Faz bastante tempo o Dr. Dirceu Galdino Cardin e eu cultivamos um hábito que para mim é uma grande honra e é sempre uma oportunidade para aprender algo precioso: mais ou menos uma vez por mês almoçamos juntos em algum lugar para pôr a prosa (e os versos) em dia.
Ele é um dos advogados mais brilhantes e conceituados de Maringá, porém a conversa não entra na esfera jurídica. Nossa afinidade, que vem de longe, é de amigo para amigo, poeta para poeta. Falamos de literatura, questões de linguagem, filosofia, história, coisas assim.
Por conta da pandemia, tivemos que suspender por quase dois anos esse bom costume. Voltamos a nos reunir no início de maio. Na pauta um tema fascinante: o verbo “ser” (em latim o verbo “esse”). Sum, es, est, sumus, estis, sunt. Dirceu lembrou o que disse Deus a Moisés num dos momentos mais bonitos da Bíblia: – “Ego sum qui sum” (Eu sou aquele que sou), Veja a importância de tão pequenino verbo: “Ego sum” (Eu sou) é o nome de Deus.
A partir daí a conversa esticou-se por mais de uma hora. As velhas aulas de latim do antigo ginásio ajudaram bastante.
De “esse” temos “ens, entis” (o ser, o ente). Temos também “essência”. “Ser” é a essência de tudo aquilo que existe. Deus é o Ente por excelência, o Ser supremo. Deus é a essência da Vida. Deus é aquele que É. Deus é a Vida.
Nós, seres humanos, existimos porque somos, ou seja, porque recebemos de Deus o sopro da vida, ao qual chamamos de alma, espírito (em latim “anima”, “spiritu”; em grego “pneuma”).
Dirceu fez uma explanação sobre a diferença entre alma e espírito, mas não consigo reproduzir aqui. Pela complexidade, exigiria algum tempo e maior espaço. Em seguida, enquanto esperávamos o cafezinho, entramos em outros assuntos. Fico empolgado com o empolgamento dele ao falar de pássaros. Sabe da vida e da história de todos, do gaturamo ao sabiá-laranjeira, e identifica as modalidades de canto de cada um.
Entende também de árvores, flores, borboletas. Sua intimidade com a natureza é comovente. Parece um São Francisco de Assis.
Não é sem razão que escreve poesia tão bonita.
Como é super-respeitado no campo do direito, e devido à intensa movimentação do seu escritório, pouco tempo lhe sobra para a atividade literária. No entanto é um ótimo escritor, em prosa e verso. Tem dezenas de livros publicados e outros tantos a caminho. Escreve não apenas sobre temas jurídicos, mas também, e muito bem, sobre filosofia, política, economia. O que mais gosto, porém, é de ler os seus poemas curtinhos, à moda de haicais. Com o mínimo de palavras ele consegue dizer coisas primorosamente lindas, além de sábias.
Qualquer hora dessas a gente vai se encontrar de novo para comer um macarrãozinho por aí. Tenho certeza de que o papo, como de costume, será o melhor tempero da refeição.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 26-5-2022)
Ele é um dos advogados mais brilhantes e conceituados de Maringá, porém a conversa não entra na esfera jurídica. Nossa afinidade, que vem de longe, é de amigo para amigo, poeta para poeta. Falamos de literatura, questões de linguagem, filosofia, história, coisas assim.
Por conta da pandemia, tivemos que suspender por quase dois anos esse bom costume. Voltamos a nos reunir no início de maio. Na pauta um tema fascinante: o verbo “ser” (em latim o verbo “esse”). Sum, es, est, sumus, estis, sunt. Dirceu lembrou o que disse Deus a Moisés num dos momentos mais bonitos da Bíblia: – “Ego sum qui sum” (Eu sou aquele que sou), Veja a importância de tão pequenino verbo: “Ego sum” (Eu sou) é o nome de Deus.
A partir daí a conversa esticou-se por mais de uma hora. As velhas aulas de latim do antigo ginásio ajudaram bastante.
De “esse” temos “ens, entis” (o ser, o ente). Temos também “essência”. “Ser” é a essência de tudo aquilo que existe. Deus é o Ente por excelência, o Ser supremo. Deus é a essência da Vida. Deus é aquele que É. Deus é a Vida.
Nós, seres humanos, existimos porque somos, ou seja, porque recebemos de Deus o sopro da vida, ao qual chamamos de alma, espírito (em latim “anima”, “spiritu”; em grego “pneuma”).
Dirceu fez uma explanação sobre a diferença entre alma e espírito, mas não consigo reproduzir aqui. Pela complexidade, exigiria algum tempo e maior espaço. Em seguida, enquanto esperávamos o cafezinho, entramos em outros assuntos. Fico empolgado com o empolgamento dele ao falar de pássaros. Sabe da vida e da história de todos, do gaturamo ao sabiá-laranjeira, e identifica as modalidades de canto de cada um.
Entende também de árvores, flores, borboletas. Sua intimidade com a natureza é comovente. Parece um São Francisco de Assis.
Não é sem razão que escreve poesia tão bonita.
Como é super-respeitado no campo do direito, e devido à intensa movimentação do seu escritório, pouco tempo lhe sobra para a atividade literária. No entanto é um ótimo escritor, em prosa e verso. Tem dezenas de livros publicados e outros tantos a caminho. Escreve não apenas sobre temas jurídicos, mas também, e muito bem, sobre filosofia, política, economia. O que mais gosto, porém, é de ler os seus poemas curtinhos, à moda de haicais. Com o mínimo de palavras ele consegue dizer coisas primorosamente lindas, além de sábias.
Qualquer hora dessas a gente vai se encontrar de novo para comer um macarrãozinho por aí. Tenho certeza de que o papo, como de costume, será o melhor tempero da refeição.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 26-5-2022)
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Texto enviado pelo autor
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