LIGEIRO
Ainda no pé, depois de madura.
a goiaba, desfalcada de sua carne vermelho-polpuda.
mostra seu lado mais secreto:
as sementes, elegantemente arranjadas umas sobre as outras.
Admiro a disposição dos grãos
e encontro a natureza e sua origem.
Mas, apesar, de me ser permitido
testemunhar tal espetáculo.
Invejo o pássaro que chegou antes de mim.
TORRES GÊMEAS
Da construção gemelar.
pedaços homozigotos de pedra e gente.
MARÉS
Dessa janela vê-se o mar.
Ouve-se o barulho do mar.
Dependendo da maré,
também vou e volto
cá com meus barulhos.
E minha janela escotilha o continente:
dependendo da maré,
lanço-me em viagens
que me lembram o paraíso.
Vez por outra,
fico atracada cm mim.
Cá com meus barulhos.
DILIGENTE
Desliza ágil, qual dedos sobre cetim,
o grafite.
E desenha.
E rabisca.
Mas é quando escreve palavra
que ele se mostra veloz,
quase indomável,
como são as palavras quando querem ser lidas.
INEVITÁVEL
Não olhou para trás: sal, não queria virar.
ar lhe consumia o sangue e
formigas-doceiras, pequenas, rondavam seus sonhos.
A sua vida era pobre em escolhas.
Estava só.
Só, com as formigas-comuns rondando seu corpo,
Que quisera imortal.
ENCONTRO
Trouxe-me a chuva.
E, depois dela,
céu aberto, anil.
Trouxe-me a noite.
E, dentro dela, seu corpo chuviscado,
amanhecido junto ao meu.
Dia claro, céu aberto. abril.
ERVA-DOCE
Guardei tuas cartas
numa antiga caixa de sabonetes:
minúscula alcova, incensada de desejos secretos.
De amor perfumada!
POUSIO
Meu corpo repousa
assim como a terra arada,
desenhada para o plantio.
Entre uma safra e outra,
meu corpo repousa e te espera paciente,
enquanto escolhes as sementes.
Quando vens, é sol.
Mas a terra fica molhada.
E quando tudo parece árido
me encantas outra vez.
E meu corpo se acostuma
com chuvas de verão.
com temperamento sazonal.
INCOMPLETUDE
Quero ter motivos para ter saudades de você quando longe.
E que essa saudade seja barulhenta: de risos, de falas, de quereres.
E, estando perto, uma saudade calada:
de toques, de afagos, de sentidos.
Mas quero que se cumpra, mais uma vez, sua sina:
a de me garantir a doce sensação da incompletude.
INCENDIÁRIO
Debandaram pássaros,
bichos de arribação.
Flores queimadas na estrada
não se deixaram cheirar.
Um amor perdido, negado, devasta,
abre clareiras.
É invasivo o fogo da ausência.
Ainda no pé, depois de madura.
a goiaba, desfalcada de sua carne vermelho-polpuda.
mostra seu lado mais secreto:
as sementes, elegantemente arranjadas umas sobre as outras.
Admiro a disposição dos grãos
e encontro a natureza e sua origem.
Mas, apesar, de me ser permitido
testemunhar tal espetáculo.
Invejo o pássaro que chegou antes de mim.
TORRES GÊMEAS
Da construção gemelar.
pedaços homozigotos de pedra e gente.
MARÉS
Dessa janela vê-se o mar.
Ouve-se o barulho do mar.
Dependendo da maré,
também vou e volto
cá com meus barulhos.
E minha janela escotilha o continente:
dependendo da maré,
lanço-me em viagens
que me lembram o paraíso.
Vez por outra,
fico atracada cm mim.
Cá com meus barulhos.
DILIGENTE
Desliza ágil, qual dedos sobre cetim,
o grafite.
E desenha.
E rabisca.
Mas é quando escreve palavra
que ele se mostra veloz,
quase indomável,
como são as palavras quando querem ser lidas.
INEVITÁVEL
Não olhou para trás: sal, não queria virar.
ar lhe consumia o sangue e
formigas-doceiras, pequenas, rondavam seus sonhos.
A sua vida era pobre em escolhas.
Estava só.
Só, com as formigas-comuns rondando seu corpo,
Que quisera imortal.
ENCONTRO
Trouxe-me a chuva.
E, depois dela,
céu aberto, anil.
Trouxe-me a noite.
E, dentro dela, seu corpo chuviscado,
amanhecido junto ao meu.
Dia claro, céu aberto. abril.
ERVA-DOCE
Guardei tuas cartas
numa antiga caixa de sabonetes:
minúscula alcova, incensada de desejos secretos.
De amor perfumada!
POUSIO
Meu corpo repousa
assim como a terra arada,
desenhada para o plantio.
Entre uma safra e outra,
meu corpo repousa e te espera paciente,
enquanto escolhes as sementes.
Quando vens, é sol.
Mas a terra fica molhada.
E quando tudo parece árido
me encantas outra vez.
E meu corpo se acostuma
com chuvas de verão.
com temperamento sazonal.
INCOMPLETUDE
Quero ter motivos para ter saudades de você quando longe.
E que essa saudade seja barulhenta: de risos, de falas, de quereres.
E, estando perto, uma saudade calada:
de toques, de afagos, de sentidos.
Mas quero que se cumpra, mais uma vez, sua sina:
a de me garantir a doce sensação da incompletude.
INCENDIÁRIO
Debandaram pássaros,
bichos de arribação.
Flores queimadas na estrada
não se deixaram cheirar.
Um amor perdido, negado, devasta,
abre clareiras.
É invasivo o fogo da ausência.
Fonte:
Antonio Miranda
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