("Eu não sei de que cor é seu olhar…”)
Repare bem e veja, meu amigo,
se não há um matiz em cada olhar…Bem sei que há fantasia no que eu digo;
porém não custa nada reparar...
Vamos ficar os dois observando,
nesse banco de pedra à beira-mar;
assim, de qualquer um que for passando,
eu lhe direi a cor de seu olhar…
Aí vem... Repare aquela ali no meio.
Traz um sorriso... é jovem... vaporosa...
"Sou toda amor..." — no seu olhar eu leio…
No seu olhar que é todo cor de rosa...
Eis que aparece em lúbricos volteios,
um corpo esguio pelo sol tostado...
Vermelha a boca... dois nervosos seios…
e um rubro olhar repleto de pecado!
Vem atrás, em contraste, distraída,
uma formosa e virginal criança...
— Estão seus olhos muito além da Vida!
Trazem no olhar as cores da esperança,
E aquela como vem toda taful...
Vai encontrar alguém... Quanta ansiedade!
— Eis um olhar profundamente azul!...
Vem transbordante de Felicidade!...
E agora adeus, pois se aproxima alguém,
cujos olhos eu vivo a analisar...
— É meu amor... e ainda não sei bem
a indecifrável cor do seu olhar...
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DEVANEIO
Uma casinha escondida,
entre montanhas... além...
Longe do Mundo... da Vida...
Perto do Céu, com meu bem...
Uma fonte de água pura...
Flores... Aves... Pinheirais,
Poesia... Amor… e Ternura
Silêncio… Ventura… Paz...
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NATAL SERTANEJO
Para Angelí e Silvia Lúcia
A Noite toda estrelada!
E a pequena e humilde aldeia,
totalmente iluminada,
pois no Céu há lua cheia!
E a igreja pequenina,
com sinos a repicar,
lá do topo da colina
convida o povo a rezar...
Pois é Noite de Natal,
noite de Paz e de Amor,
em que se evoca o nascer
de Jesus, Nosso Senhor...
Passam velhinhos na Estrada…
Um galo põe-se a cantar…
E a igreja, pouco a pouco,
vai ficando sem lugar…
Depois da Missa do Galo,
a Festança... a consoada...
Um vinho bom que é um regalo!
A castanha... a rabanada...
Vai dormir a criançada,
ansiosa para acordar,
pois o bom papai Noel
esta Noite irá passar...
E despede-se a família...
(Há filhos em profusão!)
— Ó Natal bem brasileiro
lá do fundo do sertão!...
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NEGLIGÊNCIA
Nós vivemos, tanto, tanto,
a sonhar com a Ventura,
a almejar um grande bem!...
Se um belo dia, no entanto.,
depois de luta e de pranto,
a Felicidade vem,
não sabemos desfrutar,
tampouco sentir também,
tudo o que ela pode dar,
tudo o que a Ventura tem...
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PRESENTE A PAPAI NOEL...
Papai Noel pode entrar...
Descansa da lida incerta!
Sê benvindo ao nosso Lar;
a nossa porta está aberta...
O nosso Lar é um Encanto,
tem muita Paz e Ternura...
Mas sabemos, que no entanto,
muitos sentem desventura...
Quando seguires caminho,
(se faz falta à Humanidade),
podes levar um pouquinho
da nossa Felicidade…
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VALERÁ?!
Ao pensar, meu grande amor
que sem menos esperar,
um dia virá a Morte,
nossas vidas separar...
Ao pensar, sinto um tremor,
e fico a conjecturar,
se teremos fé, vigor,
para tudo suportar,
e se vale tanta dor,
nossa ventura sem par...
Fonte:
Luiz Otávio. Um coração em ternura…: poesias. RJ: Irmãos Pongetti, 1947.
Luiz Otávio. Um coração em ternura…: poesias. RJ: Irmãos Pongetti, 1947.
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