Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: “Aqui mora uma devedora inadimplente.”
– Você não pode fazer isso comigo! — protestou ela.
– Claro que posso! — replicou ele — Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
– Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise…
– Já sei. — ironizou ele — Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
– Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta…
– Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
Neste momento começou a chuviscar.
– Você vai se molhar. — advertiu ela — Vai acabar ficando doente.
Ele riu, amargo:
– E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
– Posso lhe dar um guarda-chuva…
– Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
Ela agora estava irritada:
– Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
– Sou seu marido, — retrucou ele — e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.
– Você não pode fazer isso comigo! — protestou ela.
– Claro que posso! — replicou ele — Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
– Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise…
– Já sei. — ironizou ele — Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
– Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta…
– Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
Neste momento começou a chuviscar.
– Você vai se molhar. — advertiu ela — Vai acabar ficando doente.
Ele riu, amargo:
– E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
– Posso lhe dar um guarda-chuva…
– Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
Ela agora estava irritada:
– Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
– Sou seu marido, — retrucou ele — e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.
Fonte:
Moacyr Scliar. O imaginário cotidiano. SP: Global, 2001.
Moacyr Scliar. O imaginário cotidiano. SP: Global, 2001.
Livro enviado pelo autor.
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