Bem os sons escuto!
— Vibra dentro em meu seio a eterna aurora
Na glória deste dia de Natal!

Os séculos são nada, ante este imenso
Porém diminutíssimo segundo,
De que eles brotarão, tempos em fora,
Como as caudais de escasso manancial!

De anelo e gozo, num fervor intenso
Em suavíssima luz meu ser inundo!
Canta dentro de mim da eterna aurora,
A glória imorredoura do Natal.

É que não tem o Calendário, um dia
Como este vinte e cinco de Dezembro
Em que a própria velhice se avigora,
Da saudade à dulcíssima caudal
Velho, nele, inda exclamo: ó se me lembro!

Mas de mim vai fugindo a eterna aurora,
Deste saudoso dia de Natal! ...

AO TIRO RIO BRANCO

"Ide, galharda flor da Paz armada em Guerra!

Ide, gloriosa flor das gloriosas legiões,
Que a mocidade em si, neste momento encerra,
Como encerra o alto céu áureas constelações.
Que desde a orla marinha às quebradas da Serra,
Que dos Campos Gerais às fecundas Missões,
Que onde comece e finde a vossa amada terra,
Vibre o entusiasmo, a encher os vossos corações!
Da mais ampla campina à mais densa floresta,
A natureza ali, toda rebrilhará
Ao fulgor imortal que o vosso brilho empresta.
Ide, que já pressinto, ide que escuto já
O vosso berço entoar, nos mesmos sons de festa,
Num hino a Rio Branco, um hino ao Paraná!"

NO ÁLBUM DE CORDÉLIA MURAT

Aqui não quero ver-te a formosura
Na glória da mulher bela e perfeita.
Ao ler-te o nome, a mim se me afigura
A Cordélia de todos nós eleita.

A Cordélia que a cada travessura,
De menina risonha e satisfeita,
Dava o clarão de um sol a uma alma escura,
Dava a amplidão de um céu a uma alma estreita.

Crescente. És mulher forte e bonita
E o sangue adulto que hoje te avigora,
Mal recorda a Cordélia pequenita.

Eu, porém, só te vejo como outrora.
É que a velhice a recordar me incita:
Sou tarde. És meio-dia. Eu lembro a aurora...

ESPUMAS
(Lendo Amadeu Amaral)

Na aparente quietude ou plácido remanso
E ao suavíssimo olor com que os versos perfumas,
Se lanço alegre o olhar, se úmidos olhos lanço,
Vejo que a luz do sol não n'a encobrem as brumas.

Abaixo, assim, do leve e ondulado balanço
Da superfície espilmea, eu sinto, umas por umas,
As grandes emoções de oceanos sem descanso,
Estudando ocultamente à aluvra das espumas.

Mas nem sempre a avistar tênue espiral de fumo
Se prevê que à floresta, ao requeimar das franças,
Mortos, só restarão os troncos nus a prumo.

Não, que é chama fecunda essa a que te abalanças!
Do que foste, és, serás, o teu livro é o resumo:
Nobres recordações, certezas, esperanças.
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"Entretanto, é intuitiva a impropriedade da escolha do uniforme da Cruz Vermelha para
festejos carnavalescos. Esse uniforme foi sempre e é, com especialidade neste momento,
uma cousa sacratíssima. Ele simboliza a abnegação de milhares de senhoras nestes dias
ae amargura".
(Da seção "Salpicos", de Emílio de Menezes, na Gazeta de Notícias)


À excelsa Sra. Gaby Coelho Neto

Senhora! Aos vossos pés aqui se ajoelha
Não do humorismo a brincalhona musa,
Mas uma alma que à vossa alma se cruza
Ante a bondade ideal que em vós se espelha.

A Santa Instituição dai a centelha
Da vossa caridade ampla e profusa.
Não podeis insistir nessa recusa
De dar o vosso esforço à Cruz Vermelha.

As que, ingênuas, profanam em folia
O símbolo sagrado, eu as contemplo,
Como cegos a quem falece um guia.

Vinde senhora a dar o grande exemplo
De vosso amor, blindado de energia;
Vinde e Correi as más irmãs do templo!

Fonte:
Obra Reunida, de Emílio de Menezes. RJ: Livraria José Olympio, 1980.

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