CIÚME
O sucesso o aplauso o cumprimento
no reconhecer a raiva entranhada
ciúme
nada mais querem de você
nessa hora de glória
em que o mundo vem abaixo
e você somente agradece.
CONSTRUIR
O homem destrói
a casa
e a refaz
em prédios
maiores
a magnitude da obra
indica o poder
a fortuna
a capacidade
a determinação
o descaso com o que está feito
o terreno ao lado
permanece vazio
vago
desocupado.
ESCREVER
Sobre o que escrevo a terra liberta
o texto indigesto e acrobático. Conheço
no espaço a treva na extensão afoita
das respostas - amanhã será a véspera
da repetição. A inocência em olhos
sobrestados no contínuo linguajar:
a estrada em acordes de sentenças
que no dizer o gesto contemporiza
a estátua imobilizada ao talhe. Escrevo
o detalhe afirmado em sugestão
e ordem.
FACES
Sob a face
há outra face
e outra face
se sucede
na face
anterior
todas as faces olham
o mesmo lado
todos os lados
estão do lado de fora
sobre a primeira face
irreconhecível
se sustentam faces
sucessivas
você me vê na face
externa de onde olha
minha face infinita.
LUZES
O fulgor
refulge
- significa
estar avivado
no extremo
enuviado no espaço
descalço sobre a grama
lavado em corpo ácido -
o dourado poente
aponta vésper
e a noite antecede
o amanhecer
no globo
que se repete.
NADA
Velhas construções
e o badalar dos sinos
próximos
(pessoas se recolhem incólumes
em mais um dia de passagem)
estabeleço as regras
e retenho na velocidade
o corpo que se desloca
a vila se fecha em sonhos
de épocas anteriores: pássaros
adormecidos em árvores.
Estabeleço as regras
e as deposito
sobre o nada.
NORMAL
A normalidade
busca na igualdade:
crescer
estudar
arrumar emprego
casar
ter filhos: descender
ascender
ao cargo maior
descansar
envelhecer
perder
desesperar os filhos
na frustração da vida
igualada na normalidade.
RISOS
O riso
adulto
repassa
a criança
em vida
o velho sorri
sua estrada
em repouso
longe
o vulto
próximo
ao contato
o riso permanente
na razão que completa
as horas de espera.
SILÊNCIO
não há quem converse
que a rua fechada
escurece a hora
do recolhimento
onde estão as respostas
do ano findo?
onde faço do futuro
a ponte inferior
das respostas?
debruçado sobre a amurada
aterriso o corpo no desgosto
da rua fechada: não me responde
o escuro sobre a descendência
vinda no sabor do calor
que me desmancha
sei do horror que se aproxima
em lágrimas de chuva
Fonte:
O Autor
O sucesso o aplauso o cumprimento
no reconhecer a raiva entranhada
ciúme
nada mais querem de você
nessa hora de glória
em que o mundo vem abaixo
e você somente agradece.
CONSTRUIR
O homem destrói
a casa
e a refaz
em prédios
maiores
a magnitude da obra
indica o poder
a fortuna
a capacidade
a determinação
o descaso com o que está feito
o terreno ao lado
permanece vazio
vago
desocupado.
ESCREVER
Sobre o que escrevo a terra liberta
o texto indigesto e acrobático. Conheço
no espaço a treva na extensão afoita
das respostas - amanhã será a véspera
da repetição. A inocência em olhos
sobrestados no contínuo linguajar:
a estrada em acordes de sentenças
que no dizer o gesto contemporiza
a estátua imobilizada ao talhe. Escrevo
o detalhe afirmado em sugestão
e ordem.
FACES
Sob a face
há outra face
e outra face
se sucede
na face
anterior
todas as faces olham
o mesmo lado
todos os lados
estão do lado de fora
sobre a primeira face
irreconhecível
se sustentam faces
sucessivas
você me vê na face
externa de onde olha
minha face infinita.
LUZES
O fulgor
refulge
- significa
estar avivado
no extremo
enuviado no espaço
descalço sobre a grama
lavado em corpo ácido -
o dourado poente
aponta vésper
e a noite antecede
o amanhecer
no globo
que se repete.
NADA
Velhas construções
e o badalar dos sinos
próximos
(pessoas se recolhem incólumes
em mais um dia de passagem)
estabeleço as regras
e retenho na velocidade
o corpo que se desloca
a vila se fecha em sonhos
de épocas anteriores: pássaros
adormecidos em árvores.
Estabeleço as regras
e as deposito
sobre o nada.
NORMAL
A normalidade
busca na igualdade:
crescer
estudar
arrumar emprego
casar
ter filhos: descender
ascender
ao cargo maior
descansar
envelhecer
perder
desesperar os filhos
na frustração da vida
igualada na normalidade.
RISOS
O riso
adulto
repassa
a criança
em vida
o velho sorri
sua estrada
em repouso
longe
o vulto
próximo
ao contato
o riso permanente
na razão que completa
as horas de espera.
SILÊNCIO
não há quem converse
que a rua fechada
escurece a hora
do recolhimento
onde estão as respostas
do ano findo?
onde faço do futuro
a ponte inferior
das respostas?
debruçado sobre a amurada
aterriso o corpo no desgosto
da rua fechada: não me responde
o escuro sobre a descendência
vinda no sabor do calor
que me desmancha
sei do horror que se aproxima
em lágrimas de chuva
Fonte:
O Autor
Um comentário:
Gratíssimo Feldman, pelo sempre destaque dado aos meus poemas. Abraços, Pedro.
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