Carolina Ramos
(Santos/SP)
SACI-PERERÊ
Saci-Pererê... O moleque atrevido!
Só tendo uma perna, veloz como o vento,
faz mil peraltices sem ser pressentido...
- Transforma a quietude da noite em tormento!
Dispara a boiada... Galopa e extenua
os pobres cavalos... e a crina lhes trança!
Cachimbo na boca... nas noites de lua,
remoinha a poeira na trêfega dança!
Se alguém, de surpresa, um dos gorros vermelhos,
consegue roubar... E, com sorte, reter...
terá como escravo o Saci de joelhos
que, sem o capuz, perde o mago poder!
Não raro, o Saci pode ser caluniado!
Se às vezes o culpam do extremo alvoroço,
nem sempre de tudo, em verdade, é culpado...
Do mal, talvez, seja até pálido esboço...
pois... há muita gente, de pele bem alva,
que tem duas pernas... cachimbo nem vê,
que bole com tudo... nem santo salva!
E é muito pior... que um Saci-Pererê!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
(Santos/SP)
SACI-PERERÊ
Saci-Pererê... O moleque atrevido!
Só tendo uma perna, veloz como o vento,
faz mil peraltices sem ser pressentido...
- Transforma a quietude da noite em tormento!
Dispara a boiada... Galopa e extenua
os pobres cavalos... e a crina lhes trança!
Cachimbo na boca... nas noites de lua,
remoinha a poeira na trêfega dança!
Se alguém, de surpresa, um dos gorros vermelhos,
consegue roubar... E, com sorte, reter...
terá como escravo o Saci de joelhos
que, sem o capuz, perde o mago poder!
Não raro, o Saci pode ser caluniado!
Se às vezes o culpam do extremo alvoroço,
nem sempre de tudo, em verdade, é culpado...
Do mal, talvez, seja até pálido esboço...
pois... há muita gente, de pele bem alva,
que tem duas pernas... cachimbo nem vê,
que bole com tudo... nem santo salva!
E é muito pior... que um Saci-Pererê!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
O saci, também conhecido como saci-pererê, saci-cererê, matimpererê, matita perê, saci-saçurá e saci-trique, é um personagem bastante conhecido do folclore brasileiro. Tem sua origem presumida entre os indígenas da Região das Missões, no Sul do país, de onde teria se espalhado por todo o território brasileiro.
A figura do saci surge como um ser maléfico, como somente brincalhão ou como gracioso, conforme as versões comuns ao sul.
ETIMOLOGIA
Três termos são importantes: "saci" é oriundo do termo tupi "sa'si". "Matimpererê" é oriundo do termo tupi "matintape're". O termo "pererê" é oriundo do termo tupi "pererek-a", que significa "ir aos saltos".
REPRESENTAÇÃO
O saci é um jovem negro de uma perna só, portador de uma carapuça sobre a cabeça que lhe concede poderes mágicos. Sobre este último caractere, é de notar-se que, já na mitologia romana, registrava Petrônio, no Satíricon, cujo píleo também conferia poderes ao íncubo e recompensas a quem o capturasse.
Considerado uma figura brincalhona, que se diverte com os animais e pessoas, fazendo pequenas travessuras que criam dificuldades domésticas, ou assustando viajantes noturnos com seus assovios – bastante agudos e impossíveis de serem localizados. Assim é que faz tranças nos cabelos dos animais, depois de deixá-los cansados com correrias; atrapalha o trabalho das cozinheiras, fazendo-as queimar as comidas, ou ainda, colocando sal nos recipientes de açúcar ou vice-versa; ou aos viajantes se perderem nas estradas. A ele é atribuída também a capacidade de ser carregado por redemoinhos.
INFLUÊNCIAS HISTÓRICAS
INDÍGENA
As entidades protetoras da floresta Jaci Jaterê da cosmologia guarani e o Kambaí da cosmologia caingangue são possíveis influências na concepção do Saci.
AFRICANA
Uma lenda iorubá descreve Aroni, um gnomo de uma perna só que ensina a Oçânhim sobre o uso de ervas medicinais pode ter influenciado a concepção do Saci. Outros relatam Oçânhim e Anoni como a mesma entidade.
PORTUGUESA
Da mitologia portuguesa, o saci herdou o píleo, um gorrinho vermelho usado pelo lendário trasgo. Trasgo é um ser encantado do folclore do norte de Portugal, especialmente da região de Trás-os-Montes. Rebeldes, de pequena estatura, os trasgos usam gorros vermelhos e possuem poderes sobrenaturais.
De Portugal para o Brasil veio a crença da explicação sobrenatural sobre redemoinhos, de que seriam guiados por uma "coisa ruim" e que poderiam arremessar pessoas. Foi documentada essa crença no Brasil, paralelamente a crença da ligação entre o Saci e redemoinhos.
NAS MÍDIAS CONTEMPORÂNEAS
O saci se tornou presente nas artes brasileiras a partir de 1917, em publicação por Monteiro Lobato em jornal de pesquisa sobre crenças sobre a figura.
LITERATURA
O primeiro escritor a se voltar para a figura do saci-pererê foi Monteiro Lobato, que realizou uma pesquisa entre os leitores do jornal O Estado de S. Paulo. Com o título de "Mitologia Brasílica – Inquérito sobre o Saci-Pererê", Lobato colheu respostas dos leitores do jornal que narravam as versões do mito, no ano de 1917. O resultado foi a publicação, no ano seguinte, da obra O Saci-Pererê: resultado de um inquérito, primeiro livro do escritor.
