domingo, 17 de março de 2013

Francisco Miguel de Moura (A Nova Literatura Brasileira)

Libreria Fogola Pisa
É preciso considerar que muitos autores estão surgindo dentro dos Estados do Nordeste e até nos do Centro-Sul e que não são divulgados. E merecem as honras de nomes nacionais, suas obras são realmente excelentes. Ninguém sabe por que motivo a imprensa e a mídia os trocam por “valores” duvidosos, sem leitores e sem crítica que os suportem, que ficam encalhando as livrarias, os supermercados e até as bancas de jornal. Ou será que os leitores e os críticos que não moram nos grandes centros não têm competência? Isto é o que eu chamo julgar uma obra pelo simples fato de o endereço do Autor não estar numa grande capital como Rio e principalmente São Paulo. Verdadeiro absurdo, verdadeiro contra-senso! É inversão de valores.

Aliás, sabemos de muitas coisas que não são ditas. Uns ficam calados com medo da concorrência, outros, muitas vezes, nem conhecem nem estudam os pormenores. Mas, como diz o público sábio: “Quanto mais cabras, mais cabritos”. Ninguém deve ter medo de concorrência nem calar as boas causas como a proclamação dos grandes nomes da literatura brasileira atual. Desse mal da inveja não padece o poeta e jornalista Luiz Fernandes da Silva. Ao contrário, no seu jornal mimeografado, “Correio da Poesia”, feito com imenso sacrifício pessoal, vem divulgando a grande poesia e prosa da atualidade. E sua divulgação não se resume nisto: ele o distribui incansavelmente e está em todos os eventos que pode, no “trabalho de formiguinha” de divulgação, não apenas de si mesmo, que, aliás, tem até deixado de lado. No mundo literário de hoje há poucas pessoas com a sua generosidade. Outro nome que não posso deixar de citar, do mesmo nível de Luiz Fernandes, é do poeta Edson Guedes de Morais, em Recife. Já publicou uma antologia de poemas de poetas brasileiros do passado e do presente, em sua gráfica manual, em Guararapes – Recife (PE) e vários livros de autores como Anderson Braga Horta, Hardi Filho, Francisco Miguel de Moura, entre muitos outros. Esses valores ficarão, quer a grande mídia do Sul queira ou não. Disse-me, certa vez, o amigo e fino contista Caio Porfírio Carneiro, cearense: “Eles vão ter que me engolir como contista”. Eu quero repetir sua frase, adaptando-a à poesia: “Eles vão ter que me engolir como poeta”.

Aproveitando um escrito do Luiz Fernandes da Silva, cito os nomes que ele lembrou, sejam do Norte, Nordeste, Sul, Sudeste, Centro-Oeste. Ele começa com meu nome, a quem acaba de me conceder o título de “Embaixador da Poesia no Brasil” (2012) e passa a outros de talento como Ary Lins Pedrosa, paraibano radicado em Maceió-AL (breve lançando mais um livro), a grande crítica literária e professora universitária Elizabeth Marinheiro, poetas e contistas Silvério Ramos da Costa, Chapecó (SC), Anderson Braga Horta, mineiro já citado acima, Humberto Del’ Maestro, de Vitória (ES), e Djanira Pio, de São Paulo, além de outros que seria cansativo citar.

Mas não vou deixar de citar o poeta e editor Waldir Ribeiro do Val – que publicou recentemente “50 poemas escolhidos pelo autor” –, pelos seus méritos poéticos, que são grandes, com uma poesia fina, onde partilha os sentimentos humanos e interpreta os da natureza, sem precisar bem o social que carrega na própria alma. Ninguém esquece versos como: “Escrita nos muros, a palavra é súplica” e outras que evocam “as esperanças dos homens”, especialmente dos poetas (vide poema “Paz”, pg. 43). Nessa coleção de editados por ele com o título de “50 poemas escolhidos pelo autor”, que já vai a mais de 60 títulos, constam nomes famosos como Gilberto Mendonça Teles, Ledo Ivo, Carlos Nejar, Antônio Olinto e Pedro Lyra, mas também muitos outros menos conhecidos e já famosos, e outros nem tanto, porém que já apresentam uma poesia de fazer inveja pelo domínio da palavra. Há entre eles, dois piauienses -: Álvaro Pacheco e Diego Mendes Sousa, um já praticamente com sua obra pronta e encerrada, o outro começando agora, com dois ou três livros já publicados, além do da coleção “50 poemas...” Esses nomes não podem ser ignorados. Além do mais temos sites de poesia como o do Antônio Miranda e o do Soares Feitosa, que são verdadeiras antologias contemporâneas de prosa e verso.

A nova literatura brasileira está aí, mostrando sua importância e superioridade em estilo, profundidade e valor. Não comparável, jamais, com a literatura de “massa” de “falsos escritores” que nunca conseguiram fazer um soneto, quando fazem uma trova é de “pés e mãos quebradas”, não sabem o que é medida, ritmo, imagens, metáforas, metonímias, símbolos, intertextos e intratextos, além de outras “cositas mas” que são as descobertas e os segredos do verdadeiro poeta. Não sabem o que é um conto, uma crônica bem feita. Sabem mal da “literatura de auto-ajuda” e dessa massa de “bestas-de-sela” que são vendidos como romances – os mais vendidos. A quem?

