quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

José Lucas de Barros (Caderno Poético) X, motes e glosas


“Eu vim ao mundo chorando,
Mas meu destino é cantar.”


Mamãe me disse que quando
A parteira entrou no quarto,
Sem prejudicar seu parto
Eu vim ao mundo chorando;
A vida foi-me ensinando
Sorrir mais do que chorar,
Pela sorte ou pelo azar,
Que não vale viver triste;
Por isso, a tristeza existe,
Mas meu destino é cantar.
= = = = = = = = = = = = =

“Papai Noel não visita
Criança de pé no chão”


No morro, a criança grita,
Pela injustiça que sente;
Quem mais deseja um presente
Papai Noel não visita!
Nessa festa tão bonita
Para o universo cristão,
É triste ver um irmão
Ficar olhando de fora,
Pois Papai Noel ignora
Criança de pé no chão!
= = = = = = = = = = = = =

"Lamparina sem pavio
É besteira botar gás."


Em qualquer noite de frio,
Fica escura minha tenda...
Não conheço quem acenda
Lamparina sem pavio.
E como o velho sombrio
Que deixou de ser rapaz;
Tem vontade e nada faz;
E carta que não dá jogo...
Sem algodão para o fogo,
E besteira botar gás.
= = = = = = = = = = = = =

“Quarenta e nove de idade,
Trinta e nove de trabalho.”


José Lucas, na verdade,
Corajosamente fez,
Em março de oitenta e três,
Quarenta e nove de idade;
Das manhãs da mocidade
Já não bebe o doce orvalho;
Como um boi no cabeçalho,
Moureja o pobre poeta
Que, ao mesmo tempo, completa
Trinta e nove de trabalho!
(Natal, 12-03-83 - glosa autobiográfica)
= = = = = = = = = = = = =

"Quero que a morte retarde,
Mas, chegando, seja brevel"


Não sei bem se sou covarde,
Ou tenho alguma coragem,
Mas minha fatal viagem
Quero que a morte retarde;
Ela vindo sem alarde,
Juro não lhe fazer greve...
Que a terra me seja leve
E que a hora derradeira
Não me venha de carreira,
Mas, chegando, seja breve!

Fonte:
José Lucas de Barros. Pelas trilhas do meu chão. Natal/RN: CJA Ed., 2014

Nenhum comentário: