Andam sempre os jornais com uma birra, uma briga por causa do serviço telefônico desta cidade.
Implicam sempre com a Light, mas creio que essa poderosa companhia é simplesmente pseudônimo de uma outra que tem um nome alemão.
Das muitas inutilidades de que, para mim, está cheia esta vida, o telefone é uma delas. Passam-se anos e anos que não ponho um fone ao ouvido; e, de resto, quando me atrevo a servir-me de um desses aparelhos, desisto logo. Entre as razões está a que não compreendo absolutamente a numeração das moças do telefone. Se digo seis qualquer coisa, a telefonista imediatamente me corrige: meia dúzia qualquer coisa. Não quero expor a minha sabedoria em elementos de aritmética; mas meia dúzia é uma coisa, pois nunca vi dizer meia dúzia vinte e sete e sim seiscentos e vinte e sete.
Esta é uma das minhas quizílias com o telefone. Uma outra é a tal história: “está em ligação”; e há mais. De forma que muito me surpreende esse interesse dos jornais por esse negócio de telefones.
Observei, porém, que as moças gostam muito de falar no aparelho.
Não se entra numa casa de negócio de qualquer ordem que não se encontre uma dama a falar ao fone:
– Minha senhora, faz favor?
– ?
– Sete meia dúzia três, Vila.
– ?
– Sim, minha senhora.
Durante cinco minutos a dama troca com a invisível Alice frases ternas e dá risadinhas.
Perguntei a um negociante da minha amizade:
– Que querem essas moças tanto com o telefone?
– Não sei. Há dias que é um nunca acabar... Formam uma fileira que nem em bilheteria de teatro em dia de espetáculo... Na semana passada, quase perdi um negócio urgente e do meu interesse, porque tive de esperar que mais de vinte “freguesas” dessas, dessem o seu recadinho ao aparelho... Levaram, todas, cerca de meia hora ou mais.
– Então é por isso que os jornais tanto nos atazanam com essa questão do telefone, de Light? Servem as senhoras...
– Qual o quê! – fez o negociante.
– Então, por que é?
– A questão é o preço do aluguel dos aparelhos e essas meninas são freguesas de graça, que, às vezes até, nada compram na casa.
Fica, para mim, ainda insolúvel essa questão de telefone.
Implicam sempre com a Light, mas creio que essa poderosa companhia é simplesmente pseudônimo de uma outra que tem um nome alemão.
Das muitas inutilidades de que, para mim, está cheia esta vida, o telefone é uma delas. Passam-se anos e anos que não ponho um fone ao ouvido; e, de resto, quando me atrevo a servir-me de um desses aparelhos, desisto logo. Entre as razões está a que não compreendo absolutamente a numeração das moças do telefone. Se digo seis qualquer coisa, a telefonista imediatamente me corrige: meia dúzia qualquer coisa. Não quero expor a minha sabedoria em elementos de aritmética; mas meia dúzia é uma coisa, pois nunca vi dizer meia dúzia vinte e sete e sim seiscentos e vinte e sete.
Esta é uma das minhas quizílias com o telefone. Uma outra é a tal história: “está em ligação”; e há mais. De forma que muito me surpreende esse interesse dos jornais por esse negócio de telefones.
Observei, porém, que as moças gostam muito de falar no aparelho.
Não se entra numa casa de negócio de qualquer ordem que não se encontre uma dama a falar ao fone:
– Minha senhora, faz favor?
– ?
– Sete meia dúzia três, Vila.
– ?
– Sim, minha senhora.
Durante cinco minutos a dama troca com a invisível Alice frases ternas e dá risadinhas.
Perguntei a um negociante da minha amizade:
– Que querem essas moças tanto com o telefone?
– Não sei. Há dias que é um nunca acabar... Formam uma fileira que nem em bilheteria de teatro em dia de espetáculo... Na semana passada, quase perdi um negócio urgente e do meu interesse, porque tive de esperar que mais de vinte “freguesas” dessas, dessem o seu recadinho ao aparelho... Levaram, todas, cerca de meia hora ou mais.
– Então é por isso que os jornais tanto nos atazanam com essa questão do telefone, de Light? Servem as senhoras...
– Qual o quê! – fez o negociante.
– Então, por que é?
– A questão é o preço do aluguel dos aparelhos e essas meninas são freguesas de graça, que, às vezes até, nada compram na casa.
Fica, para mim, ainda insolúvel essa questão de telefone.
Fonte:
Lima Barreto. Vida Urbana. Brasiliense, 1956. Publicada originalmente em 1921 na revista Caretas.
Lima Barreto. Vida Urbana. Brasiliense, 1956. Publicada originalmente em 1921 na revista Caretas.
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