quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Jaqueline Machado (O criador e a criatura: Frankestein, de Mary Shelley)

O Criador esboçou o homem à sua semelhança, isto é, a imagem espiritual da paz e do amor.

Sim. Nem sempre a beleza dotada de formas, cortes e molduras possui graciosidade. Os sentimentos, precursores da harmonia fazem florescer sorrisos, olhares doces e alguns gestos nobres, que fazem do ser humano, um sagrado e brilhante tesouro de Deus. O paraíso está instalado no íntimo de cada um. E Deus só enxerga o nosso interior... Mas eis que a cobiça e a soberba, com frequência tornam as pessoas brutas e sem fulgor.

No livro, Frankenstein, da autora Mary Shelley, o cientista cujo nome vai no título da obra, imerso em seus delírios e vaidades exclama: “Fui surpreendido pelo fato de que dentre tantos homens de gênio que assim como eu, dedicam –se à ciência, somente a mim foi reservado um segredo tão surpreendente”. Tal segredo consistia em dar vida a coisas mortas.

Depois de passar meses confinado num laboratório fazendo experimentos com pedaços de pessoas mortas, de suas mãos, ele vê surgir o milagre. Finalmente o Dr. Victor Frankenstein dá vida e sentido a sua criação.

A façanha estava cumprida. Porém, ao se deparar com aquele ser gigante, de pele amarelada, olhos fundos e lábios enegrecidos, seus nervos se ruborizam de pavor e, ele acaba fugindo da própria obra.

Ao brincar de Deus, a Natureza volta-se contra o cientista e o monstro cuja personalidade era um misto de fera e gente, sentindo –se em completo abandono, parte em vingança assassinando vários membros da família do cientista.

Essa história nos remete a refletir sobre a pobre e triste trajetória da humanidade que, dando as costas para a luz, partiu rumo às guerras, aos homicídios, as confecções de bombas, até chegarmos aos avanços científicos atuais, onde o homem revestido em sua tecnologia de ponta está prestes a se auto substituir por uma nação de androides fleumáticos e artificiais em suas ideias emocionais.

Victor, arrependido e imergido nas dores de seu remorso, parte para os Alpes afim de isolar-se do mundo. Mas como toda ação é portadora de múltiplas reações, ele tornara–se uma espécie de reinvenção do mitológico Prometeu que ao roubar a luz de Zeus para dar aos homens, teve que suportar sentir o seu fígado sendo devorado diariamente por sua própria consciência.

Em suma, a mensagem de Mary Shelley consiste no seguinte recado:

“Humanidade, não brinque de Deus. Seja humilde. Cuidado com suas criações! Se tiver que inventar, invente novas formas de amar. Porque somente o amor perpetua a verdadeira felicidade.

Fonte:
Texto enviado pela autora.

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