domingo, 29 de janeiro de 2012

Norália de Mello Castro (A Chuva é Bela!)


Hoje, amanheceu com sol e algumas nuvens no céu. Dia quente e lindo. De tardinha, caiu um pé d’agua, daqueles com trovões, raios e vento. Veio do Leste e passou por minha casa na direção do Sul. Tive de desligar todas as tomadas preventivamente. Diante de tal chuva, a gente não sabe o que pode acontecer com a eletricidade. Fui então para minha janela, acompanhar a chuva que caía torrencialmente.

- Como a chuva é bela! – foi o pensamento ao vê-la cair maciamente sobre aquele tapete verde de árvores, plantas e gramas.

Os trovões e raios estavam muito distantes, lá em cima nas nuvens negras. Por toda a extensão, o verde maravilhoso. As montanhas ao longe estavam esplendorosas. As colinas mais ainda. As árvores, mais próximas de mim, se alegravam com a água que as acariciava. A chuva caia tão maciamente sobre aquele tapete verde que me esqueci dos trovões. (tenho pavor de trovões!).

- Como a chuva é bela!

Senti, por assim pensar, que estava cometendo o maior pecado mortal, me esquecendo, naquele momento, do horror que vivem na Região Serrana do Rio de Janeiro. Lá, o buraco negro incomensurável de sofrimentos: perdas, mortes, pestes chegando, milhares de pessoas sem casa,
deslizamentos, desamparo, terror e horror de mortes, doenças, fome, e toda a região – a maravilhosa região serrana – decomposta, perdida.

Há dias, o horror se instalou no nosso Pais, e eu, aqui, admirando a chuva:

- Como a chuva é bela!

A Mãe Terra dá seu alerta. Os céus clamam.
A Natureza chora.
Homens e mulheres choram.
A Mãe Terra é a nossa casa no Cosmo.

Somos parte integrante dela. Somos seus filhos e, como filhos desobedientes, estamos apanhando para aprender: a Dor se instalou lá e cá, em mim, ao lembrar-me das reportagens que tenho assistido.

O que urge e que não haja mais inundações de seres humanos, que se deixam conduzir por enxurradas das fomes, situando-se às beiras de rios e colinas, fragilizadas por lixos. Que não transitem sem abrigo ou teto, ao léu, sem saber onde e como se portarem como gente. Que a ambição desmedida não predomine nas ações para o endinheiramento acerbado. Que acariciem a Mãe Terra como filho amado e amante, não como pretensos senhores superiores as regras naturais que são ditadas pela Natureza, fazendo-a escrava de sua pseudo-sabedoria superior. Que olhem para a Mãe Terra, que nos da tanta beleza e acolhimento, como Ser que precisa de amor e respeito.

Que, como toda a Lei que rege a Natureza, somos perecíveis tambem. Que o nosso tempo se esgotara fatalmente. Mas, que chegue para todos com dignidade, não soterrados por deslizamentos provocados por atitudes desmedidas e irracionais de outros semelhantes.

- Como a chuva é bela!

Se bem recebida sob um teto/lar. E que, neste momento de Dor Maior, o amor solidário predomine nos corações e nas ações de socorro.

Que a solidariedade seja mais duradoura e que se expanda: que não seja apenas num momento de grande comoção nacional!
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A Autora é de Belo Horizonte/MG

Fonte:
Revista Varal do Brasil: Literário, sem frescuras. Edição Especial: Nosso Planeta Terra. Genebra: abril de 2011.

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