terça-feira, 2 de novembro de 2021

Auta de Souza (Poemas Escolhidos) – 6

MEDITAÇÃO

Alma cansada de chorar, cansada
De sofrer nas agruras do caminho,
Há quem te veja no Celeste Ninho
Os tristes pesadelos da jornada...

Se além da noite brilha a madrugada,
Resplende, além do túmulo escarninho,
Nova aurora de paz e de carinho
Para a glória da vida torturada.

Não te detenhas, sob a ventania.
Vence o pavor da senda escura e fria,
Guardando o bem por arma em teus combates...

Segue buscando o Amor do Eterno Amigo
E encontrarás a Luz do Céu contigo
Nas aflições dos últimos resgates.
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ROGATIVA

Abençoa, Senhor, o brando ninho
Em que este lar de amor se transfigura,
Entretecendo em fios de ternura
Agasalho aos que choram no caminho

Mergulhados no escuro torvelinho
De nossa própria senda estranha e dura
Avançamos nós mesmos à procura
Do asilo tutelar de Teu Carinho!...

Ensina-nos, assim, em toda a parte
A exprimir-te as lições ao reencontrar-te
Em nosso irmão que a dor punge e governa!

E faze desta casa o doce abrigo
Em que possamos trabalhar contigo
No culto vivo da Bondade Eterna.
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SEGUE, AMIGO

Fatigado romeiro da fé pura,
Sem bordão de conforto a que te arrimes,
Por mais cansado, não te desanimes
Na jornada de pranto e de amargura.

Além do Grande Além, na imensa Altura,
Brilham no Eterno Amor em que te exprimes
As pátrias generosas e sublimes
Da beleza, da graça e da ventura!

Na subida de pedra, cinza e lama,
Sangrem-se os pés embora, nutre a chama
Que arde, incessante, no teu peito aflito;

Sonha acima da escura tempestade
E chegarás, cantando, à Eternidade
Sob a glória celeste do Infinito!…
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SIGAMOS JUNTOS

Enxuga o pranto que te molha o rosto,
Emudece a revolta e vem comigo
Para o vale onde a noite abre o postigo
Da vida que respira a contragosto.

Fita o rude semblante descomposto
Dos que sonham debalde um peito amigo,
A solidão, a fome, o desabrigo,
O assombro e o desespero do desgosto...

Ampara a multidão ansiosa e tarda,
A desfazer-se em sombra áspera e fria,
Dos corações no fel da retaguarda.

Semeia a caridade humilde e franca
E esquecerás a mágoa que te espanca
Por transformá-la em bênção de alegria.
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UNIÃO SEM ADEUS

Converte o pranto em que dilaceras
Em fonte de bondade, alma querida,
Transfigura em trabalho, paz e vida
A saudade que trazes de outras eras...

Espalha o bem, por mais que a dor coincida
Com teu sonho de novas primaveras,
Eleva-te a caminho, enquanto esperas,
Quanto mais alto, tanto mais subida.

Segue e serve, de pés sangrando embora,
Esquece-te, perdoa, lida, chora,
Luta, vence-te, sofre mas porfia!...

E encontrarás o reino do amor puro
Da união sem adeus ante o futuro
Na beleza perpétua da alegria

Fonte:
Francisco Cândido Xavier. Auta de Souza. Ebook obtido na Biblioteca Espírita.

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