DENTRO DO ESTOJO sobre a carteira, dois lápis de cores diferentes discutem. Um deles, o Azul, imponente:
— A minha cor é mais bonita que a sua!
O Branco, como sempre, calmo e tranquilo:
— Seu convencido. Deixa de ser bobo. Eu, o Branco, sou mais querido e amado pela Aninha (Aninha é a dona de ambos os lápis) do que você.
O Azul, se impondo:
— Engano seu. Eu sou o preferido dela...
O Branco, fazendo cara de riso:
— É mesmo? Desde quando?
O Azul, nervoso:
— Desde o momento em que ela foi na papelaria com a mãe, e meu viu dentro da caixinha, entre meus doze irmãos.
O Branco, desdenhando:
— Seu bobo. Bobo e desengonçado. Se acha o tal.
O Azul, alfinetando:
— De fato, eu não me acho. Eu sou o tal. Se você reparar os cadernos da Aninha, seja o de Matemática, seja o de Português, e até o de Inglês, perceberá que todos os desenhos que ela fez para ilustrarem as páginas, eu me sobressaio. Dou de dez a zero em você!
O Branco dando o troco à altura:
— Você é um azul metido. Não passa de um desbotado, ou melhor, superado. Já o branco, ou o meu branco, melhor me expressando, está em tudo o que é cristalino... por onde passo, deixo tudo às claras e transparente. O branco mostra os podres do azul.
O Azul partindo para a agressão:
— Você, seu branco azedo, se esqueceu que eu estou no topo. Sou o azul do céu infinito, o azul das águas do mar imenso. Sou ainda o azul da bandeira e também o azul da Esperança...
O Branco, rindo da mancada do adversário:
— Alto lá. A esperança não é azul. É verde.
O Azul tentando desconversar:
— Não mude o rumo da nossa prosa. O seu branco tira o brilho das coisas mais simples. Se você se olhar no espelho, perceberá que em face do descorado que deu origem às suas raízes, você se fez anêmico e quase invisível.
O Branco, mostrando conhecimento de causa naquilo que fala:
— Olha só o coitadinho, se fazendo de vítima. Cresça, moço. Meu branco está na alvura das nuvens, nos jalecos das pessoas que cuidam dos doentes nos hospitais, no açúcar que desfaz o amargo, na maisena da papa dos nenéns, no sal que tempera os pratos mais sofisticados, igualmente nos refrigeradores (você, por acaso já viu uma geladeira azul?). Também estou no branco da neve que cai, nos cabelos dos longevos, na maioria dos carros que rodam aí pelas ruas da cidade...
O Azul meio que irritado e prestes a partir para a agressão:
— Não seja por isso: o meu azul está presente nas Araras azuis, nos Gaios azuis, nos Sapos-boi-azuis nas Garças azuis, sem falar que existe uma empresa aérea com aviões azuis cortando os ares deste Brasil imenso.
Faz uma pausa, toma fôlego e prossegue, como se fosse o rei da cocada preta:
— Faço-me presente nas campanhas do “Novembro Azul”, que conscientiza o homem a cuidar do câncer de próstata... e um particular que tenho certeza, você nunca ouviu alguém mencionar: as crianças com autismo usam muito o azul em seus desenhos. Mudando o quadro, veja por exemplo, os times de futebol. O Grêmio de Porto Alegre é azul... as mulheres preferem vestidos azuis, sapatos azuis, lingeries azuis... quer mais? O Cruzeiro de Minas é azul. Não posso me esquecer que estou na crista da onda em canções famosas, como “Azul da Cor do Mar”, do Tim Maia, no “Azul” do Djavan, no “Todo Azul do Mar” do KLB...
O Branco, de novo com um sorriso bonito no rosto, sem perder a esportiva:
— Acabou?
O Azul, quase colérico:
— Sim. Acabei.
O Branco querendo acabar com aquele papo sem lógica:
— Você realmente se acha... cretino de uma figa. Vou lhe dar o troco. Suas proezas são legais e bacanas. Sua cabecinha oca pode até se vangloriar, ou seu ego se imaginar o maioral, o intocável, Todavia, ouça o que vou dizer, e guarde a sete chaves para nunca se esquecer... você alardeou ser música famosa, time de primeira linha, aviões, carros, o raio que o parta... porém, numa coisa, eu ganho de você. E ganho longe...
O Azul, descontrolado, fazendo gestos como se fosse desferir alguns tapas em seu contendor:
— Diga lá, seu Branco sem noção. Sou todo ouvidos. No que você me ganha?!
O Branco, aberto numa harmonia envolvente, manda a paulada que deixará o Azul sem saída:
— Eu represento a coisa mais importante neste mundo. Maior que seus times, suas músicas, seus cantores, seus aviões... quando tiver um tempinho, pergunte à Aninha... quando ela voltar do intervalo.
O Azul, cerrando os punhos:
— Não vou perguntar nada para ela. Quero saber de você. Fala logo, não estou com paciência...
O Branco, pondo, em definitivo um ponto final naquele diálogo e deixando o Azul, de fato, sem ter o que argumentar:
— Saiba, meu jovem e querido Azul, eu represento, ou melhor, eu simbolizo e patenteio o retrato fiel e sem retoques, ao pé da letra, daquilo que toda a humanidade busca incansavelmente: a PAZ!
O Azul sai de cena discretamente, enquanto o Branco se mantém quieto e humilde, em seu canto à espera que a Aninha retorne do recreio e a segunda parte da aula, tenha início.
— A minha cor é mais bonita que a sua!
