sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Odenir Follador (A aposta)

Acredito que é do conhecimento de muitos as histórias sobre superstições populares que eram contadas em muitas regiões do país. Principalmente quando se tratava do interior do Brasil.

Era época da colonização interiorana ocupada na maioria por imigrantes que aqui vieram se instalar, na ânsia de conseguirem melhores condições de vida em relação as de suas pátrias, que deixaram para trás e aqui vieram como verdadeiros e corajosos desbravadores, trazendo pouca bagagem, mas com um grande sonho de realizações e prosperidade nestas terras ainda virgens, como as do sul do país.

Haviam muitas descontrações nessas localidades, como reuniões nos armazéns e contíguo aos mesmos, onde existia uma bodega, na qual se jogava baralho, cachola, e outras competições típicas de suas origens, sempre acompanhados de cachaça e de cerveja. Esta era armazenada na terra através de um alçapão sob o assoalho, para proporcionar uma temperatura adequada, pois só mais tarde pôde-se contar com geladeiras a querosene. Contudo, as principais atrações eram os festejos realizados em homenagem aos Santos daquelas paróquias. Essas localidades, bastantes afastadas dos grandes centros, com suas casas distantes umas das outras. As estradas disponíveis eram para carroças ou cavalos, não havia nem mesmo iluminações nos caminhos, eram somente utilizados lampiões ou lamparinas para quebrar o negrume da noite no interior das casas. Clima este que propiciava a muitas superstições, na maioria ouvida de antigos moradores: caboclos do lugarejo. E neste contexto formado da localidade, era comum serem contados causos de assombrações. Um a um, os mais falantes iniciavam as histórias que se delineavam pela tarde até o sol se esconder no horizonte.

Firmino, o primeiro a tomar a palavra falou:

– Eu quero fazer uma aposta com qualquer um de vocês! Quero ver quem tem mais coragem! O que foi, Casimiro? Você levantou a mão para participar?... Ou é outra coisa?

- Nada não, Firmino! Só fui arrumar o chapéu.

– Então é o seguinte pessoal: Aqui perto tem um cemitério. Eu vou apostar um conto de réis que ninguém tem coragem de ir até lá, pegar de qualquer túmulo do chão a cruz que está enterrada e trazer até aqui para nos mostrar.

- Pois é comigo mesmo, Firmino... Eu vou! - gritou o sr. Fagundes - Sou cabra-macho!

- Só acredito vendo. – falou o amigo – vou até lhe separar um conto de réis.

E lá se foi o Fagundes... Era um homem de seus sessenta e poucos anos, baixo e de barriga saliente, já grisalho nas têmporas, pois lhe faltava acima o resto dos cabelos. Mas compensava pelo vasto bigode também grisalho.

Nesse meio tempo formou-se um temporal, que era um aguaceiro só. Mas não intimidou o Fagundes. Este colocou o seu enorme ponche, para proteger-se da chuva e seguiu rumo ao cemitério.

Chegou, olhou pros lados e para trás como que meio arrependido. “Cabra-macho!?” Pensou ele. “O que não faz uns goles a mais... Agora não adianta, vamos lá!” E abaixando-se sobre um túmulo no chão, agarrou a cruz e puxando com força retirou-a do lugar. Rápido como podiam ajudar as suas pernas, veio ter com os amigos e a se vangloriar da sua proeza e valentia.

- Olha aqui, Firmino!... Serve esta cruz? Ou quer que vá buscar outra? – ele ria-se todo, mostrando os poucos dentes caninos que ainda insistiam em permanecer, um de cada lado.

Todos aplaudiram o sr. Fagundes. “Esse é cabra-macho mesmo!”

- Tudo bem! – falou Firmino - Trato é trato. Sou homem de uma palavra só! Aqui está o seu dinheiro. Mas só lhe dou depois que você colocar a cruz de volta no lugar.

- É comigo mesmo, Firmino! Segure o dinheiro que já volto.

E partindo em direção ao cemitério, entrou e foi em direção à dita cova e abaixando-se empurrou com força a cruz de volta ao seu buraco. Mas eis que o destino sempre está a espreita. O ponche, devido ele haver se abaixado, ficou sobre o buraco e a ponta deste foi enterrada junto com a cruz. Ao levantar-se viu que não podia sair do lugar... Um grande terror se apoderou dele, pois achou que o defunto o segurava pelo ponche. Tomado de imenso pavor e horror por ser crédulo às superstições e histórias do além, ficou em agonia passando muito mal.