Parte II

No artigo anterior, aproveitei sugestões do poeta Luiz Fernandes da Silva, que me apontou nomes de peso surgidos recentemente para a Literatura Brasileira, especialmente aqueles que moram na província. Hoje, eu mesmo aponto outros valores reconhecidos pelos atuais leitores e algumas pequenas editoras. Têm, esses novos, características distintas e impressionantes: estilos e formas de escrever e criar surpreendentes.

Aqui, um adendo: devo declarar que as “Histórias da Literatura Brasileira”, escritas no passado, não servem mais pra nada, a não ser para alguma pesquisa sobre figuras que ficaram na sombra. Sílvio Romero e José Veríssimo, os dois mais conhecidos, estão fora de qualquer cogitação séria sobre autores “nacionais” ou “provincianos” em que, por eles foram divididos os autores. Já não existem províncias, ainda existem Estados Federados (mas, apenas na letra da Constituição). Na verdade, somos um Brasil único com muitas “ilhas literárias” como especificou Viana Moog. A proposição de Moog valeu por algum tempo, mas, graças a Deus e a nós escritores novos, está sendo revista para hospitalização e sepultamento. O que acontece é que o formalista José Veríssimo e o sociólogo Sílvio Romero abriram feridas no corpo da Literatura Brasileira, pespegando-nos a antítese: – A obra ou é sociológica (daí o romance e os demais gêneros regionalistas); ou clássico-formalista (daí a literatura urbana, para José Veríssimo, a “legítima literatura brasileira”) feita por escritores que moram no Rio ou São Paulo, e os demais eram a escória. Na malfadada classificação, hoje derrubada, até o clássico Machado de Assis seria (e, no fundo, é também) um regionalista; e Graciliano Ramos, o regionalista, seria (e é de fato) um escritor nacional. Não sei que coisa mais sem lógica, mais ridícula do que essa invenção “boba”.

Quem nasceu e viveu no Brasil, sabe escrever bem, cria e produz obras de ficção de valor (poesia também é ficção), faz-se editado por si ou por alguém que se considere editor – desde que o livro seja divulgado, não importa se em Portugal, na França, na China, no Piauí ou no Rio – todos esses são escritores brasileiros. E pronto.

Poderíamos quase dizer que morreram os críticos e historiadores literários, com o falecimento de Afrânio Coutinho e Wilson Martins. Mas, Afrânio Coutinho reuniu, antes, uma equipe invejável de intelectuais, entre eles, nosso piauiense Assis Brasil, e preencheu bem a falta da História Literária, do fim do século passado até hoje.  Foi feita sob a orientação de Afrânio Coutinho, com a colaboração de Wilson Martins, Antônio Cândido, Luís Costa Lima, Eugênio Gomes, Aderaldo Castelo, entre dezenas de outros grandes nomes da crítica e do magistério. Mas essa “A Literatura no Brasil” (assim o nome) já está precisando de atualização. Diga-se, a bem da verdade, que foi Afrânio Coutinho quem veio acabar com a discriminação de “regionalismo”, trazendo, de seus estudos no exterior, “a nova crítica”. Se os professores de universidades a desconhecem, pior pra eles. Porque uma nova geração está surgindo em todos os cantos do Brasil, de fazer inveja aos do passado. Quantos poderíamos citar? Muitos. Começo pelo Ceará, com Nilto Maciel e seu grupo da “Literatura – Revista do Escritor Brasileiro”, fundada em Brasília e depois transportada, com a mesma gana, para Fortaleza. Somente no nº 26, o que tenho em mão, quantos nomes, quantos bons autores? Começa com o próprio Nilto Maciel, romancista premiadíssimo, que faz uma entrevista a Francisco Miguel de Moura, onde eu falo dos novos daqui: O. G. Rego, Fontes Ibiapina, H. Dobal, Rubervan du Nascimento, entre outros. Demais colaboradores selecionados na revista “Literatura...”, nº 26, mencionada: Nicodemos Sena, Moema de Castro Silva Olival, Batista de Lima, Adelaide Petters Lessa, Caio Porfírio Carneiro, Wilson Pereira, Manoel Lobato, Maria Socorro Cardoso Xavier, Manoel Hygino dos Santos, José Luiz Dutra de Toledo, Berredo de Menezes, Nelson Hoffmann, Eduardo Campos, Enéas Athanázio, Aricy Curvelo, Jorge Tufic, Aníbal Beça, José Helder de Sousa, Ângelo d’Ávila, Glauco Matoso, Artêmio Zanon, Sânzio de Azevedo, Anderson Braga Horta, Luciano Bonfim, Almir Gomes de Castro e mais alguns, porque o espaço que uso é pequeno.

Este rol de escritores cobre o Brasil de norte a sul, de leste a oeste, sem distinção. Entre eles há mais de uma dezena dos maiores escritores modernos da nossa época, aos quais faltam somente editores de vergonha, professores e universidades que direcionem bem seus alunos, críticos e jornalista. É assim que os leitores vão aparecendo. E nada disto existe no Brasil atual, o que é uma lástima. Cada vez mais nos tornamos o quintal (pra não dizer chiqueiro) dos americanos.
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Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

Fontes:
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com.br/2013/02/a-nova-literatura-brasileira-1.html
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com.br/2013/03/a-nova-literatura-brasileira-2.html

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