Modalidade de teatro produzida em espaços exteriores ao edifício teatral, preferencialmente públicos, tais como ruas ou praças. Designa espetáculos com textos elaborados especialmente para representação na rua e adaptação de textos originalmente criados para ser apresentados em outros locais, bem como manifestações cênicas improvisadas ou performáticas (incluindo-se aí performances que dialogam com o universo das artes plásticas e números ligados à tradição da comédia popular ou do circo).
O teatro de rua se baseia em certas técnicas – como a amplificação da atuação com uso de máscaras, bonecos e adereços gigantes e grande participação da música – que trabalham para atrair a atenção dos espectadores em espaços abertos (mais “dispersivos” e menos favoráveis à manutenção da concentração do que os espaços teatrais tradicionais).
As origens do teatro de rua remontam à Antiguidade clássica: na Grécia, aos cortejos e às celebrações dionisíacas; e, em Roma, às trupes de artistas populares (mímicos, músicos, cômicos etc.). Na Idade Média, com o advento do feudalismo e a retração da vida urbana, surge uma característica importante na atividade dos artistas populares: ser itinerante. Havendo poucos centros urbanos, as trupes vagam de local para local em busca de público, especialmente em ocasiões como as feiras. Há também a ligação entre o teatro de rua e a religiosidade católica nos espetáculos voltados para a doutrinação dos fiéis, como os autos e os mistérios, que na maior parte das vezes ocorrem em espaços públicos.
Com o Renascimento, começam a ganhar forma em algumas regiões da Europa os edifícios tradicionais, passando a predominar a partir do século XVI (a princípio apenas em certas áreas) o teatro com palco italiano. Aparece então uma separação mais nítida entre o teatro dito “erudito” e o de rua, de caráter mais popular. Do século XVI ao XVIII, porém, a commedia dell’arte italiana consolida alguns dos procedimentos cênicos e dramatúrgicos (principalmente cômicos) do teatro de rua, tomando-se a forma paradigmática desse tipo de teatro.
Do fim do século XVIII ao século XX, tem ensejo na Rússia uma forma de teatro popular fortemente baseada na commedia dell’arte conhecida como balagan. Já nos primeiros anos do século XX, inicia-se o movimento francês de popularização do teatro – liderado por nomes como Jacques Copeau (1879-1949) –, que leva o teatro tradicional ao espaço público e à população mais pobre; e, na Rússia, além das experiências de nomes como Meyerhold (1874-1940), que fica conhecido como o criador da técnica biomecânica, surge o teatro de conscientização política, desenvolvido simultaneamente na Alemanha.
Uma de suas formas é o agitprop: teatro realizado na rua por atores profissionais ou amadores, com cenas simples que buscam expor a luta de classes e conscientizar a população da necessidade de mudança. Após 1917, aparecem também os grandes espetáculos de massa dedicados à glorificação da revolução comunista, como A Tomada do Palácio de Inverno, realizado em 1920 em São Petersburgo, reproduzindo no próprio local esse acontecimento revolucionário marcante, contando com 15 mil profissionais (entre atores, diretores, técnicos e figurantes) e 100 mil espectadores.
No fim da década de 1920, com o advento do stalinismo, o agitprop russo perde espaço para um teatro mais tradicional. Aparece, porém, o agitprop na Alemanha, que vive o caos social após a Primeira Grande Guerra (1914-1918). Esse tipo de teatro influencia nomes como Bertolt Brecht (1898-1956) e Erwin Piscator (1893-1966), que por sua vez passam a influenciar todo o teatro político – de rua ou não – desde então.
Nos Estados Unidos, nas décadas de 1940 e 1950, surgem grupos que realizam, muitas vezes na rua, representações de cunho político. Tais grupos se fortalecem especialmente a partir da década de 1960, com a mobilização da juventude em torno de causas políticas, sociais e culturais. Entre eles estão o Living Theatre, o Bread and Puppet Theatre e o californiano San Francisco Mime Troupe. Ganham força também os happenings (acontecimentos cênicos improvisados) e as performances (experiências que misturam artes plásticas e teatro), muitas vezes em espaços públicos. Desde as décadas de 1960 e 1970, o teatro de rua também cresce na Europa, com muitos grupos, festivais e o trabalho de teóricos como o italiano Eugenio Barba (1936), formulador da antropologia teatral.
No Brasil, o teatro de rua tem como importantes referências, desde sempre, as grandes manifestações culturais populares, como Carnaval, bumba meu boi, maracatu, reisado e todos os folguedos que contam com algum tipo de teatralidade. E há importantes realizações de grupos desde a década de 1960. Exemplos disso são as atividades do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE), liderado por Augusto Boal e Oduvaldo Vianna Filho, que adapta à realidade brasileira recursos do agitprop; e o trabalho desenvolvido pelo Teatro do Oprimido, método sistematizado por Boal, que, muitas vezes apresentado na rua, visa à conscientização social.
Da década de 1970 em diante, aparecem diversos grupos que se dedicam inicialmente à pesquisa de espetáculos para a rua (e, eventualmente, também elaboram espetáculos para espaços fechados), como Ventoforte, Tá na Rua e Teatro de Anônimo (fundados no Rio de Janeiro); Ói Nóis Aqui Traveiz (em Porto Alegre); Imbuaça (em Aracaju); Galpão (em Belo Horizonte); Parlapatões, Patifes e Paspalhões (em São Paulo), entre muitos outros. Existem ainda os grupos menos conhecidos e os artistas anônimos – muitas vezes itinerantes – que até hoje, misturando as tradições teatrais e circenses, se apresentam pelas ruas do Brasil e do mundo.
