Oh! salve, irmão do Líbano,
Que altivo ergues a fronte,
Monarca destas serras,
Senhor da solidão!
Salve, gigante cúpula,
Que ostentas no horizonte,
Erguida sobre as terras,
A cruz da Redenção!
Em teus agrestes píncaros
O homem vive e sente
Mais longe deste mundo,
Mais próximo dos céus:
Por isso, nos seus êxtases,
O monge penitente
Aqui meditabundo
Se erguia aos pés de Deus.
Por largo tempo o cântico
Do pobre cenobita
Soou na ermida rude
Da tua solidão:
Hoje o silêncio lúgubre
Somente nela habita,
Silêncio d'ataúde
Em fúnebre mansão.
Porém se os coros místicos
Findaram sua reza,
Se a voz do santo hossana
Em ti já feneceu;
Tu vives, e inda incólume
Ao Deus da natureza,
Calada a voz humana,
Descantas o hino teu.
Oh! como és belo, erguendo-te
À luz do novo dia,
Que os mantos de verdura
Te banha de fulgor!
Quando o gemer dos zéfiros,
Das aves a harmonia,
Acordam na espessura
Louvando o Criador!
Mas quanto mais esplêndido
Serás quando a tormenta,
Sublime, rugidora,
Em teu regaço cai!
Quando de mil relâmpagos
Teu cume se apresenta
C'roado, como outrora
O fulgido Sinai!
Quando os tufões indómitos,
Rugindo nas escarpas,
Se abraçam às torrentes
Com hórrido fragor!
Depois, em negro vórtice,
Desferem nas mil harpas
De teus cedros ingentes
Um cântico ao Senhor!
Tu és grandioso; o ânimo
Que a sós aqui medita
Recolhe altas imagens
De santa inspiração.
Oh! porque veio túrbida
A guerra atroz, maldita,
Soltar nestas paragens
As vozes do canhão?
Dum lado eram as bélicas
Hostes de Bonaparte;
Do outro heróico e ufano
O povo português:
A liberdade e a pátria,
Ergueu seu estandarte,
E a história do tirano
Contou mais um revés.
Tudo passou: sumiram-se
Vencidos, vencedores;
Té mesmo do gigante
Soou a hora fatal;
Só tu, sorrindo impávido
Do tempo e seus furores,
Inda ergues arrogante
Teu vulto colossal.
E cada vez que fulgido
Renasce o novo dia,
De nova luz te banhas,
Despindo os negros véus;
E dizes, em teu júbilo,
Ao sol que te alumia:
– O rei destas montanhas
Saúda o rei dos céus.
Depois, ao vê-lo pálido
Nas vagas do horizonte,
Pareces ao mar vasto
Dizer com altivez:
Em teu regaço, ó pélago,
Tu lhe sumiste a fronte:
Avança, que de rasto
Virás beijar-me os pés.
Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource
Que altivo ergues a fronte,
Monarca destas serras,
Senhor da solidão!
Salve, gigante cúpula,
Que ostentas no horizonte,
Erguida sobre as terras,
A cruz da Redenção!
Em teus agrestes píncaros
O homem vive e sente
Mais longe deste mundo,
Mais próximo dos céus:
Por isso, nos seus êxtases,
O monge penitente
Aqui meditabundo
Se erguia aos pés de Deus.
Por largo tempo o cântico
Do pobre cenobita
Soou na ermida rude
Da tua solidão:
Hoje o silêncio lúgubre
Somente nela habita,
Silêncio d'ataúde
Em fúnebre mansão.
Porém se os coros místicos
Findaram sua reza,
Se a voz do santo hossana
Em ti já feneceu;
Tu vives, e inda incólume
Ao Deus da natureza,
Calada a voz humana,
Descantas o hino teu.
Oh! como és belo, erguendo-te
À luz do novo dia,
Que os mantos de verdura
Te banha de fulgor!
Quando o gemer dos zéfiros,
Das aves a harmonia,
Acordam na espessura
Louvando o Criador!
Mas quanto mais esplêndido
Serás quando a tormenta,
Sublime, rugidora,
Em teu regaço cai!
Quando de mil relâmpagos
Teu cume se apresenta
C'roado, como outrora
O fulgido Sinai!
Quando os tufões indómitos,
Rugindo nas escarpas,
Se abraçam às torrentes
Com hórrido fragor!
Depois, em negro vórtice,
Desferem nas mil harpas
De teus cedros ingentes
Um cântico ao Senhor!
Tu és grandioso; o ânimo
Que a sós aqui medita
Recolhe altas imagens
De santa inspiração.
Oh! porque veio túrbida
A guerra atroz, maldita,
Soltar nestas paragens
As vozes do canhão?
Dum lado eram as bélicas
Hostes de Bonaparte;
Do outro heróico e ufano
O povo português:
A liberdade e a pátria,
Ergueu seu estandarte,
E a história do tirano
Contou mais um revés.
Tudo passou: sumiram-se
Vencidos, vencedores;
Té mesmo do gigante
Soou a hora fatal;
Só tu, sorrindo impávido
Do tempo e seus furores,
Inda ergues arrogante
Teu vulto colossal.
E cada vez que fulgido
Renasce o novo dia,
De nova luz te banhas,
Despindo os negros véus;
E dizes, em teu júbilo,
Ao sol que te alumia:
– O rei destas montanhas
Saúda o rei dos céus.
Depois, ao vê-lo pálido
Nas vagas do horizonte,
Pareces ao mar vasto
Dizer com altivez:
Em teu regaço, ó pélago,
Tu lhe sumiste a fronte:
Avança, que de rasto
Virás beijar-me os pés.
Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource
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