já fui coisa
escrita na lousa
hoje sem musa
apenas meu nome
escrito na blusa
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
o mestre gira o globo
balança a cabeça e diz
o mundo é isso e assim
livros alunos aparelhos
somem pelas janelas
nuvem de pó de giz
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
você para
a fim de ver
o que te espera
só uma nuvem
te separa
das estrelas
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
ana vê alice
como se nada visse
como se nada ali estivesse
como se ana não existisse
vendo ana
alice descobre a análise
ana vale-se
da análise de alice
faz-se Ana Alice
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
tão longe eu lhe disse até logo
um pouco de tudo passou-se outra vez
e foi uma vez toda feita de jogos
aquela outra vez que não soube ser vez
pois voltou e voltou e voltou
sem saber que de duas uma
nunca são três
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
carta ao acaso
a carta do baralho
grande gilete
corta sem barulho
o olho do valete
o rei a fio de espada
a água e a farinha
uma só passada
a espada na rainha
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
soubesse que era assim
não tinha nascido
e nunca teria sabido
ninguém nasce sabendo
até que eu sou meio esquecido
mas disso eu sempre me lembro
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
meus amigos
quando me dão a mão
sempre deixam
outra coisa
presença
olhar
lembrança calor
meus amigos
quando me dão
deixam na minha
a sua mão
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
nascemos em poemas diversos
destino quis que a gente se achasse
na mesma estrofe e na mesma classe
no mesmo verso e na mesma frase
rima à primeira vista nos vimos
trocamos nossos sinônimos
olhares não mais anônimos
nesta altura da leitura
nas mesmas pistas
mistas a minha a tua a nossa linha
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido
escrita na lousa
hoje sem musa
apenas meu nome
escrito na blusa
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o mestre gira o globo
balança a cabeça e diz
o mundo é isso e assim
livros alunos aparelhos
somem pelas janelas
nuvem de pó de giz
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
você para
a fim de ver
o que te espera
só uma nuvem
te separa
das estrelas
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
ana vê alice
como se nada visse
como se nada ali estivesse
como se ana não existisse
vendo ana
alice descobre a análise
ana vale-se
da análise de alice
faz-se Ana Alice
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tão longe eu lhe disse até logo
um pouco de tudo passou-se outra vez
e foi uma vez toda feita de jogos
aquela outra vez que não soube ser vez
pois voltou e voltou e voltou
sem saber que de duas uma
nunca são três
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carta ao acaso
a carta do baralho
grande gilete
corta sem barulho
o olho do valete
o rei a fio de espada
a água e a farinha
uma só passada
a espada na rainha
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
soubesse que era assim
não tinha nascido
e nunca teria sabido
ninguém nasce sabendo
até que eu sou meio esquecido
mas disso eu sempre me lembro
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
meus amigos
quando me dão a mão
sempre deixam
outra coisa
presença
olhar
lembrança calor
meus amigos
quando me dão
deixam na minha
a sua mão
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nascemos em poemas diversos
destino quis que a gente se achasse
na mesma estrofe e na mesma classe
no mesmo verso e na mesma frase
rima à primeira vista nos vimos
trocamos nossos sinônimos
olhares não mais anônimos
nesta altura da leitura
nas mesmas pistas
mistas a minha a tua a nossa linha
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acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido
Fonte:
Paulo Leminski. caprichos & relaxos. Publicado em 1983.
Paulo Leminski. caprichos & relaxos. Publicado em 1983.
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