Colocar os pingos nos is é deixar as coisas bem claras. Isso todo mundo sabe.
O que eu desconhecia é que até o século 16 o i não tinha pingo. E quando na palavra havia dois is em seguida, o is sem pingo ficavam parecendo um u. Então, para saber quando eram dois is e quando era um u, colocavam-se pingos nos is.
Claro que aí deixavam de saber se eram dois is ou um ü (um com trema), mas não se pode resolver todos os problemas de uma vez só.
Meu pai achava pouco colocar pingos nos is, e os colocava também nos y. Não era um trema, mas dois pingos, um em cada galhada do y. Para quê? Jamais saberemos.
A vida inteira ele assinou o Sidney com um pingo no i e dois no y. E mais três pontinhos no final, por ser maçom. Seis pontos ao todo, um por letra. Eu, Sidney que sou (pelo menos no RG), também usei durante algum tempo, nos primeiros anos de escola. Até achar que aquilo era meio anacrônico, assim como os contos de réis que insistíamos em falar em casa, quando há muito a moeda já era o cruzeiro.
Lá em casa pingavam-se não só os is (literal e figuradamente) e o ipsilones, mas também o jota.
O jota tem essa peculiaridade: não tem pingo quando escrito à mão, mas o pingo jamais deixa de estar, sem qualquer justificativa, quando é digitado. E, a exemplo do i, somente na minúscula.
Se colocar os pingos nos is é não deixar margem de dúvida, a expressão “colocar os pingos nos jotas” também devia existir. E significar algo como ter aquele jeitão jurássico de pessoa entojada, enjoada, nojenta.
Quem coloca pingo em jota é capaz de tudo.
De escrever óptico, para distinguir de ótico (que tem a ver com o ouvido, não com a visão).
De corrigir quando alguém diz pilastra em vez de coluna. Como todo mundo que estudou Arquitetura por cinco anos está cansado de saber, a coluna é destacada da parede, e a pilastra é grudada.
Quem pinga jota não perdoa alguém dizer que teve sua carteira roubada, e, em vez de se solidarizar, aproveita a desgraça alheia para explicar a diferença entre furto e roubo.
Não perde a chance de dizer que que sorvete é uma coisa, sorbet é outra. Que corona é o vírus, e covid, a doença.
Quem pinga jota sabe quando usar infarto e quanto usar enfarte. Dirá que “fulano sentiu-se enfarte (cheio, farto) depois de traçar uma feijoada e teve um infarto (lesão nas artérias) do miocárdio”.
“Colocar os pingos nos jotas” implicaria corrigir quem diz “implica em” (isso implica aquilo, não naquilo). Puxar a orelha de quem nunca sabe se assistiu o filme ou ao filme e, na dúvida, prefere dizer que viu. Quem se enrola nos “vêm” e “veem”, dos verbos vir e ver. Nos porque, por que, porquê e por quê (por que será que existe essa frescura? Porque talvez, se procurarmos o porquê, descobriremos que não há por quê).
Os que pingam jota devem ser do tipo que ainda sofre com o óbito do trema. Talvez por terem amado, em algum lugar do passado, uma Thaïs que lia Madame de Staël e usava Anaïs Anaïs.
Além dos que põem os pingos nos jotas e nos ipsilones, há também os que cortam o Z. Mas aí já é caso de polícia.
O que eu desconhecia é que até o século 16 o i não tinha pingo. E quando na palavra havia dois is em seguida, o is sem pingo ficavam parecendo um u. Então, para saber quando eram dois is e quando era um u, colocavam-se pingos nos is.
Claro que aí deixavam de saber se eram dois is ou um ü (um com trema), mas não se pode resolver todos os problemas de uma vez só.
Meu pai achava pouco colocar pingos nos is, e os colocava também nos y. Não era um trema, mas dois pingos, um em cada galhada do y. Para quê? Jamais saberemos.
A vida inteira ele assinou o Sidney com um pingo no i e dois no y. E mais três pontinhos no final, por ser maçom. Seis pontos ao todo, um por letra. Eu, Sidney que sou (pelo menos no RG), também usei durante algum tempo, nos primeiros anos de escola. Até achar que aquilo era meio anacrônico, assim como os contos de réis que insistíamos em falar em casa, quando há muito a moeda já era o cruzeiro.
Lá em casa pingavam-se não só os is (literal e figuradamente) e o ipsilones, mas também o jota.
O jota tem essa peculiaridade: não tem pingo quando escrito à mão, mas o pingo jamais deixa de estar, sem qualquer justificativa, quando é digitado. E, a exemplo do i, somente na minúscula.
Se colocar os pingos nos is é não deixar margem de dúvida, a expressão “colocar os pingos nos jotas” também devia existir. E significar algo como ter aquele jeitão jurássico de pessoa entojada, enjoada, nojenta.
Quem coloca pingo em jota é capaz de tudo.
De escrever óptico, para distinguir de ótico (que tem a ver com o ouvido, não com a visão).
De corrigir quando alguém diz pilastra em vez de coluna. Como todo mundo que estudou Arquitetura por cinco anos está cansado de saber, a coluna é destacada da parede, e a pilastra é grudada.
Quem pinga jota não perdoa alguém dizer que teve sua carteira roubada, e, em vez de se solidarizar, aproveita a desgraça alheia para explicar a diferença entre furto e roubo.
Não perde a chance de dizer que que sorvete é uma coisa, sorbet é outra. Que corona é o vírus, e covid, a doença.
Quem pinga jota sabe quando usar infarto e quanto usar enfarte. Dirá que “fulano sentiu-se enfarte (cheio, farto) depois de traçar uma feijoada e teve um infarto (lesão nas artérias) do miocárdio”.
“Colocar os pingos nos jotas” implicaria corrigir quem diz “implica em” (isso implica aquilo, não naquilo). Puxar a orelha de quem nunca sabe se assistiu o filme ou ao filme e, na dúvida, prefere dizer que viu. Quem se enrola nos “vêm” e “veem”, dos verbos vir e ver. Nos porque, por que, porquê e por quê (por que será que existe essa frescura? Porque talvez, se procurarmos o porquê, descobriremos que não há por quê).
Os que pingam jota devem ser do tipo que ainda sofre com o óbito do trema. Talvez por terem amado, em algum lugar do passado, uma Thaïs que lia Madame de Staël e usava Anaïs Anaïs.
Além dos que põem os pingos nos jotas e nos ipsilones, há também os que cortam o Z. Mas aí já é caso de polícia.
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