Medo talvez nem seja o termo, mas achei o título, embora meio chavão, adequado para se refletir sobre este novo elemento no mercado literário brasileiro. O adjetivo mais preciso talvez seja alheamento, apatia inicial.
Durante as férias, envolvida com este projeto coletivo, resolvi perguntar para alguns amigos, parentes e (des)conhecidos com quem troco idéias ou informações (através de grupos de discussão) sobre suas percepções quanto aos livros eletrônicos. Sendo otimista, creio que 30% dos perguntados respondeu. Se considerarmos o percentual geral de retornos isso seria normal e até uma boa amostra de certa população, mas tenhamos em conta que grande parte do público perguntado é gente com razoável ligação ao tema (listas de discussões sobre literatura, ebooks, sites de literatura e amigos que leem bastante – mas somente em meio impresso). Mas vamos adiante.
Muitas matérias tem transitado na web sobre o sucesso dos ebooks no mercado americano e sobre a reserva com que as editoras brasileiras tem tratado o tema (acanhamento seria mais preciso?). Algumas ainda perdem tempo (minha opinião) na discussão sobre a extinção dos livros físicos, mas a tônica geral passa pela interrogação sobre os porquês do estágio letárgico em que o ebook se encontra por enquanto. Quando ele chegará aos consumidores de forma massiva? Ou seria mais adequado perguntar quando os consumidores o quererão com maior apetite?
Vejamos o cenário entre os amigos, parentes e pessoas com interesses comuns aos meus que responderam meu pequeno questionário: a imensa maioria (73%), e isso já era esperado, não possui dispositivos de leitura (ainda são caros no Brasil, isso é inegável), e muitos também não possui smartphones (45%). Isso explica, em parte, o fato de que 58% desses meus amigos e conhecidos nunca comprou (ou sequer baixou gratuitamente) algum ebook. Digo que explica porque é a primeira razão apontada para “justificar” o não uso dos ebooks, mas não é a única, vejam:
32% alegaram não ter comprado ebooks por não possuir um dispositivo de leitura e considerar muito desconfortável a leitura de uma obra literária no computador;
26% disseram que a oferta de títulos é baixa e os que estão disponíveis não atraíram sua atenção (essa é uma resposta válida mesmo para quem já comprou, aliás…);
16% assumem total desinteresse por livros eletrônicos (não aceitação de outro formato além do impresso);
Além destas, outras razões como as dificuldades para entender / manejar os diferentes formatos de arquivo / programas necessários para leitura; o preço elevado dos ebooks no Brasil; desinteresse pela tecnologia e insatisfação com a qualidade dos ebooks também foram citadas como outras razões para não comprar ebooks.
Agora vejamos o que pensa a minoria que já comprou ebooks (42% – o que não deve ser tomado como uma estatística animadora, pois a amostragem é direcionada a um público potencialmente envolvido com os tais) ou fez downloads de títulos gratuitos. Mesmo aqui, nem tudo são flores e as principais queixas são:
a dificuldade de instalar / manejar programas para leitura (50%);
a dificuldade para entender / manejar os diferentes formatos de arquivo utilizados (21%);
dificuldades na transferência dos arquivos para os dipositivos de leitura (7%); e
outras razões, como as limitações impostas pelo uso de DRM e o desconforto da leitura no computador (totalizando 7%).
Este breve levantamento não tem nenhuma preocupação acadêmica nem compromisso com metodologias de amostragem, foi apenas um pretexto para engrenar uma reflexão sobre quais poderiam ser as possibilidades de contribuir para uma mudança no atual cenário. E isso considerando como discussão superada a “competição’ entre livros físicos e eletrônicos, mas vendo os ebooks com uma ferramenta nova e muito útil para fazer a literatura mais acessível a um número maior de pessoas. Mas há muitos entraves para que isso ocorra. Realmente não é agradável ler no computador, e com o preço dos e-readers, temos aí um estímulo a menos. E mesmo para quem está disposto à experimentar o ebook sem ter um e-reader, outro ponto importantíssimo, ao menos para aquele segmento de leitores que prefere distância dos Best Sellers e está mais interessada em literatura com letras maiúsculas, é que realmente a oferta em língua portuguesa ainda deixa muito a desejar (embora tenha melhorado significativamente nos últimos 12 meses). Por outro lado, para os “leitores-avestruz” (não é uma crítica, apenas uma figura de linguagem, sim!?) há uma grande disponibilidade de versões gratuitas (muitas piratas, é verdade!)e uma enxurrada de textos curtos (e muitos são realmente bons) espalhados em zilhões de blogs e similares. Por que, então, comprar um ebook? Essa pergunta um colega de uma lista de discussão jogou como provocação para que refletíssemos e não alimentássemos expectativas excessivas com nosso projeto. E é um argumento corretíssimo.
Esperança zero, então? Não, nem otimismo irracional, tampouco o desespero. Melhor analisar a situação sob o ponto de vista do tempo necessário para que se colham resultados em qualquer intento. Alguém aí já deve ter ouvido falar do livro Outliers, não? Eu não li ainda, mas concordo completamente com o argumento. Sucesso por mero acaso e rapidamente é mito. Por isso, incito quem tenha interesse ou vontade de ver ebooks decolando no Brasil a partilhar certas práticas:
Experimente! Mesmo que não queria comprar ebooks, procure amostras grátis ou publicações gratuitas;
Partilhe! Leu algo que te agradou? Comente, divulgue o link do autor / editora. Não gostou?? Faça o mesmo (com respeito, claro).
Resista menos! Não pense no ebook como um concorrente do insubstituível livro de papel, com cheiro, tato e história, mas como uma facilidade de acesso ao que realmente interessa: o texto!
Fonte:
http://www.artistasgauchos.com.br/
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