Dona Gertrudes quase caiu pra trás quando a filha lhe disse:
— Estou apaixonada pelo Zacarias, mamãe.
— Mas ele é casado, minha filha.
— E daí? Quem não é casado hoje em dia, mamãe?
Dona Gertrudes engasgou com a sopa, deixou cair o talher no chão:
— Que ideias são essas, minha filha? Onde é que você está aprendendo essas coisas?
— A senhora bem sabe o que penso do casamento.
Dona Gertrudes não tinha muita saída, diante do argumento decisivo da filha:
— Veja o seu caso, mamãe. A senhora não é casada com o papai e vive muito feliz com ele, não vive?
Dona Gertrudes tentou explicar:
— Mas o seu caso é diferente.
— Não há diferença alguma, quando duas pessoas se gostam.
Não houve jeito de demover a ideia da filha. Ela estava presa demais às suas convicções pra estar voltando atrás assim sem mais nem menos. Armando, o pai, ouvia o diálogo sem dizer uma palavra. Soprava a sopa, tranquilo, enquanto mãe e filha iam perdendo a calma.
— Não permitirei que você tenha ligação alguma com esse homem.
— Isso é o que a senhora pensa — respondeu, retirando-se da mesa.
Dona Gertrudes perdeu o apetite, trocou ideias com o companheiro. Nunca pensaram que isso fosse acontecer, logo à sua filha. Armando foi positivo:
— Quem sabe eles serão felizes, meu bem?
Dona Gertrudes ficou indignada:
— Até você, Armando? Onde é que você está com a cabeça? Já imaginou a sua filha “juntada” com um homem?
Armando calou a boca, preferiu não discutir. Chegou a pensar que sua companheira se sentisse infeliz por não ser casada com ele, com certidão e tudo. Para ele, bastava serem felizes, se compreenderem, se respeitarem, coisas que muito papel de cartório não dá a ninguém. Dona Gertrudes insistia:
— O que dirão os outros?
A filha voltou com duas maletas nas mãos, a tempo de rebater a última frase da mãe.
— Os “outros”, sempre os “outros”. Que é que os “outros” têm a ver com a minha vida?
Dona Gertrudes tentou convencê-la:
— Você não sabe o que está dizendo, minha filha. Nossas vidas sempre dependem mais dos outros do que de nós mesmos. Por mais que a gente se considere independente, temos sempre satisfações a dar aos “outros”. Não se esqueça de que vivemos numa sociedade e é ela quem dita as normas da vida.
A filha não quis ouvir tudo, deu um beijo na mãe, outro no pai, e foi saindo:
— Vou para um hotel. Sinto que não há mais clima pra mim dentro desta casa.
Dona Gertrudes enxugou uma lágrima. Seu Armando baixou a cabeça. Ninguém disse uma palavra. Quando ia saindo, a empregada entrou, como numa peça de teatro:
— Telefone pra senhora. É o Dr. Zacarias.
Correu pro telefone, falou quase quinze minutos, quando desligou estava com a fisionomia completamente mudada. Trouxe as maletas de volta:
— Zacarias vai viajar hoje para a Europa. Disse que vai passar lá dois anos, estão satisfeitos?
Dona Gertrudes e seu Armando correram para abraçá-la. A filha estava trêmula, não deu o braço a torcer:
— Vocês me aceitam de volta? Meu ponto de vista continua sendo o mesmo: marido pra mim, só homem casado.
— Está bem, minha filha, está bem. Mas por que você não foi com ele?
Caindo em prantos, ela respondeu:
— Ele foi com a mulher, mamãe. Fez as pazes com ela ontem à noite.
Um silêncio pesado caiu no ambiente e ficaram os três, calados, tomando a sopa fria.
— Estou apaixonada pelo Zacarias, mamãe.
— Mas ele é casado, minha filha.
— E daí? Quem não é casado hoje em dia, mamãe?
Dona Gertrudes engasgou com a sopa, deixou cair o talher no chão:
— Que ideias são essas, minha filha? Onde é que você está aprendendo essas coisas?
— A senhora bem sabe o que penso do casamento.
Dona Gertrudes não tinha muita saída, diante do argumento decisivo da filha:
— Veja o seu caso, mamãe. A senhora não é casada com o papai e vive muito feliz com ele, não vive?
Dona Gertrudes tentou explicar:
— Mas o seu caso é diferente.
— Não há diferença alguma, quando duas pessoas se gostam.
Não houve jeito de demover a ideia da filha. Ela estava presa demais às suas convicções pra estar voltando atrás assim sem mais nem menos. Armando, o pai, ouvia o diálogo sem dizer uma palavra. Soprava a sopa, tranquilo, enquanto mãe e filha iam perdendo a calma.
— Não permitirei que você tenha ligação alguma com esse homem.
— Isso é o que a senhora pensa — respondeu, retirando-se da mesa.
Dona Gertrudes perdeu o apetite, trocou ideias com o companheiro. Nunca pensaram que isso fosse acontecer, logo à sua filha. Armando foi positivo:
— Quem sabe eles serão felizes, meu bem?
Dona Gertrudes ficou indignada:
— Até você, Armando? Onde é que você está com a cabeça? Já imaginou a sua filha “juntada” com um homem?
Armando calou a boca, preferiu não discutir. Chegou a pensar que sua companheira se sentisse infeliz por não ser casada com ele, com certidão e tudo. Para ele, bastava serem felizes, se compreenderem, se respeitarem, coisas que muito papel de cartório não dá a ninguém. Dona Gertrudes insistia:
— O que dirão os outros?
A filha voltou com duas maletas nas mãos, a tempo de rebater a última frase da mãe.
— Os “outros”, sempre os “outros”. Que é que os “outros” têm a ver com a minha vida?
Dona Gertrudes tentou convencê-la:
— Você não sabe o que está dizendo, minha filha. Nossas vidas sempre dependem mais dos outros do que de nós mesmos. Por mais que a gente se considere independente, temos sempre satisfações a dar aos “outros”. Não se esqueça de que vivemos numa sociedade e é ela quem dita as normas da vida.
A filha não quis ouvir tudo, deu um beijo na mãe, outro no pai, e foi saindo:
— Vou para um hotel. Sinto que não há mais clima pra mim dentro desta casa.
Dona Gertrudes enxugou uma lágrima. Seu Armando baixou a cabeça. Ninguém disse uma palavra. Quando ia saindo, a empregada entrou, como numa peça de teatro:
— Telefone pra senhora. É o Dr. Zacarias.
Correu pro telefone, falou quase quinze minutos, quando desligou estava com a fisionomia completamente mudada. Trouxe as maletas de volta:
— Zacarias vai viajar hoje para a Europa. Disse que vai passar lá dois anos, estão satisfeitos?
Dona Gertrudes e seu Armando correram para abraçá-la. A filha estava trêmula, não deu o braço a torcer:
— Vocês me aceitam de volta? Meu ponto de vista continua sendo o mesmo: marido pra mim, só homem casado.
— Está bem, minha filha, está bem. Mas por que você não foi com ele?
Caindo em prantos, ela respondeu:
— Ele foi com a mulher, mamãe. Fez as pazes com ela ontem à noite.
Um silêncio pesado caiu no ambiente e ficaram os três, calados, tomando a sopa fria.
Fonte:
Leon Eliachar. A mulher em flagrante. Publicado em 1965.
Leon Eliachar. A mulher em flagrante. Publicado em 1965.
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