sábado, 25 de junho de 2022

Jaqueline Machado (Treva branca)

A pandemia que levaria os seres humanos a uma cegueira coletiva, foi prevista, vista e revista pelos velhos sábios da antiguidade, registrada em livros sagrados e incorporada à mente de José Saramago.  Esse gênio da língua portuguesa, por meio da sua obra “Ensaio sobre a cegueira”, trouxe à tona, em tempos modernos, o que já havia sido dito e iniciado em um tempo do passado.

“Ensaio sobre a cegueira” se inicia em uma cidade, onde um motorista, parado em um sinal de trânsito é, de repente, acometido de uma cegueira repentina. Foi como se uma névoa clara, uma espécie de treva branca, tomasse conta de seus olhos.  

Saramago não nos diz onde isto está acontecendo, pois assim como o autor não nomeia seus personagens, também não nos localiza geograficamente e não nos dá uma referência de tempo.

 A história segue falando sobre a cegueira e mostrando que o motorista foi o primeiro a ser pego, por aquela que seria a mais terrível das epidemias jamais enfrentadas por aqueles que viviam na cidade.

Assustado, o homem se pôs a gritar, e várias pessoas, por sua vez, se aproximaram para ver o que estava acontecendo.

 A epidemia estava apenas começando.

O primeiro cego foi levado para casa por um desconhecido, um ladrão de carros que se aproveitou da cegueira de quem ele ajudava para roubar seu veiculo.

A mulher do primeiro cego liga para um médico oftalmologista e marca uma consulta.  O médico que o examina, considera o caso um tanto quanto estranho, pois os olhos do paciente se mostraram perfeitos, nenhuma lesão, nada que pudesse provocar esta cegueira repentina.

A pandemia se dissemina e, aos poucos, todos os habitantes, os bons e os maus, passam a ficar repentinamente cegos, inclusive o oftalmologista. A única, aparentemente imune à   pandemia, era a esposa do médico que entendia tudo de visão.

A primeira providência do governo é isolar essas pessoas numa espécie de quarentena, dentro de um sanatório abandonado. Lá, essas pessoas voltam ao seu estado primitivo. De forma assustadora, elas vão perdendo a sua condição de ser humano e se tornando animais, pois precisam competir por tudo: espaço, comida, banheiro...

O livro relata cenas de pura barbárie, tais como, sexo a toda hora com diversos parceiros, e pessoas excretando pelos cantos dos corredores do sanatório. Do lado de fora, mais e mais cidadãos deixam de enxergar, líderes do governo também cegam, e logo as ruas ficam lotadas de pessoas que, sem ver, perdem o rumo de suas casas e de seus trabalhos.

Saramago retrata em texto, um ensaio distópico, que a cada dia aproxima–se mais da realidade do nosso mundo atual. Poucos reconhecem a verdade original, cada um cria a sua verdade e ai daqueles que contestarem: viram inimigos. A fé está seguindo regimes líquidos, depressão, homicídio, suicídio, racismo, pornografia, e pobreza material e intelectual estão em alta. E, acredito eu que, uma bomba nuclear não acabou por dizimar a humanidade por intervenção da misericórdia divina de Deus.

Citação do livro: “Sem futuro, o presente não serve para nada, é como se não existisse, Pode ser que a humanidade venha a conseguir viver sem olhos mas então deixará de ser humanidade.

Mas não nos assustemos, todo caos traz a renovação. A nova era chegou. E muitos dos obreiros da luz já estão prontos a prestar esclarecimentos e por fim a essa pandemia medonha: a pandemia da ignorância. Pois é ela, a ignorância que está a orquestrar o grande ensaio sobre a cegueira em nossa sociedade mundial.

Fonte:
Texto enviado pela autora.

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