NÃO DAR O BRAÇO A TORCER
Não dar o braço a torcer é insistir numa opinião, não mudar de idéia. A expressão é originária dos tempos das torturas físicas da Inquisição.
BRAVO!
A palavra latina barbarus, estrangeiro, grosseiro, deu, em português, os adjetivos bárbaro e bravo, que têm os sentidos de rude e admirável. A interjeição, usada para aclamar um artista, começou a ser usada pelos italianos, que, ao final de um espetáculo de música, gritavam bravo - com o sentido de extraordinário - e o nome doautor da obra: Bravo Rossini! Bravo Verdi!
Esse sentido de notável, admirável da palavra bravo se estendeu ao uso do vocábulo bárbaro no Brasil, como em um cara bárbaro, um filme bárbaro...
BUMBA-MEU-BOI
É uma festa natalina muito popular no Nordeste brasileiro, na qual se encena a morte e o ressuscitamento de um boi. Bumba -meu-boi equivale a "bate, chifra, meu boi!". Bumba, palavra onomatopaica representativa do som de uma batida, uma pancada (sinônima de bum), pode ter vindo do quicongo (um grupo de línguas africanas) mbumba, bater.
CAIXA- PRETA
Na verdade, o avião tem duas caixas-pretas: uma para dados sobre o vôo e outra para comunicações da cabine. Ambas não são pretas. São laranja berrante para facilitar sua localização entre os destroços de uma aeronave.
A expressão começou a ser usada depois da Segunda Guerra Mundial, quando as caixas-pretas passaram a ser amplamente utilizadas. Mas antes disso o pessoal da força aérea britânica já chamava assim qualquer caixa contendo equipamento de navegação aérea complicado. A cor preta provavelmente foi escolhida para designar algo misterioso, secreto e também pela aliteração da expressão em inglês (black box).
O sentido se ampliou para designar qualquer sistema ou aparelho cujo mecanismo de funcionamento é incompreensível para o usuário.
Uma das grandes questões da humanidade é a seguinte: já que as caixas-pretas são indestrutíveis, por que os aviões não são feitos do mesmo material? Até que é possível. Só um probleminha: com o peso, o bicho não decola de jeito nenhum.
PINTAR O CANECO
Caneco pode ser uma forma variante de caneca. Mas, na expressão pintar o(s) caneco(s) - cometer desatinos -, caneco aparece com outro sentido, que é empregado regionalmente: diabo. Nesse caso veio de cão (o diabo) + a terminação diminutiva - eco. Quer dizer, pintar o caneco é mesmo fazer diabruras.
E, aqui, permita-me o leitor uma digressão e uma confidência. Aí pelos meus dez anos, cada vez que eu engendrava uma travessura, feito raro mas de boa qualidade, com efeito denso e particularmente irritante, minha mãe me chamava de "cão do diabo". Ao ostentar esse título, sentia-me como a última das crianças.
Ora, sendo o cão o melhor amigo do homem, eu me achava ainda mais vil que o próprio demônio, por eu ser a personificação de seu servil e irracional companheiro. Foram necessárias décadas para que a etimologia viesse iluminar-me e fazer-me ver o verdadeiro intento da afronta materna. É que minha mãe, pessoa muito dada a pleonasmos, na verdade proferia uma ofensa enfática em que cão e diabo se paralelizavam, um em reforço do outro. Ou seja, o cão era o diabo e vice-versa. E, assim, eu seria um supercão ou um superdiabo, não cumulativamente. A confidência era essa; a digressão acaba aqui. Adiante.
CANTO DO CISNE
O canto do cisne é o gorjeio harmonioso do cisne na hora da morte. Por extensão, passou a significar a última obra de um artista. Na mitologia grega, o cisne aparece associado a ambos os sexos. Nêmesis, a deusa da justiça distributiva e da vingança, se metamorfoseou em gansa para fugir das investidas de Zeus. A tolinha achava que com isso enganaria o deus dos deuses. Claro que Zeus, o maior banco de dados da Grécia antiga, registrou a metamorfose da amada e partiu para a sua. Zeus e sua mania de grandeza: em vez de se transformar num mero ganso, preferiu um congênere, o cisne, por ter um membro maior. * E aí, penas para que te quero, Zeus se uniu (sexualmente) a Nêmesis. Com isso, e considerada a condição não ovípara dos seres humanos, a bela Nêmesis teve que esperar alguns dias para desfazer sua metamorfose. Nêmesis, a gansa, pôs um ovo, que foi encontrado por um pastor, que o entregou a Leda, mulher de Tíndaro, rei de Esparta. Leda guardou o ovo num cesto e dele nasceram dois seres humanos, um de cada sexo: Pólux e Helena (isso mesmo, a de Tróia).
A crença de que os cisnes cantam antes de morrer já era contada por Aristóteles na sua "História dos Animais":
"Eles são musicais e cantam principalmente com a proximidade da morte; aí eles voam para o mar. Várias pessoas, navegando perto da costa da Líbia, casualmente encontraram muitos deles no mar, cantando tristes melodias, e realmente viram alguns deles morrendo."
Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário