quarta-feira, 3 de abril de 2024

Caldeirão Poético LXXXIV (Filmes em versos)


Arlindo Tadeu Hagen

(Filme: Sempre Ao Seu Lado, 1987)

AMOR PARA SEMPRE

Eu tive muitos cães em minha vida.
Quase todos das ruas retirados.
Em minha casa foram sempre amados
e deles tive a paga merecida,

em forma de ternura oferecida,
com abanos de rabo e outros agrados.
Ao lado destes seres estremados,
a vida pode ser melhor vivida.

Não conheço maior felicidade
que desfrutar do amor e da amizade
de um cão que sabe amar integralmente. 

Porque amar para sempre  é uma expressão
que só quem foi amado por um cão 
consegue compreender perfeitamente.
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Elvira Drummond

(Dialogando com o filme “A noviça Rebelde”, 1965).

VIDA HARMONIOSA…

Quem toca ou canta a escala musical, 
prevê melodiar a própria vida…
Ao preparar um simples recital, 
retira d’alma a fibra colorida.

A comunhão de vozes num coral, 
fraternalmente, tece e consolida 
a trama de caráter divinal, 
dispondo os elementos na medida.

Família que cultiva, a cada dia, 
acordes qual acordos de doçura, 
na vida e na canção traz harmonia… 

Vestir de encanto a voz da partitura 
promove um tal efeito de magia, 
que sinto o Criador na criatura…
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Fernando Antônio Belino

(Filme: Dio, come ti amo!, 1966)

DIO, COME TI AMO

"Não tenho idade para amar-te agora,
 mas, se quiseres esperar, um dia,
terás, em plenitude, essa alegria,
quando surgir do nosso amor a aurora."

"De amar desencontrado, a gente chora!"
"Meu Deus, como te amo! Que agonia!"
Quem vai deter a nuvem fugidia
Ou impedir o rio de ir embora?"

Dois jovens, para o amor, predestinados!
Inúteis velhos medos e cuidados,
Ninguém o seu destino irá mudar."

Da Espanha para o mar napolitano,
O amor desfez as sombras de um engano.
E, enfim,  puderam plenamente amar!
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Gilliard Santos

(Filme: O Show de Truman - O show da vida, 1998)

O SHOW DE TRUMAN (E DE TODOS NÓS)

Vivemos em suposta liberdade,
Mas sinto que algo não está completo...
Em pensamentos permaneço inquieto
E eis que uma ideia fixa então me invade.

Eu sigo caminhando na cidade
E assisto vir do céu algum objeto
Que faz tremer a base de concreto
Das colunatas da realidade.

Reflito, sento ali por um minuto;
Duvido do que vejo, do que escuto
E fico sem saber até quem sou.

Pego um refrigerante, que abro e bebo
No instante singular em que percebo
Que estamos todos nós num grande show.
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Jerson Brito

(Filme: Homens de Honra, 2000)

HONRA PARA SONHAR

O sonho, mesmo estando lacerado
no dente sanguinário do opressor,
resiste quando serve ao destemor
do coração que escuta um rouco brado.

Perante a rispidez, no desagrado,
a força colossal do sonhador
supera a queda imposta enquanto for
senhora do caminho planejado.

Alento, a pertinácia capacita
e torna refulgente a história escrita,
capaz de desfazer qualquer barreira.

Na direção do anelo, todo passo
merece festa e o choro, mais escasso,
ressurge na vitória derradeira.
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José Rodrigues Filho

(Filme: Um homem chamado cavalo, 1970)

ANTES, E HOJE 

Encantam-me as paisagens naturais 
De tempos que ficaram no passado...
Cismando, ainda,  quedo extasiado
Revendo bucolismos ancestrais. 

A flora foi ceifada por demais...
Refúgio para a fauna: cancelado!
O homem destrói o seu maior legado:
A natureza e, até, os seus iguais. 

A raça humana tem por tradição 
Fazer a guerra e a firme decisão 
De abrir fronteiras para evoluir...

Essa estratégia segue rumo incerto, 
Pois o planeta à beira do deserto 
Reclama soluções para existir. 
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Lucília Alzira Trindade Decarli

(Filme: Nos vemos em Vênus, 2023)

IMPORTA VIVER

Dos filhos, o anteparo e, até, o suporte,
missão dos pais em parte da jornada.
Se os desafios forem de alto porte,
intentam suavizar-lhes tal largada…

Mas, de repente, ronda pela estrada,
assaz perigo… A vida exposta à sorte!…
Suposta culpa em mente conturbada:
– aquele jovem viu, de perto, a morte.

Se um anjo bom soprar-lhe ao pé do ouvido,
declinará da ideia negativa 
e, ao existir, dará cabal sentido.

Na doação, a incrível descoberta…
Sair de si e, em nova alternativa:
– “Fazer alguém feliz!” – a escolha certa.
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Ricardo Camacho

(Filme: Um Ato de Coragem, 2002)

ATO DE CORAGEM

Fitava o céu ao fim da madrugada,
Enquanto o véu da imensidão trevosa
Trazia, em sua cauda luminosa,
O dia pelos raios da alvorada...

Mas sem prever seu filho na cilada,
Numa manhã sombria e angustiosa,
Diante da surpresa dolorosa,
O pai levou as mãos à face untada.

O desespero na infeliz ventura,
Para salvar a ingênua criatura,
Fê-lo esquecer a sua própria imagem...

E num impulso de feroz loucura,
Ia doar o coração e a cura,
Mas Deus honrou seu Ato de Coragem!
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Fonte> Academia Brasileira de Sonertistas Clássicos

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