Como demorava muito para voltar, os amigos foram verificar achando tratar-se de alguma brincadeira do sr. Fagundes. Mas... quando eles chegaram ao local, qual não foi o espanto de todos? Encontraram-no já sem vida.

Um fulminante ataque cardíaco foi a causa! Caiu morto ali mesmo sobre aquele túmulo.
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Odenir Follador, nasceu em 31 de maio de 1948, em Taquaruçu, Distrito de Palmeira-PR, filho de Ricardo Guido Follador e Amandina Corsi Follador.

Formado como Técnico de Contabilidade em 1975, Licenciado em Ciências em 1979, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e Licenciado em Letras – Português/Inglês em 2017, pela UniCesumar de Maringá-PR. Pós-graduação “Lato Sensu” em Neuroaprendizagem, pela UniCesumar em 2019.

Atuou como Militar no 13º Batalhão de Infantaria Blindado de 1967 a 1977, e como Economiário na Caixa Econômica Federal, em Castro e Ponta Grossa, nas funções de Escriturário, Caixa Executivo, Gerente de Núcleo e Supervisor, até sua aposentadoria.

Atuou por algum tempo como professor de Matemática, e como professor de Ciências. Teve experiência por algum tempo com professor de música.

Membro correspondente da ACLAB – Academia de Ciências Letras e Artes Belforroxense, Rio de Janeiro-RJ; Membro correspondente da ALB – Academia de Letras Brasil/Suíça; Membro da ALCG - Academia de Letras dos Campos Gerais, Ponta Grossa-PR; Membro Correspondente da ALPAS 21 - Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências ‘A Palavra do Século 21’; Membro Correspondente da ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni – MG; Membro Efetivo da APLA - Academia Ponta-grossense de Letras e Artes, Ponta Grossa-PR; Membro efetivo da ARTPOP – Academia de Artes de Cabo Frio -RJ; Membro correspondente do CONINTER – Conselho Internacional dos Acadêmicos de Ciências, Letras e Artes, Rio de Janeiro –RJ; Membro correspondente da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes, Niterói-RJ; Membro efetivo do MNEL - Movimento Nacional Elos Literários, Salvador – BA; Membro correspondente da OBCH – Ordem dos Benfeitores Culturais da Humanidade, Rio de Janeiro-RJ; Membro efetivo da OMDDH da OMDDH -Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos.

Figurante do filme Cafundó em Ponta Grossa em 1999, lançado no Brasil em de 2005. Premiado em concursos de trovas, poesias e contos no Brasil e exterior. Em 2015, a Câmara Municipal de Ponta Grossa lhe confere o Título de Cidadão Honorário de Ponta Grossa, pelos relevantes serviços prestados á Comunidade e ao Município. Em 14 de maio de 2016, o Colegiado Acadêmico da ARTPOP-RJ, outorga-lhe o título Personalidade 2015, reconhecendo, distinguido, premiando e homenageando-o, por suas iniciativas durante o ano de 2015 no cenário cultural, se destacando em nossa sociedade com excelência na gestão de sua carreira, contribuindo assim, efetivamente para o desenvolvimento da Cultura de nosso país. Em 2016, O Conselho Internacional dos Acadêmicos de Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro, lhe confere a Medalha no Grau Oficial “Ordem do Mérito Conìnter Artes”. Em 2016, recebe a Medalha Elos Literários. Ainda neste ano, o Conselho Internacional dos Acadêmicos de Ciências, Letras e Artes & o Instituto Comnène Palaiologos de Educação e Cultura, lhe concede a Medalha e outorga a presente Comenda da Paz Nelson Mandela, com direito ao uso do Título Honorífico de Comendador, em reconhecimento de Suas contribuições de destaque nas diversas áreas de trabalho, bem como os Seus Atos que contribuíram através de Serviços Prestados à Humanidade, através da Influência Intelectual, Científica e Artística.

Livros publicados:
Memórias de infância e outros relatos (Ponta Grossa: Estúdio Texto, 2012) e Associação dos Militares da Reserva–ASMIRE (Ponta Grossa: Estúdio Texto, 2015).

Faleceu em 23 de novembro de 2021, em Ponta Grossa.

Mais detalhes sobre as premiações e honrarias, veja em https://www.alpas21.com/odenir-follador

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

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