segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A. A. De Assis (Maringá Gota a Gota) O ontem, eterno hoje

No prefácio do livro “A história dos normandos”, do querido amigo professor Thomas Bonnici (Maringá: Edições Diálogos, UEM, 2021), o professor Leandro Rust, da Universidade de Brasília, escreve que “ler (sobre ‘o que um dia existiu') seria trazer o ontem para perto”. Fiquei com essa ideia na cabeça, pensando no extraordinário valor da memória.

O cérebro humano tem sido descrito como o que há de mais fantástico em matéria de “computador”. Graças a ele preservamos um capital preciosíssimo – todas as nossas lembranças, guardadinhas como se fosse num livro que podemos reler a qualquer momento.

No meu “livro” não há nada minimamente comparável à grandiosa história dos normandos, tão bem narrada pelo Doutor Thomas. Tem, todavia, completa, a história de minha vida.

Já nas primeiras páginas me reencontro menino na paisagem rural onde nasci, na região montanhosa do município de São Fidélis-RJ. Nossa casa ficava num vale chamado “Bela Joana”. Na frente havia o terreiro e logo acima a área cultivada – o pasto e as plantações: café, milho, feijão, mandioca etc. No fundo, a horta, o galinheiro, a ceva de porcos e o pomar cheio de fruteiras e passarinhos. Um pouco abaixo passava o rio. No outro lado do rio começava uma grande mata, que cobria toda aquela banda da serra. Até onça tinha.

Nas páginas seguintes estou eu adolescente já morando na cidade. Nitidamente me revejo jogando bola de meia na Vila Nova; nadando no rio Paraíba do Sul; levando pito de Dona Morgada no Grupo Escolar Barão de Macaúbas; recitando latim nas aulas do professor Expedito; assistindo missa do padre Augusto; torcendo pelo Esportivo contra o Tabajaras...

Mais adiante me reflagro chegando a Maringá, janeiro de 1955. Foi muito legal já no primeiro dia conhecer um dos grandes ícones da geração pioneira – Ângelo Planas. Depois, pouco a pouco, fui conhecendo todos os outros.

Vou folheando o “livro” e trazendo de volta outros ontens que tive a alegria de partilhar, especialmente como jornalista, na fascinante história deste maravilhoso lugar. Lá estou eu entrevistando o primeiro prefeito, Villanova Júnior; entrevistando o primeiro bispo, Dom Jaime, na primeira semana após sua chegada à diocese; convivendo com os primeiros caciques do jornalismo local – Aristeu Brandespim, Manoel Tavares, Ivens Lagoano Pacheco; reportando a inauguração do Grande Hotel, da Catedral, do Parque do Ingá, da Universidade. Depois, como professor, convivendo e aprendendo com dezenas de valorosos e queridíssimos colegas e participando da formação de centenas de alunos que aí estão brilhando em todos os campos.

Bendita seja a memória da gente – o riquíssimo “livro” em cujas páginas os nossos ontens sobrevivem como eternos hojes. Lá estão tantos rostos que um dia para nós sorriram, tantas mãos que de algum modo um dia nos ajudaram, tantos familiares e amigos com os quais repartimos a graça de existir. Lá estão, facilmente reprisáveis, os nossos melhores momentos. Um tesouro habitualmente chamado saudade.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 04–11–2021)

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

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