A COBRA ESTÁ FUMANDO
Em 1943 foi constituída a FEB - Força Expedicionária Brasileira com o objetivo de lutar na Europa, ao lado dos países aliados, na Segunda Guerra Mundial. A insígnia da FEB ficou assim: sobre um fundo amarelo, o desenho de uma cobra verde fumando um cachimbo; no alto, em letras brancas sobre um fundo azul: "BRASIL".
Pronto, aí estavam as cores da bandeira nacional. Tudo isso aparecia dentro de um octaedro com bordas vermelhas - a cor representando a guerra. O desenho foi uma resposta a um repórter do Rio de Janeiro, que disse ser mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. O réptil chegou até a ser representado pela Disney: uma cobra de capacete, soltando fumaça pelas ventas e disparando dois revólveres.
A expressão ficou, então, com o sentido de "vou botar pra quebrar", "a situação vai ficar preta".
COBRAS E LAGARTOS
Dizer cobras e lagartos de alguém é dizer coisas ofensivas a essa pessoa. Cobras aí é uma forma antiga de copias, que eram versos de escárnio para zombar de alguém. Dizer cobras era, então, satirizar, ridicularizar uma pessoa. Depois, a palavra cobras, que, com esse sentido, passou a ter a forma copias, passou a ser interpretada como o animal pelo uso popular, que acrescentou os lagartos para dar simetria à frase e também porque, desde a Bíblia, cobras e lagartos já andavam juntos. No livro dos Salmos do Antigo Testamento, aparece: "Sobre a áspide e o basilisco andarás e calcarás aos pés o leão e o dragão" (salmo XC). Áspide é uma serpente; basilisco, um lagarto. O leão e o dragão se separaram porque o segundo assinou contrato de exclusividade de imagem com São Jorge.
CONTO-DO-VIGÁRIO
Vigário veio do latim vicariu, formado de vicis, vez, mudança (daí vice). Tal como a palavra latina, vigário tem o sentido de substituto. Na terminologia eclesiástica, é o padre que substitui o pároco ou, popularmente, o próprio pároco.
Pode ser que a expressão conto-do-vigário tenha vindo daí, ou seja, é o golpe que alguém aplica fazendo-se passar por outro.
Conta-se também a história de um vigário que, em troca de dinheiro miúdo para despesas urgentes, teria confiado a uma pessoa honesta um embrulho, que, segundo ele, continha uma grande quantia em dinheiro, mas na verdade era tudo papel sem valor.
Existe ainda outra tese para a origem da expressão. Entre os nobres da corte portuguesa que vieram parar no Brasil, em 1808, havia um farsante que se anunciava herdeiro de um riquíssimo vigário de Portugal. Por conta da futura herança, o sujeitinho morava, comia e bebia à tripa forra, anunciando que tudo pagaria assim que o vigário português fosse ao encontro do Senhor. O vigarista sumiu, legando suas dívidas aos credores.
O leitor escolha aí a sua versão e eu o poupo de pelo menos outras três.
IR PRA CUCUIA
Na ilha do governador, cidade do Rio de Janeiro, fica o cemitério da Cacuia, junto à praia da Cacuia. Mas, se alguém diz que Fulano foi pra Cacuia, é mais fácil imaginar Fulano dentro de um barranco do que sob uma barraca. E que o cemitério deu nascimento à expressão ir pra cucuia ou ir pras cucuias, morrer, malograr-se.
Cucuia é uma variante popular de Cacuia. A palavra cacuia está dicionarizada como sinônima de cemitério.
DA SILVA
A expressão "da Silva" vem caindo em desuso. Significa "totalmente" e aparece depois de um adjetivo no diminutivo (doidinho da silva, branquinho da silva).
Não existe nenhuma explicação convincente para sua origem. Mas uma delas, sustentada por alguns etimólogos, é bem inventiva. Se o leitor achar que acreditar nela é mais difícil que tirar o primeiro lenço de papel da caixinha, pode esquecer.
A história da expressão teria começado com os pregões das vendedoras portuguesas de sardinhas, que assim alardeavam seu produto: "Ainda viva! Vivinha da costa!" - costa, aí, com o sentido de litoral. Como Costa e Silva, além de nomes muito comuns em Portugal, têm sentidos de certa forma opostos (litoral x selva), assim teria surgido, por contraste, a variante "vivinha da silva".
FAVAS CONTADAS
Favas contadas é uma expressão usada para designar algo fatal, inevitável. A fava é uma prima do feijão, cultivada desde os tempos pré- históricos e adorada pelos romanos.
Antigamente, as favas também eram usadas nas votações: favas brancas para o sim, favas pretas para o não. E cada votante atirava sua fava na urna. Feita a apuração com a contagem das favas, era eleito quem recebesse o maior número de favas brancas. Não adiantava mais ninguém reclamar porque já eram favas contadas. E aí era partir para o abraço e comemorar devorando os votos.
Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004
Em 1943 foi constituída a FEB - Força Expedicionária Brasileira com o objetivo de lutar na Europa, ao lado dos países aliados, na Segunda Guerra Mundial. A insígnia da FEB ficou assim: sobre um fundo amarelo, o desenho de uma cobra verde fumando um cachimbo; no alto, em letras brancas sobre um fundo azul: "BRASIL".
Pronto, aí estavam as cores da bandeira nacional. Tudo isso aparecia dentro de um octaedro com bordas vermelhas - a cor representando a guerra. O desenho foi uma resposta a um repórter do Rio de Janeiro, que disse ser mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. O réptil chegou até a ser representado pela Disney: uma cobra de capacete, soltando fumaça pelas ventas e disparando dois revólveres.
A expressão ficou, então, com o sentido de "vou botar pra quebrar", "a situação vai ficar preta".
COBRAS E LAGARTOS
Dizer cobras e lagartos de alguém é dizer coisas ofensivas a essa pessoa. Cobras aí é uma forma antiga de copias, que eram versos de escárnio para zombar de alguém. Dizer cobras era, então, satirizar, ridicularizar uma pessoa. Depois, a palavra cobras, que, com esse sentido, passou a ter a forma copias, passou a ser interpretada como o animal pelo uso popular, que acrescentou os lagartos para dar simetria à frase e também porque, desde a Bíblia, cobras e lagartos já andavam juntos. No livro dos Salmos do Antigo Testamento, aparece: "Sobre a áspide e o basilisco andarás e calcarás aos pés o leão e o dragão" (salmo XC). Áspide é uma serpente; basilisco, um lagarto. O leão e o dragão se separaram porque o segundo assinou contrato de exclusividade de imagem com São Jorge.
CONTO-DO-VIGÁRIO
Vigário veio do latim vicariu, formado de vicis, vez, mudança (daí vice). Tal como a palavra latina, vigário tem o sentido de substituto. Na terminologia eclesiástica, é o padre que substitui o pároco ou, popularmente, o próprio pároco.
Pode ser que a expressão conto-do-vigário tenha vindo daí, ou seja, é o golpe que alguém aplica fazendo-se passar por outro.
Conta-se também a história de um vigário que, em troca de dinheiro miúdo para despesas urgentes, teria confiado a uma pessoa honesta um embrulho, que, segundo ele, continha uma grande quantia em dinheiro, mas na verdade era tudo papel sem valor.
Existe ainda outra tese para a origem da expressão. Entre os nobres da corte portuguesa que vieram parar no Brasil, em 1808, havia um farsante que se anunciava herdeiro de um riquíssimo vigário de Portugal. Por conta da futura herança, o sujeitinho morava, comia e bebia à tripa forra, anunciando que tudo pagaria assim que o vigário português fosse ao encontro do Senhor. O vigarista sumiu, legando suas dívidas aos credores.
O leitor escolha aí a sua versão e eu o poupo de pelo menos outras três.
IR PRA CUCUIA
Na ilha do governador, cidade do Rio de Janeiro, fica o cemitério da Cacuia, junto à praia da Cacuia. Mas, se alguém diz que Fulano foi pra Cacuia, é mais fácil imaginar Fulano dentro de um barranco do que sob uma barraca. E que o cemitério deu nascimento à expressão ir pra cucuia ou ir pras cucuias, morrer, malograr-se.
Cucuia é uma variante popular de Cacuia. A palavra cacuia está dicionarizada como sinônima de cemitério.
DA SILVA
A expressão "da Silva" vem caindo em desuso. Significa "totalmente" e aparece depois de um adjetivo no diminutivo (doidinho da silva, branquinho da silva).
Não existe nenhuma explicação convincente para sua origem. Mas uma delas, sustentada por alguns etimólogos, é bem inventiva. Se o leitor achar que acreditar nela é mais difícil que tirar o primeiro lenço de papel da caixinha, pode esquecer.
A história da expressão teria começado com os pregões das vendedoras portuguesas de sardinhas, que assim alardeavam seu produto: "Ainda viva! Vivinha da costa!" - costa, aí, com o sentido de litoral. Como Costa e Silva, além de nomes muito comuns em Portugal, têm sentidos de certa forma opostos (litoral x selva), assim teria surgido, por contraste, a variante "vivinha da silva".
FAVAS CONTADAS
Favas contadas é uma expressão usada para designar algo fatal, inevitável. A fava é uma prima do feijão, cultivada desde os tempos pré- históricos e adorada pelos romanos.
Antigamente, as favas também eram usadas nas votações: favas brancas para o sim, favas pretas para o não. E cada votante atirava sua fava na urna. Feita a apuração com a contagem das favas, era eleito quem recebesse o maior número de favas brancas. Não adiantava mais ninguém reclamar porque já eram favas contadas. E aí era partir para o abraço e comemorar devorando os votos.
Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004
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