O Branco, como sempre, calmo e tranquilo:
— Seu convencido. Deixa de ser bobo. Eu, o Branco, sou mais querido e amado pela Aninha (Aninha é a dona de ambos os lápis) do que você.
O Azul, se impondo:
— Engano seu. Eu sou o preferido dela...
O Branco, fazendo cara de riso:
— É mesmo? Desde quando?
O Azul, nervoso:
— Desde o momento em que ela foi na papelaria com a mãe, e meu viu dentro da caixinha, entre meus doze irmãos.
O Branco, desdenhando:
— Seu bobo. Bobo e desengonçado. Se acha o tal.
O Azul, alfinetando:
— De fato, eu não me acho. Eu sou o tal. Se você reparar os cadernos da Aninha, seja o de Matemática, seja o de Português, e até o de Inglês, perceberá que todos os desenhos que ela fez para ilustrarem as páginas, eu me sobressaio. Dou de dez a zero em você!
O Branco dando o troco à altura:
— Você é um azul metido. Não passa de um desbotado, ou melhor, superado. Já o branco, ou o meu branco, melhor me expressando, está em tudo o que é cristalino... por onde passo, deixo tudo às claras e transparente. O branco mostra os podres do azul.
O Azul partindo para a agressão:
— Você, seu branco azedo, se esqueceu que eu estou no topo. Sou o azul do céu infinito, o azul das águas do mar imenso. Sou ainda o azul da bandeira e também o azul da Esperança...
O Branco, rindo da mancada do adversário:
— Alto lá. A esperança não é azul. É verde.
O Azul tentando desconversar:
— Não mude o rumo da nossa prosa. O seu branco tira o brilho das coisas mais simples. Se você se olhar no espelho, perceberá que em face do descorado que deu origem às suas raízes, você se fez anêmico e quase invisível.
O Branco, mostrando conhecimento de causa naquilo que fala:
— Olha só o coitadinho, se fazendo de vítima. Cresça, moço. Meu branco está na alvura das nuvens, nos jalecos das pessoas que cuidam dos doentes nos hospitais, no açúcar que desfaz o amargo, na maisena da papa dos nenéns, no sal que tempera os pratos mais sofisticados, igualmente nos refrigeradores (você, por acaso já viu uma geladeira azul?). Também estou no branco da neve que cai, nos cabelos dos longevos, na maioria dos carros que rodam aí pelas ruas da cidade...
O Azul meio que irritado e prestes a partir para a agressão:
— Não seja por isso: o meu azul está presente nas Araras azuis, nos Gaios azuis, nos Sapos-boi-azuis nas Garças azuis, sem falar que existe uma empresa aérea com aviões azuis cortando os ares deste Brasil imenso.
Faz uma pausa, toma fôlego e prossegue, como se fosse o rei da cocada preta:
— Faço-me presente nas campanhas do “Novembro Azul”, que conscientiza o homem a cuidar do câncer de próstata... e um particular que tenho certeza, você nunca ouviu alguém mencionar: as crianças com autismo usam muito o azul em seus desenhos. Mudando o quadro, veja por exemplo, os times de futebol. O Grêmio de Porto Alegre é azul... as mulheres preferem vestidos azuis, sapatos azuis, lingeries azuis... quer mais? O Cruzeiro de Minas é azul. Não posso me esquecer que estou na crista da onda em canções famosas, como “Azul da Cor do Mar”, do Tim Maia, no “Azul” do Djavan, no “Todo Azul do Mar” do KLB...
O Branco, de novo com um sorriso bonito no rosto, sem perder a esportiva:
— Acabou?
O Azul, quase colérico:
— Sim. Acabei.
O Branco querendo acabar com aquele papo sem lógica:
— Você realmente se acha... cretino de uma figa. Vou lhe dar o troco. Suas proezas são legais e bacanas. Sua cabecinha oca pode até se vangloriar, ou seu ego se imaginar o maioral, o intocável, Todavia, ouça o que vou dizer, e guarde a sete chaves para nunca se esquecer... você alardeou ser música famosa, time de primeira linha, aviões, carros, o raio que o parta... porém, numa coisa, eu ganho de você. E ganho longe...
O Azul, descontrolado, fazendo gestos como se fosse desferir alguns tapas em seu contendor:
— Diga lá, seu Branco sem noção. Sou todo ouvidos. No que você me ganha?!
O Branco, aberto numa harmonia envolvente, manda a paulada que deixará o Azul sem saída:
— Eu represento a coisa mais importante neste mundo. Maior que seus times, suas músicas, seus cantores, seus aviões... quando tiver um tempinho, pergunte à Aninha... quando ela voltar do intervalo.
O Azul, cerrando os punhos:
— Não vou perguntar nada para ela. Quero saber de você. Fala logo, não estou com paciência...
O Branco, pondo, em definitivo um ponto final naquele diálogo e deixando o Azul, de fato, sem ter o que argumentar:
— Saiba, meu jovem e querido Azul, eu represento, ou melhor, eu simbolizo e patenteio o retrato fiel e sem retoques, ao pé da letra, daquilo que toda a humanidade busca incansavelmente: a PAZ!
O Azul sai de cena discretamente, enquanto o Branco se mantém quieto e humilde, em seu canto à espera que a Aninha retorne do recreio e a segunda parte da aula, tenha início.
Fonte:
Texto enviado pelo autor, integrante de seu livro infanto-juvenil, ainda no prelo.
Texto enviado pelo autor, integrante de seu livro infanto-juvenil, ainda no prelo.
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