sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Caldeirão Poético XXXIX: Ribeirão Preto/SP

Marlene Bernardo Cerviglieri
Ribeirão Preto/SP


AS MARCAS NA PAREDE


Ainda estão lá, as marcas na parede.
Dizem alguma coisa, bem sei,
É justamente para eu não esquecer!
Estão firmes e posso vê-las,
De qualquer lado, até no espaço!

As marcas na parede...
Representam um lugar no meu coração,
Num passado distante,
Onde foram guardadas
As grandes e eternas ilusões...

Representam a captação de momentos
Preciosos, talvez
Aparentes também,
Não sei.
São marcas na parede.

Volto ao presente e, indolentemente,
Vou guardando o que sobrou das
Marcas ainda permanentes
Dos retratos!
Um a um, amarelados pelo tempo,
Que agora só deixam marcas
No espaço, e nas paredes.
Do tempo que há muito já se foi.
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Nelson Jacintho
Ribeirão Preto/SP


A BORBOLETA AZUL


A borboleta voa...
A borboleta voa entre as casas
da colônia abandonada.
Parece triste e sem destino.
Que aconteceu contigo
minha linda borboleta?
Pareces estar sem tino!
Olho e vejo que não é
somente tu que estás triste...
Onde estão as crianças
que brincavam contigo?
Onde estão os jardins das casas?
Criaram asas?
Voaram para outras plagas?
E as grandes mangueiras,
cujas mangas sujavam de amarelo
as bocas descoradas
e davam espinhas
nas caras maculadas?

Como era alegre a vida
nas colônias em tempos passados!
Onde estão os namorados,
as festas de Santo Antonio,
São Pedro e São João,
os buscapés que faziam
as idosas erguerem os pés?
Onde estão as tardes fagueiras,
as aquecidas fogueiras,
o esperado quentão?
Onde está o pau de sebo
que causava tanto medo
na molecada atrevida?
Morreu a vida?

É, borboleta, a vida mudou,
a cana de fazer álcool, a vida atropelou.
Desapareceu a euforia,
não há mais a vida que sorria,
a vida que dava vida à vida,
a vida recheada de alegria!
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Rita Marciano Mourão
Ribeirão Preto/SP


A POESIA PEDE SILÊNCIO


Poetar é meu jeito de estar sozinha,
esquecer o mundo e suas ameaças.
A poesia pede silêncio, recolhimento.
O silêncio me leva a exorcizar os demônios
que insistem em amordaçar a minha liberdade
de ser e de amar.
A poesia me aproxima de Deus!
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Waldomiro W. Peixoto
Ribeirão Preto/SP


A SEMENTE


Tentáculos a rasgar e engravidar a terra
Consumindo a seiva e perdendo a guerra.

O tronco, soberbo, à vida dos escombros reconduz,
Ignorando a morte, uma explosão de luz.
Sobre o ventre aberto da terra
Fálico ostenta até o orgulho
Másculo de crescer de pé.

O recôndito mistério de fender a terra
Joga ainda com a probabilidade
De comer a seiva e vencer a guerra.

Seca, aparentando a morte, plena
De mistérios, contida,
A semente traz, em seu ventre forte,
Uma explosão de vida.

Fontes:
= Academia de Letras de Ribeirão Preto
= Rita Mourão. Cristais Poéticos. 2021.

Um comentário:

Unknown disse...

Agradeço a postage
MSRLENE Cerviglieri