O teatro de rua se baseia em certas técnicas – como a amplificação da atuação com uso de máscaras, bonecos e adereços gigantes e grande participação da música – que trabalham para atrair a atenção dos espectadores em espaços abertos (mais “dispersivos” e menos favoráveis à manutenção da concentração do que os espaços teatrais tradicionais).
As origens do teatro de rua remontam à Antiguidade clássica: na Grécia, aos cortejos e às celebrações dionisíacas; e, em Roma, às trupes de artistas populares (mímicos, músicos, cômicos etc.). Na Idade Média, com o advento do feudalismo e a retração da vida urbana, surge uma característica importante na atividade dos artistas populares: ser itinerante. Havendo poucos centros urbanos, as trupes vagam de local para local em busca de público, especialmente em ocasiões como as feiras. Há também a ligação entre o teatro de rua e a religiosidade católica nos espetáculos voltados para a doutrinação dos fiéis, como os autos e os mistérios, que na maior parte das vezes ocorrem em espaços públicos.
Com o Renascimento, começam a ganhar forma em algumas regiões da Europa os edifícios tradicionais, passando a predominar a partir do século XVI (a princípio apenas em certas áreas) o teatro com palco italiano. Aparece então uma separação mais nítida entre o teatro dito “erudito” e o de rua, de caráter mais popular. Do século XVI ao XVIII, porém, a commedia dell’arte italiana consolida alguns dos procedimentos cênicos e dramatúrgicos (principalmente cômicos) do teatro de rua, tomando-se a forma paradigmática desse tipo de teatro.
Do fim do século XVIII ao século XX, tem ensejo na Rússia uma forma de teatro popular fortemente baseada na commedia dell’arte conhecida como balagan. Já nos primeiros anos do século XX, inicia-se o movimento francês de popularização do teatro – liderado por nomes como Jacques Copeau (1879-1949) –, que leva o teatro tradicional ao espaço público e à população mais pobre; e, na Rússia, além das experiências de nomes como Meyerhold (1874-1940), que fica conhecido como o criador da técnica biomecânica, surge o teatro de conscientização política, desenvolvido simultaneamente na Alemanha.
Uma de suas formas é o agitprop: teatro realizado na rua por atores profissionais ou amadores, com cenas simples que buscam expor a luta de classes e conscientizar a população da necessidade de mudança. Após 1917, aparecem também os grandes espetáculos de massa dedicados à glorificação da revolução comunista, como A Tomada do Palácio de Inverno, realizado em 1920 em São Petersburgo, reproduzindo no próprio local esse acontecimento revolucionário marcante, contando com 15 mil profissionais (entre atores, diretores, técnicos e figurantes) e 100 mil espectadores.
No fim da década de 1920, com o advento do stalinismo, o agitprop russo perde espaço para um teatro mais tradicional. Aparece, porém, o agitprop na Alemanha, que vive o caos social após a Primeira Grande Guerra (1914-1918). Esse tipo de teatro influencia nomes como Bertolt Brecht (1898-1956) e Erwin Piscator (1893-1966), que por sua vez passam a influenciar todo o teatro político – de rua ou não – desde então.
Nos Estados Unidos, nas décadas de 1940 e 1950, surgem grupos que realizam, muitas vezes na rua, representações de cunho político. Tais grupos se fortalecem especialmente a partir da década de 1960, com a mobilização da juventude em torno de causas políticas, sociais e culturais. Entre eles estão o Living Theatre, o Bread and Puppet Theatre e o californiano San Francisco Mime Troupe. Ganham força também os happenings (acontecimentos cênicos improvisados) e as performances (experiências que misturam artes plásticas e teatro), muitas vezes em espaços públicos. Desde as décadas de 1960 e 1970, o teatro de rua também cresce na Europa, com muitos grupos, festivais e o trabalho de teóricos como o italiano Eugenio Barba (1936), formulador da antropologia teatral.
No Brasil, o teatro de rua tem como importantes referências, desde sempre, as grandes manifestações culturais populares, como Carnaval, bumba meu boi, maracatu, reisado e todos os folguedos que contam com algum tipo de teatralidade. E há importantes realizações de grupos desde a década de 1960. Exemplos disso são as atividades do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE), liderado por Augusto Boal e Oduvaldo Vianna Filho, que adapta à realidade brasileira recursos do agitprop; e o trabalho desenvolvido pelo Teatro do Oprimido, método sistematizado por Boal, que, muitas vezes apresentado na rua, visa à conscientização social.
Da década de 1970 em diante, aparecem diversos grupos que se dedicam inicialmente à pesquisa de espetáculos para a rua (e, eventualmente, também elaboram espetáculos para espaços fechados), como Ventoforte, Tá na Rua e Teatro de Anônimo (fundados no Rio de Janeiro); Ói Nóis Aqui Traveiz (em Porto Alegre); Imbuaça (em Aracaju); Galpão (em Belo Horizonte); Parlapatões, Patifes e Paspalhões (em São Paulo), entre muitos outros. Existem ainda os grupos menos conhecidos e os artistas anônimos – muitas vezes itinerantes – que até hoje, misturando as tradições teatrais e circenses, se apresentam pelas ruas do Brasil e do mundo.
Fontes:
TEATRO de Rua. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo882/teatro-de-rua. Acesso em: 11 de junho de 2022. Verbete da Enciclopédia.
– Imagem : Entreverbos
TEATRO de Rua. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo882/teatro-de-rua. Acesso em: 11 de junho de 2022. Verbete da Enciclopédia.
– Imagem : Entreverbos
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