sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

José Lucas de Barros (Caderno Poético) IX, motes e glosas


Não tenho merecimento
Pra morrer como Jesus.


O divino Nazareno,
Por falsas acusações,
Morreu entre dois ladrões,
Mas altaneiro e sereno;
Eu, que sou fraco e pequeno,
Diante da grande luz,
Só devo morrer na cruz
Do espinhaço de um jumento...
Não tenho merecimento
Pra morrer como Jesus.

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"Nosso velho burocrata
Diz não ter substituto."


O livro cheira a barata..
O balcão suja os clientes;
Cochila detrás das lentes
Nosso velho burocrata.
Falta o termo, esquece a data,
Mastiga mais um minuto...
Pra recolher o tributo,
O freguês fica maluco,
Mas, mesmo assim, o caduco
Diz não ter substituto.
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Quando eu morrer, vão dizer
Que fui poeta e mais nada.


Não tive roupas modernas;
A vida não me deu prêmios,
Porque fui um dos boêmios
Da perdição das tavernas;
Inda tenho boas pernas
Para os sopapos da estrada,
Mas, logo ao fim da jornada,
O mundo vai me esquecer...
Quando eu morrer, vão dizer
Que fui poeta e mais nada.


Não vivo só de cantar
O que a poesia me aponta,
Trabalho para dar conta
Dos encargos de meu lar;
não vivo em mesa de bar,
bebo na minha morada,
mas, os de língua malvada,
contestando meu viver,
quando eu morrer, vão dizer
que fui poeta e mais nada!

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Só tenho felicidade
Quando faço alguém feliz.


Eu não sei comer sozinho
O pão que a vida me dá;
Quero que um pedaço vá
Para a mesa do vizinho;
Quando à margem do caminho
Encontro uma flor de lis,
Faço como sempre fiz:
Dou a alguém por amizade...
Só tenho felicidade
Quando faço alguém feliz.


Minha alegria se some
E minha alma cambaleia,
Se estou de barriga cheia,
Vendo crianças com fome;
Peço até que Deus me tome
Aquilo que eu sempre quis,
Se eu me mostrar na matriz
esquecendo a caridade...
Só tenho felicidade
Quando faço alguém feliz.

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Vindo ao mundo, peguei o trem da vida,
Mas não sei o tamanho da viagem.


– Neste mundo, ninguém tem a medida
Do caminho do berço para a morte,
E eu, que tinha de achar algum transporte,
Vindo ao mundo, peguei o trem da vida;
Anotei o momento da partida
E enfrentei a jornada com coragem;
Deus me deu o bilhete da passagem
E mandou-me seguir estrada afora,
Inda estou caminhando até agora,
Mas não sei o tamanho da viagem.

Fonte:
José Lucas de Barros. Pelas trilhas do meu chão. Natal/RN: CJA Ed., 2014
Livro enviado por Rosileide Barros.

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