Mais tarde, em 1921, o autor voltaria a recorrer ao personagem, no livro O Saci, seu segundo trabalho dedicado à literatura infantil.
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
O quadrinista Ziraldo criou em 1958 a série de histórias em quadrinhos A Turma do Pererê, em que o Saci contracena com o índio Tininim, a onça-pintada Galileu e outros personagens. As histórias foram originalmente publicadas na revista O Cruzeiro.
Saci aparece em várias histórias da Turma da Mônica de Mauricio de Sousa e em histórias brasileira dos quadrinhos Disney.
CINEMA E TELEVISÃO
O primeiro ator a representar o papel foi Paulo Matozinho, no filme O Saci, adaptado do livro infantil de Lobato. A produção de 1951 da Brasiliense Filmes foi dirigida por Rodolfo Nanni.
Na televisão, as séries que adaptaram a obra de Monteiro Lobato em 1977 e 2007 tiveram Romeu Evaristo e Fabrício Boliveira, respectivamente, interpretando o personagem. O cantor Jorge Benjor também encarnou o saci no especial Pirlimpimpim, de 1982. Em Pirlimpimpim 2, de 1984, foi a vez de Genivaldo dos Santos vestir a carapuça.
Na adaptação para a tevê das histórias de Ziraldo, o papel de Pererê coube a Silvio Guindane.
MÚSICA
Em 1912, o compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos escreveu a marcha "Saci", quinta parte da sua suíte para piano "Petizada" (W048). A composição, assim como as outras da mesma peça, é inspirada no folclore musical brasileiro.
Francisco Mignone também deu o nome de "Saci" à sexta parte dos seus "Estudos Transcendentais" para piano, de 1931.
O maestro Edmundo Villani-Cortes voltou a lhe dar vida em obras como "Primeira folha do diário do saci" (para piano, 1994), "Terceira folha do diário de um saci" (para flauta, 1992) e "Sétima folha do diário de um saci" (para contrabaixo, 1992).
Na música popular, a primeira referência ao personagem data de 1909, ano da composição de "Saci-Pererê", de Chiquinha Gonzaga, gravada pela dupla Os Geraldos. Em 1913, foi a vez de "Saci", uma polca de J.B. Nascimento gravada pelo Sexteto da Casa. Gastão Formenti também gravou duas músicas intituladas "Saci-Pererê": uma toada de Joubert de Carvalho, em 1918 e uma canção de J. Aimberê e Bide, em 1929.
Nas décadas seguintes, outros artistas recorreram ao tema, como "Teu olhar é um Saci", de Cipó Jurandi e Décio Abramo, 1930; "Saci-Pererê", de J.B. Carvalho, 1932; "Saci-Pererê", de Ivani, 1949; "Saci", baião de Antônio Bruno e Ernesto Zwarg, 1956).
No especial "Pirlimpimpim" (1982), a canção para o personagem ficou por conta de Jorge Benjor ("Saci Pererê". A terceira versão do Sítio para a tevê incluiu, na sua trilha, "Pererê Peralta (saci)", de Carlinhos Brown (2001) e "Eu vi o Saci", de Marcos Sacramento e Izak Dahora (2006).
Na música instrumental, as principais referências são o violonista Carlinhos Antunes ("Saci-Pererê", 1996), a banda Terreno Baldio (Saci-Pererê, 1977), Guilherme Lamounier ("Saci-Pererê", 1978) e o Quarteto Pererê ("Polka do Sacy" e "Liberdade Pererê", ambas no álbum "Balaio", 2010) [27]. O Quarteto Pererê já havia apresentado, em 2005, o espetáculo Saci Armorial, em que fundia a lenda com o universo literário do escritor pernambucano Ariano Suassuna [28].
Uso do nome nas ciências
Em 2013, uma nova espécie de anfíbio anuro (Adenomera saci[30]) foi descrita do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no estado de Goiás. O nome dado à espécie faz alusão à vocalização da espécie, que é um assobio curto e intermitente, e pela dificuldade de se observar indivíduos da espécie cantando, que podem ser elusivos, como atribuído ao saci na cultura popular: "...ele assobia para assustar e confundir os viajantes noturnos, a origem dos assobios impossível de ser localizada...".
Em 2001, uma nova espécie de dinossauro ornitísquio foi descoberta em Agudo, no Rio Grande do Sul. Como o fóssil foi encontrado sem o fêmur esquerdo, recebeu o nome de Sacisaurus agudoensis.
DIA DO SACI
Em 2005, foi instituído o Dia do Saci no Estado de São Paulo, a data também é celebrado em Vitória (Espírito Santo); Poços de Caldas e Uberaba (Minas Gerais); Fortaleza e Independência (Ceará) comemorado no dia 31 de outubro, a fim de restaurar as figuras do folclore brasileiro, em contraposição a influências folclóricas estrangeiras, como o Dia das Bruxas.
Fontes:
- Poesia Saci Pererê: Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore).
- Poesia Saci Pererê: Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore).
Santos/SP: publicado pela Editora Mônica Petroni Mathias, 2021.
- O Saci: Wikipedia
- O Saci: Wikipedia
Nenhum comentário:
Postar um comentário